Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO
Na chuva, quase desceu pela enxurrada a revelação de que ex-governadores estaduais, vivos ou mortos, efetivos ou suplentes, não importa que nem tenham esquentado o trono, ou seus filhos e viúvas, fazem jus a invejáveis pensões por "aposentadoria", mesmo que os vivos (muito vivos) as acumulem com seus salários de parlamentares.
Entre os beneficiados, contam-se conhecidos marotos, de que não se esperava outra coisa, e políticos em quem o manto da retidão parecia assentar tão bem -vê-se agora que era só uma capa, a se tirar do armário para usar no Congresso e devolver ao cabide ao fim do dia.
A última beneficiada a vir à tona é uma senhora de 89 anos, filha de um político que governou Santa Catarina nas décadas de 1890 e 1920 e, depois, tornou-se aeroporto, ponte, avenida, time e estádio de futebol. Bem, se o benefício abrange eras tão priscas, por que não recuá-lo aos primórdios?
Eu sugeriria uma pensão aos herdeiros de Martim Corrêa de Sá, o primeiro carioca nato a governar o Rio (1602-1607) e que doou aos franciscanos o morro de Santo Antônio para a construção de seu convento, o qual está lá até hoje. Idem, aos herdeiros de Luiz Vaía Monteiro, o "Onça" (1725-1732). Em seu tempo -"no tempo do "Onça"-, políticos, militares e padres corruptos, contrabandistas de ouro e de escravos e pilantras em geral não levaram boa vida.
Benesses também para os herdeiros de Gomes Freire de Andrada, que, por 30 anos (1733-1763), governou o Rio e o Brasil, construiu o aqueduto dos Arcos e o paço e retomou para o país o atual Rio Grande do Sul. E o mesmo para os do vice-rei d. Luiz de Vasconcellos (1779-1790), que, pelo amor (platônico) de uma plebeia, aterrou um pântano e construiu um jardim, o primeiro espaço público brasileiro: o Passeio Público, na Lapa. Estes, sim, mostraram serviço.
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