domingo, 30 de janeiro de 2011

Direitos e liberdade


O mesmo se aplica à recriminação de adeptos de certos cultos religiosos. Neste caso situavam-se o umbandismo e o candomblé, que chegaram a ser havidos como sinônimos de macumba. "Pais de santo" fumando charutos, "pombas giras" rodopiando pelos terreiros, ora se propunham a eliminar males espirituais dos fieis, ora se propunham a colocá-los nos inimigos desses mesmos fieis. Nestas condições, havia liberdade de recriminar o umbandismo e o candomblé, o que, se muito, apenas desagradava seus adeptos.

Nem o espiritismo estava totalmente isento de severas críticas e denúncias de mistificações. Hoje em dia, dizem, separa-se o joio do trigo. Uma coisa é o umbandismo dos Orixás do bem, outra, completamente diferente, é o umbandismo dos Exus do mal. Uma coisa é o espiritismo de Alan Kardec e Chico Xavier, outra, completamente diferente, é o baixo espiritismo praticado por espertalhões e enganadores. Muito recentemente, diante de declarações do apresentador de televisão José Luiz Datena, o Ministério Público Federal, considando-as ofensivas aos ateus, exigiu respeito ao direito dos céticos não acreditarem na existência de Deus.

Uma vez reconhecido o direito de alguém declarar-se umbandista, ou espirita, sem sofrer discriminação, quem for contra deverá sempre ressalvar não ser contra o bom umbandismo, ou o bom espiritismo, porém, contra as más práticas desses credos relligiosos. Obviamente, assim também se daria com o bom e o mau comportamento homossexual. Aqui, porém, volta-se à estaca zero: como estabelecer o que é bom e o que é mau nessas crenças e opções ? O que é bom na minha opinião, pode ser mau em outra.

Direito e liberdade são dois institutos fundamentais dos seres humanos, que andam de mãos dadas. Para ter direitos, é preciso ter liberdade. Porém, como ter liberdade, se os direitos, a cada dia que passa, diminuem os seus  limites ? Esta é uma questão delicada de resolver, mas, para causar algum alívio, pode-se afirmar que ambos, sobrevivendo juntos, quando um novo direito provoca a abolição de uma liberdade, em compensação, acaba criando outra.

Então, o que isso quer dizer ? Quer dizer que estamos dentro de um círculo vicioso, o qual, no decorrer dos tempos, aumenta ou diminui de tamanho, mas, nunca se extingue, ora fazendo prevalecer um dos seus efeitos, ora outro, sempre de acordo com as vontades dominantes, sejam elas de homossexuais, umbandistas, espiritas, ou ateus. 

Dessa conclusão, é possível formular um intrincado raciocínio, daqueles de dar nó na cabeça. O ateu passou a ter o direito de não ser marginalizado por duvidar da existência de Deus. Em decorrência, suprimiu-se a liberdade dos não-ateus de se referirem, impunemente, aos ateus, como desalmados, discípulos do diabo e coisas do gênero. Porém, os mesmos não-ateus e terceiros, se, num dado momento da vida, decidirem rever suas crenças, passaram a ter a liberdade de optar pelo direito de desacreditar em Deus, tornando-se, portanto, ateus, sem sofrerem ataques mais contundentes.

É ou não é de tirar o sono dos mais refinados pensadores ? No dia em que esse complicado "mecanismo" for aplicado às paixões futebolísticas, vai ser uma interminável batalha jurídico-legal entre as torcidas dos bambis, gambás, porcos, urubus, pós-de-arroz e assemelhados !
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