domingo, 30 de janeiro de 2011

O terrorismo e a economia russa

O terrorismo é um tipo de conflito de difícil controle e antecipação no mundo, notadamente quando se inclui a questão de direitos humanos na equação. Quem pratica atos de terrorismo, via de regra, não se dobra e entrega outros ou táticas por intermédio de interrogatório clássico.

Na Rússia a questão vai um pouco mais além em função das regiões separatistas que aportam uma grande importância estratégica para a federação e, também, recebem algum tipo de "auxílio" de outras potências levando o tema para além da questão de liberdade e de igualdades.

De toda forma é um tema que deve ser sempre acompanhado por qualquer sociedade organizada.





Novo atentado em Moscou coloca em xeque a política de combate ao terrorismo de Dmitri Medvedev – e pode afastar investidores internacionais

Na segunda-feira, 24, a capital da Rússia, Moscou, foi novamente atingida por um ataque terrorista. O local escolhido dessa vez foi o aeroporto Domodedovo, que fica a 22 quilômetros de Moscou e serve como principal porta de entrada para a cidade. A explosão matou pelo menos 35 pessoas, incluindo oito estrangeiros, e deixou outras 170 feridas, dezenas em estado grave. O atentado, ocorrido às vésperas da participação do presidente Dmitri Medvedev no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, levantou suspeitas sobre a capacidade do governo russo de mostrar aos investidores estrangeiros que é um país seguro. Em sua fala no encontro, Medvedev buscou sublinhar que a segurança será reforçada e listou várias razões para mostrar que o país representa ótimas oportunidades de negócio. A principal dúvida é se ele conseguirá espantar os temores internacionais – há algumas semanas a consultoria Maplecroft classificou a Rússia como o décimo lugar do mundo mais arriscado para se fazer negócios no mundo.

“Os investidores sabem dos riscos, mas vão continuar colocando seu dinheiro na Rússia”, diz Cliff Kupchan, analista do Eurasia Group. “Eles só darão as costas para o país se locais com concentração de estrangeiros, como aeroportos, voltarem a ser atacados. Aí sim a Rússia terá problemas”. Segundo Kupchan, o presidente Dmitri Medvedev deve agora agir em três frentes para evitar a desconfiança dos investidores: conduzir de maneira transparente as investigações do atentado, adotar fortes medidas para minimizar os problemas econômicos da região do Cáucaso, como o desemprego e a pobreza, e reforçar a segurança, sobretudo nos aeroportos.

O ataque no aeroporto Domodedovo, o maior em termos de tráfego de passageiros da Rússia, colocou em xeque a credibilidade da política de combate ao terrorismo adotada pelo governo. As cenas de corpos espalhados pela área de desembarque internacional fizeram os russos reviver as lembranças dos atentados suicidas que deixaram 39 mortos em duas estações do metrô de Moscou nove meses atrás – e mostraram que o dinheiro injetado nas regiões conflituosas nos últimos anos para diminuir as desigualdades sociais não foi suficiente. É preciso mudar também as estratégias de policiamento. “A cada ataque surgem novas ações para reforçar a segurança na Rússia, mas elas são aplicadas rigorosamente somente por alguns meses”, diz Pavel K. Baev, professor pesquisador do International Peace Research. Logo após o atentado, o governo decidiu intensificar as revistas em todos os aeroportos do país, o que causou enormes filas. Medvedev também acusou as autoridades de Domodedovo pela falha na segurança e demitiu o chefe da polícia de transporte de grande parte da Rússia ocidental, Andrei Alexeyev, por causa do relaxamento nas medidas de segurança.

Essa foi a primeira vez que terroristas atingiram um aeroporto russo. Segundo especialistas, a escolha da área de desembarque internacional para detonar a bomba foi estratégica. Não só porque fez vítimas de outros países, mas também porque ocorreu num local que está frequentemente livre de policiamento. “É difícil dizer que o atentado ocorreu por causa de uma falha na segurança”, afirma Lev Koshlyakov, vice-diretor geral da empresa aérea russa Aeroflot, a maior do país e com 49% de capital estatal. “Os terroristas agiram numa área sem barreiras de segurança. Eles poderiam ter atacado qualquer lugar público, como um supermercado ou um cinema.”

Até a tarde de sexta-feira (28), nenhum grupo havia assumido a responsabilidade pelo ataque. Como de costume, coube ao primeiro-ministro Vladimir Putin a tarefa de acalmar a população com uma retórica batida. “Não tenho dúvidas de que os responsáveis serão descobertos. A represália é inevitável”, disse. Ele também afirmou que os tchetechenos, provavelmente, não são os responsáveis pela ação, gerando especulações de que os autores do atentado seriam de outra região do Cáucaso, como Inguchétia e Daguestão, onde há insurgentes islâmicos. A reação da população depois do ataque mostra que os russos estão se acostumando com o terrorismo – o aeroporto continuou a funcionar normalmente após a explosão da bomba. “Isso significa que o governo não está sob pressão para encontrar uma solução para o problema, algo percebido como impossível”, diz o professor Pavel K. Baev. Resta saber se os investidores internacionais vão se comportar assim se um novo atentado contra estrangeiros acontecer.



