Celso Ming
O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff está tentando passar para a opinião pública a imagem de que é gerente competente dos interesses do Estado.
É aparentemente por onde pretende obter sucesso como sucessora do presidente Lula, que fechou seu governo com mais de 80% de aprovação popular.
Em nenhum momento Lula pretendeu consagrar-se como administrador eficiente. Em oito anos de governo, seu forte foi a condução do jogo político e a comunicação direta com o eleitor, própria de líderes de tipo carismático. Para usar um tanto simplistamente as classificações de Max Weber, a demonstração de eficiência é característica das conduções burocráticas de poder.
O problema é que, quando se propõe a ser reconhecida como administradora competente, a presidente Dilma expõe-se mais diretamente às graves falhas de gestão. Nos primeiros 20 dias de novo governo, a opinião pública tomou conhecimento das gritantes lambanças cometidas pelo Ministério da Educação (MEC) na condução do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde 2009 os responsáveis pelo Enem vêm sendo reprovados na sua capacidade de proporcionar serviços de seleção. Agora, que os funcionários do governo deram provas cabais de incapacidade técnica, o ministro da Educação, Fernando Haddad, pretende a contratação de especialistas do setor privado, providência que poderia ter sido tomada muito antes.
Ainda nas primeiras semanas de janeiro, por ocasião das tragédias que aconteceram na região serrana do Rio, ficou demonstrada a falta de um esquema de prevenção de catástrofes naturais no País. Também se conheceram graves irregularidades em Feira de Santana (Bahia) nas vendas de imóveis do projeto Minha Casa, Minha Vida, conduzidas e financiadas pela Caixa Econômica Federal. Em seu discurso de posse, o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, reconheceu que a máquina do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está tomada por fraudes, obra produzida por cupins humanos que ele se propõe a combater.
E as listas das irresponsabilidades e demonstrações de incompetência do setor público vão se acumulando diariamente nas denúncias dos jornais. É o que acontece nos portos, nos aeroportos, na manutenção das rodovias.
Mesmo em setores em que o governo é reconhecidamente competente, como na Receita Federal - e como sabe essa gente arrecadar impostos! -, graves violações de sigilo fiscal têm sido reveladas sem que até agora as autoridades tenham sido capazes de explicar como de fato aconteceram e como serão a partir de agora evitadas.
Essas manifestações de incapacidade administrativa são somente a ponta do iceberg que aflora acima da linha d"água. Esta não é uma característica apenas brasileira, mas por aqui é doença endêmica. Ressalvadas as exceções, as repartições públicas são conhecidas pela falta de comprometimento com o interesse público.
Dilma não é Lula e ela age corretamente ao procurar diferenciar seu governo do anterior. Mas, sabendo-se o que de fato é a administração pública federal, Dilma terá de se desdobrar para superar a vulnerabilidade da condição sob a qual ela mesma propõe ser avaliada.
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