ESTADO DE S. PAULO
Lideranças do setor produtivo dizem que não há ‘ingenuidade’ sobre reformas, mas que é preciso ‘dar a direção’
Raquel Landim
A resistência do governo Dilma Rousseff em promover reformas estruturais está provocando insatisfação entre os empresários. Com três semanas de governo, lideranças do setor produtivo já pedem publicamente pelas reformas tributária, trabalhista, previdenciária e política.
Na primeira reunião com os ministros, Dilma deixou claro que não vai se desgastar com grandes projetos que ficam parados no Congresso e que as reformas previdenciária e política não são prioridade. A presidente se comprometeu com a reforma tributária, que pretende enviar aos deputados "fatiada".
"Os empresários não são ingênuos em relação às reformas. Sabemos que vai demorar, mas é preciso dar a direção", disse ao Estado Pedro Passos, presidente do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) e um dos controladores da Natura . "Sinto no governo disposição e boa vontade, mas não sinto coordenação."
No setor produtivo, os primeiros dias do governo Dilma deixaram uma impressão positiva, por causa do comprometimento com o ajuste fiscal e da preocupação com os danos do câmbio para a indústria. A visão é que o diagnóstico foi "bem-feito", mas que é um "problema grave" não sinalizar com reformas.
Na semana passada, na abertura da Couromoda (maior feira de calçados do País), Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou que "o início do governo é o momento de promover reformas", referindo-se ao capital político acumulado pelos políticos nas eleições.
O empresário disse ainda que "estamos ouvindo boas coisas sobre redução de gastos", mas que, "sem resolver os problemas do câmbio e das reformas, não adianta". Skaf dividia o palco, entre outras autoridades, com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Para o cientista político Amaury de Souza, a preocupação dos empresários é justificada. Ele diz que a estratégia da presidente de não perder tempo com reformas muito abrangentes é boa, mas que a eficácia depende dos pontos que o governo vai atacar. "É preciso cuidado com medidas tópicas para não favorecer apenas alguns setores."
Na área tributária, a principal promessa de Dilma é desonerar a folha de pagamento. A medida, obviamente, recebe amplo aval do setor produtivo. Souza ressalta, porém, que a reforma tributária precisa incluir a uniformização do ICMS, o que exige penosa negociação com os Estados.
Previdência. Os empresários defendem que só a reforma tributária não é suficiente. "O Brasil não sobrevive sem uma reforma política e tem de endereçar a reforma previdenciária", disse Passos, do Iedi. Para efetivar a reforma do presidente Lula nessa área, o governo precisa aprovar um projeto de lei que cria o fundo de previdência dos funcionários públicos e que tramita no Congresso desde 2006.
Na campanha, Dilma sinalizou com uma reforma política que introduz o voto com lista fechada e prevê o financiamento público da campanha, mas não dá sinais de que vai avançar nesse caminho. "É um desastre. Se for para isso, prefiro que não se faça nada", disse Souza. Segundo ele, os contribuintes já destinam mais de R$ 1 bilhão para campanhas (R$ 800 milhões para compensar as TVs pelo horário eleitoral gratuito e R$ 260 milhões para o fundo partidário).
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