Linha do Tempo
Outros atentados - Ataques que marcaram a história recente da Rússia 
Setembro de 1999
Dois ataques a bomba em edifícios residenciais em Moscou deixam 255 mortos e 700 feridos, o pior atentado terrorista da capital. A ação é atribuída a extremistas muçulmanos do norte do Cáucaso 

Outubro de 2002 
Cerca de 40 rebeldes tchetchenos atacam um teatro na rua Dubrovka, em Moscou, e fazem mais de 700 reféns. Após quatro dias de impasse, forças especiais russas invadem o local usando um gás. Os terroristas e 130 reféns morrem, quase todos intoxicados pelo gás 

Um carro-bomba estacionado perto de uma lanchonete do McDonald's, em Moscou, mata uma pessoa e fere oito 

Julho de 2003 
Duas suicidas tchetchenas matam 16 pessoas e ferem cerca de 60 durante um festival de rock a céu aberto em Tushino, Moscou 

Dezembro de 2003 
Um suicida detona uma bomba em frente ao Hotel Nacional, nos arredores do Kremlin e a cerca de 50 metros da Duma (câmara baixa do Parlamento); seis pessoas morrem e 14 ficam feridas 

Fevereiro de 2004 
A explosão de uma bomba em um dos vagões do metrô de Moscou, a cerca de 300 metros da estação Paveletskaya, mata 41 pessoas e fere cerca de 250 

Agosto de 2004 
Duas tchetchenas detonam explosivos quase ao mesmo tempo em dois aviões em pleno voo: um cai em Tula; o outro, em Rostov-on-Don. Morrem 90 pessoas. Elas partiram do aeroporto Domodedovo. Investigações realizadas na época do atentado concluíram que as mulheres conseguiram passar pela segurança e embarcar sem mostrar identificação após subornarem funcionários 

Uma bomba explode na entrada da estação de metrô Rizhskaya, em Moscou, deixando 9 mortos e 51 feridos. Um grupo fundamentalista denominado Brigadas de Al Islambouli assume a autoria do atentado 

Setembro de 2004 
Um grupo de 35 terroristas tchetchenos, entre eles algumas mulheres, invade uma escola em Beslan, na província separatista da Ossétia do Norte; o confronto com a polícia deixa 335 mortos, dos quais 156 crianças 

Agosto de 2006 
Uma bomba mata 14 e fere 61 pessoas num mercado em Cherkizovo, no subúrbio de Moscou. Realizado por extremistas nacionalistas russos, o ataque tinha como alvo imigrantes que trabalhavam no local 

Março de 2010 
Duas mulheres-bomba detonam explosivos nas estações de metrô de Lubyanka e Park Kultury, em Moscou, matando 39 pessoas e deixando outras 90 feridas. O grupo terrorista islâmico Emirado do Cáucaso reivindica o ataque 

Entrevista
Papo rápido 
Pavel K. Baev, professor pesquisador do International Peace Research e especialista na questão do Cáucaso 

Qual é o nível de segurança dos aeroportos russos? 
Esta é a primeira vez que um aeroporto na Rússia é atingido por terroristas. As medidas de segurança até então adotadas tinham como objetivo impedir atentados em aviões. O acesso à área de desembarque internacional do Aeroporto de Domodedovo, assim como nos demais aeroportos da Europa, é livre de controle. 

O ataque provocará mudanças significativas na política de segurança dos aeroportos russos? 
Certamente. Todo ataque terrorista traz novas medidas de segurança, mas, tipicamente, elas são aplicadas na Rússia com rigor somente por alguns meses. Em seguida, já ocorre um relaxamento. 

Qual é o significado do ataque? 
O ataque foi muito simples, diferentemente das ações terroristas praticadas no passado no país, em que o planejamento e a sofisticação eram visíveis. Eles escolheram um alvo simples, não sincronizaram o ataque com outra ação e não usaram um superexplosivo. É difícil entender a mensagem dos terroristas, mas eles estão conseguindo provar novamente que o governo russo não oferece estabilidade e segurança para a população. 

Por que o ataque aconteceu? 
Muito provavelmente o ataque foi causado pela guerra civil na região do Norte do Cáucaso. É um fenômeno complexo, e os rebeldes não têm uma estrutura unificada e quartéis-generais para coordenar redes variadas. De fato, a instabilidade na Tchetchênia é resultado de diferentes fatores. Lá, uma nova geração de rebeldes tem se formado e seu principal alvo é o regime brutal de Ramzan Kadyrov. No Daguestão, aliás, não é possível distinguir as guerras entre clãs corruptos de ataques terroristas. O descontentamento local, que toma a forma do radicalismo islâmico, é resultado da corrupção das autoridades. A minha leitura da situação é que a rede do Daguestão está por trás do ataque no aeroporto de Moscou, onde o máximo de ressonância é garantido. 

O ataque pode ser classificado como uma provocação para aumentar as tensões políticas e étnicas no país?
Questões étnico-políticas na Rússia, e em Moscou em particular, têm estado muito claramente em alta. É certo que o ataque vai agravar a situação. Eu não acho que o atentado seja uma provocação com o objetivo de aumentar a violência étnica, mas é uma prova de que as autoridades russas não possuem uma estratégia eficiente para estabilizar o Norte do Cáucaso. O crescimento da tensão trabalha contra a estratégia de modernização do presidente Dmitri Medvedev – incoerente como só ela.
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