Correio Braziliense
Professor aposentado da Universidade de Brasília e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
Um novo ano e um novo governo inspiram novos sonhos e expectativas. O maior dos sonhos, o de o Brasil se tornar um país justo e soberano. Podemos até ter uma conjuntura econômica favorável, construída nos últimos anos. No entanto, não teremos o país que almejamos se não tivermos educação de qualidade para todos os jovens, alicerce de uma democracia. Avaliações nacionais e internacionais revelam uma lamentável realidade, principalmente na educação básica.
Em julho, ainda candidata, Dilma Roussef participou de debate na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Após discursar, foi feita a ela a seguinte pergunta: “Se eleita, fará o possível e o impossível para que até 2014 o piso salarial do professor de ensino básico seja de R$ 4 mil?” Ela respondeu: “Não posso fazer promessas com números, pois, se não conseguir cumprir, estarei fazendo falsas promessas. No entanto, tentarei fazer o possível e o impossível para termos o piso proposto, que acho adequado”.
Faz parte da nossa tradição candidatos a qualquer cargo eletivo prometerem lutar pela melhoria da educação. No entanto, na grande maioria das vezes, a promessa é esquecida, aparentemente por uma súbita amnésia. Mas uma esperança se esboça no horizonte. Em recente pronunciamento, o ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Fernando Hadadd, afirmou “que o salário do professor será prioridade no governo Dilma. O Plano Nacional de Educação prevê uma mesa de negociação permanente sobre o piso salarial” (atualmente de R$ 1.025). A intenção soa como música para as pessoas que acreditam que a valorização do professor é pré-requisito para a conquista de uma educação de qualidade. O piso de R$ 4 mil sugerido para 2014 deve ter ajustes na próxima década para que no ano 2022 os salários dos professores do ensino básico estejam na faixa superior dos servidores públicos.
Paralelamente à valorização, a formação dos professores deve ser revista e adequada aos avanços tecnológicos, ao mundo moderno e aos jovens de hoje. Uma nova carreira docente deve ser estruturada, baseada no desempenho e no mérito. Em novembro de 2009 foi lançado na Universidade de Brasília o Movimento SBPC: Pacto pela educação, que congregam, além do segmento acadêmico, entidades estudantis, sindicalistas, empresariais e organizações sociais. Esse movimento propõe ações em outras dimensões importantes, para que os jovens brasileiros possam ter educação digna, que lhes permitam compreender melhor o mundo em que vivem, e sejam preparados para exercer uma profissão digna, que respeite o anseio individual.
Entre essas dimensões estão elencadas uma atualização de conteúdo nos diferentes níveis da educação: primeira infância e ensino infantil, fundamental, médio, profissional e superior. Os métodos pedagógicos devem ser revistos com a utilização das tecnologias contemporâneas de informação e comunicação. É também de fundamental importância a arquitetura escolar, proporcionando ambiente adequado para o processo cognitivo. Em adição, uma gestão escolar eficiente e profissional deve ser perseguida. A integração da escola com a sociedade, principalmente com os pais, é também fundamental.
Esse é o desafio da presidente Dilma Rousseff e do ministro Fernando Hadadd. Confiamos nos dois, lembrando os pensamentos de Carlos Drummond de Andrade: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente”.
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