quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

MUNDO PEQUENO

FOLHA DE S. PAULO


Retomada nos EUA levanta dúvidas sobre capacidade global de sustentar expansão simultânea das economias desenvolvidas e emergentes 

Uma dos efeitos da crise financeira de 2008 foi adiar problemas relativos às duas principais ameaças para a continuidade da expansão da economia internacional no médio prazo: as pressões inflacionárias crescentes e a crônica escassez de recursos naturais.

Nos últimos dois anos, falou-se muito em deflação global porque os países desenvolvidos enfrentaram uma profunda recessão, da qual se recuperam agora, ainda em meio a dificuldades.

Nos EUA, a capacidade ociosa da indústria é significativa. Estima-se que o nível da produção esteja 5% abaixo do seu potencial -fato inédito desde os anos 1930. Daí a política monetária extremamente frouxa do Federal Reserve (o banco central americano), que cortou juros a zero e injetou vultosos recursos na economia.

Em razão da letargia do mundo desenvolvido, os países emergentes puderam estimular o crescimento em 2009 e 2010 sem maiores preocupações quanto ao controle da inflação. Havia sobra de recursos e os preços das commodities estavam muito abaixo do patamar de 2008.

China, Índia, Coreia do Sul, Brasil, Turquia e outros países importantes dessa faixa avançaram no expansionismo monetário e no aumento de gastos públicos -conseguindo, com isso, ao contrário dos ricos, manter ou retomar o crescimento com rapidez.

Essa fase de expansão cômoda parece agora chegar ao fim. E com ela vai-se encerrando também um período de acentuada diferença entre o desempenho das economias em desenvolvimento e o das desenvolvidas.

Espera-se que os EUA cresçam quase 4% neste ano e comecem a deixar para trás seus problemas de endividamento. O mesmo ocorre na Europa, onde o crescimento tem surpreendido, apesar das dificuldades de alguns países -a ponto de se falar, não sem exagero, de um "milagre alemão".

Nos emergentes a capacidade ociosa desapareceu e há evidente excesso de demanda, inclusive no mercado de trabalho. O Brasil não está só, portanto, em termos de pressões de inflação. Quase todos nesse grupo já iniciaram um ciclo de aperto monetário para conter o aquecimento de suas economias. Não se esperam, contudo, recessões. O crescimento prosseguirá, ainda que a taxas menores.

Nesse quadro, novos desequilíbrios deverão entrar em cena. Muitas das principais commodities já se aproximam de novos picos de preços. E como os EUA ainda são os maiores consumidores de petróleo, a reanimação de sua atividade industrial poderá, em breve, levar a cotação do barril a ultrapassar de novo os US$ 100. A Agência Internacional de Energia estima que a demanda global de energia crescerá 50% até 2035.

A pergunta a ser feita, portanto, é se o mundo não será pequeno para sustentar sem risco de colapso um quadro cada vez mais provável em que todos -ricos e emergentes- apresentarão crescimento contínuo.
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