Veja
Duas hipóteses benignas, existentes desde que a mente humana tomou forma, conduzem a um enigma. sempre que ocorrem desastres naturais como o que assolou a Região Serrana do Rio de Janeiro. A primeira
hipótese é a de que Deus existe. A segunda, mais benigna ainda, a de que Deus, Ser Superior que é, só pode ser dotado dos mesmos atributos de delicadeza, generosidade e correção que, somados, resultam naquilo
que os homens entendem por "bondade". Se Deus existe, e se é bom, como explicar castigo como o infligido a Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, ou antes ao Haiti, ou antes do Haiti à costa asiática dos
tsunarnis, ou muito antes ainda a Lisboa. por ocasião do devastador terremoto de 1755?
Ainda no caso de Sodoma e Gomorra, vá lá, a Bíblia explica direitinho.
Eram cidades habitadas por pecadores: logo, mereceram o castigo. Mas, no grosso das ocorrências, como explicar que sejam atingidos igualmente inocentes e culpados, virtuosos e pecadores? Voltaire, um dos vários filósofos do século XVIII impressionados com o terremoto de Lisboa, escreveu, refutando as teses ,de vingança divina: "Lisboa, que não existe mais, teria mais vícios / Que Londres ou Paris, mergulhadas nas delícias? / Lisboa está em ruínas, enquanto se dança em Paris".
Difícil, para quem busca respostas além das pedestres questões climáticas e geológicas, ou das repisadas causas políticas e sociais, atinar com uma razão para as catástrofes da natureza. No caso presente, porém, bem consultadas as estrelas e bem analisados os rastros dos pássaros, a resposta é clara: a catástrofe veio para nos lembrar de quem somos. Existem países em que casas despencam morro abaixo e países em que isso não acontece. Países em que bairros inteiros desaparecem sob a lama e países em que isso não acontece.
Países em "que pessoas se aboletam em áreas de risco porque não têm alternativa e países em que isso não acontece. Nós pertencemos à classe de países em que casas despencam morro abaixo, bairros desaparecem sob a lama e pessoas se aboletam em áreas de risco porque não têm alternativa.
Avisos do céu são desferidos em pontualíssimos momentos. O maior desastre natural da história do Brasil deu-se na hora mesma em que se encerrava o mais enfatuado governo da história do Brasil. As porras da
prosperidade haviam sido escancaradas. A pobreza dera lugar aos prazeres do consumo. O presidente dispensara lições de governar que humilhavam todos os antecessores. O aviso "veio nos recolocar em nosso
lugar. Ou seja, o 73°, na última medição do Índice de Desenvolvimento Humano, atrás de pobretões da Europa do Leste como a Romênia, a-Sérvia e a Bulgária da família Rousseff, assim como, na vizinhança, do Chile, da Argentina, do Uruguai, do México, da Costa Rica e ate do Peru.
Sorte nossa que na apuração do IDH, além do PIE per capim, da escolaridade e da expectativa de vida, não entra o critério das casas que desabam dos morros: Se assim fosse, pior ainda seria nossa situação. A jactância ignorante e indigente do governo findo teve, nestes anos todos, o reforço externo do estratagema que, em pane por esperteza de especuladores internacionais, passou a chamar de "emergentes" os países que antes eram no máximo "em desenvolvimento", e a criar o grupo de quase potências identificado pela sigla Bric. Tal moda é fraudulenta. Ela sugere que um país possa ascender à primeira divisão sem levar junto a população. Na semana passada, foi apresentado como cúpula entre as duas maiores potências mundiais o
encontro entre os presidentes dos Estados Unidos e da China. Não. A China é apenas a segunda economia do mundo, nada mais do que isso. E a economia bruta é um pobre critério para medir o desenvolvimento dos
povos. Em IDH, critério melhor, a China vem em 89° lugar, atrás até do Brasil. Os EUA vêm em quarto. Cúpula entre eles por enquanto ainda equivale a um Flurninense x Olaria. Pelo menos, a China já alcançou a
compreensão de que não vai adiante sem trazer seu povo, e investe pesado nele. No último Pisa. a avaliação do estado da educação mundo afora, os estudantes chineses obtiveram o primeiro lugar em todas as três áreas consideradas - leitura, matemática e ciência. Já os brasileiros, entre os 65 países pesquisados, estão na rabeira nas três - 53° lugar em leitura, 57° em matemática e 53° em ciências. Os desígnios divinos que, ao longo dos séculos, se procuram decifrar, quando se desencadeia a fúria dos elementos, no caso da Serra
Fluminense são bastante claros porque não há neles nada de divino. As responsabilidades pela catástrofe se situam aqui embaixo mesmo.
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