O GLOBO
Na semana que passou, dois episódios ligados à questão da dengue foram o sinal de que, tendo o país entrado na temporada de alto verão - e consequentemente de temperaturas propícias à reprodução do Aedes aegypti -, a luta contra a doença volta a entrar na ordem do dia. O primeiro aceno de que o front da guerra ao mosquito está reaberto partiu do Ministério da Saúde, ao tornar obrigatória a notificação em 24 horas dos casos graves decorrentes da contaminação e das mortes por ela provocadas. O segundo serve como preocupante advertência: em Mato Grosso, deu-se o primeiro óbito de 2011 de uma vítima da dengue. Pelo histórico de outros anos, a este registro infelizmente deverão se seguir outros em todo o país.
A decisão do Ministério da Saúde é obviamente acertada, mas vem carimbada com a marca da lentidão com que, em geral, o poder público tem partido nas sucessivas corridas contra a ação do mosquito. A comunicação compulsória das mortes por dengue se incorpora com alguns anos de atraso ao arsenal de medidas para combater o mal provocado pelo Aedes aegypti. Por definição, tais notificações são um instrumento imprescindível para evitar epidemias. Ora, o país tem enfrentado grandes surtos da doença há pelo menos uma década e meia. O caráter sazonal dessas irrupções, portanto, já justificava a adoção do sistema de informações compulsórias há alguns anos. De qualquer forma, espera-se que, com a oficialização de tal providência, o país passe a contar com um eficiente instrumento administrativo para enfrentar a doença.
Os ataques do mosquito à saúde da população brasileira são preocupantemente crescentes. Em 1996, a doença infestava 1.753 municípios e, dez anos depois, já se alastrava por quase 4 mil do total de 5.560. Hoje, seguramente o número é maior. Entre 2009 e 2010, os casos de dengue quase triplicaram no país: de acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de um milhão de pessoas foram infectadas ano passado (contra 323 mil em 2009). O registro de óbitos saltou de 298 para 592 no mesmo período. O Estado do Rio ocupa uma posição destacada neste quadro: até 16 de outubro de 2010, 18.800 casos haviam sido notificados pela Secretaria de Saúde fluminense, contra 6 mil no ano anterior.
Também no Centro-Oeste houve um significativo avanço da doença (203 mil casos em 2010 contra 70 mil no ano anterior). No Sudeste, o aumento foi de 364%. Mas foi na Região Sul que se verificou a variação mais inquietante na curva de infecção, com um aumento de quase 2.800% no número de pessoas infectadas (que pulou dos 1.450 casos registrados há dois anos para 42 mil notificações em 2010). Além dessa mudança no perfil epidemiológico da região, constataram-se no Sul os primeiros casos de infecção em municípios situados na serra. Estes dados projetam um quadro em que, para combatê-lo, cada parte - Estado e população - precisa assumir seu quinhão de responsabilidade. Aos organismos da área de Saúde e poderes públicos em geral deve-se cobrar programas efetivos de prevenção da doença e, nos casos de infecção, de atendimento às vítimas, de modo a, no mínimo, reduzir as estatísticas de morte; e à população cabe erradicar hábitos que facilitem e estimulem a proliferação do vetor (afinal, o mosquito da dengue não nasce só no quintal do vizinho). É uma luta de todos.
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