segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PUNIÇÃO PARA TROTE VIOLENTO

CORREIO BRAZILIENSE


Causa constrangimento e repulsa a notícia do trote levado avante na Universidade de Brasília (UnB). Veteranos da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV) submeteram as calouras a situações humilhantes. Entre elas, obrigaram as moças a lamber linguiça vestida de camisinha lambuzada de leite condensado, em alusão à prática de sexo oral. Em torno, presentes riam e ridicularizavam as moças. Fotos da exibição entraram na internet e circularam mundo afora.

Alunas do curso, inconformadas, denunciaram a coação imposta às novatas à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. “É a permanência de gestos e posturas que colocam a mulher na situação subalterna, além de ser uma violência moral”, julgou a titular da pasta, ministra Iriny Lopes, que pediu esclarecimento à Reitoria da UnB. O diretor da FAV, Cícero Lopes da Silva, considerou o episódio “lamentável”. Segundo ele, os organizadores do ato haviam sido avisados de que a universidade não ficaria passiva se ultrapassassem os “limites aceitáveis”.

Espera-se que as palavras se transformem em ação. É inaceitável que as dependências de uma das mais importantes instituições de ensino superior do país sirvam de palco para tão degradante espetáculo. Os responsáveis pela universidade precisam tomar medidas exemplares a fim de, por um lado, punir os abusos cometidos e, por outro, inibir tentações de reprise de eventos como o da FAV. A futura elite nacional tem de lembrar-se de que as relações devem ser movidas pela civilidade, não pela barbárie.

Receber os novos colegas com brincadeiras de boas-vindas constitui tradição nos câmpus. Em tempos não muito distantes, estudantes consideravam o trote espécie de troféu. Exibir a cara pintada ou os cabelos multicoloridos era a demonstração pública de que haviam ultrapassado mais uma etapa importante na vida. A brincadeira, organizada pelos colegas veteranos, funcionava como rito de passagem.

O calouro deixava a vida tutelada para trás e ingressava na idade adulta — com os desafios de adquirir os conhecimentos e conquistar as habilidades necessárias ao exercício profissional. Terminada a cerimônia, pais e filhos andavam orgulhosos pelas ruas, numa mostra de dupla vitória. O espírito cordial que movia os discentes de então precisa voltar. A gentileza tem vez no século 21.
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