domingo, 23 de janeiro de 2011

Relato da Cruz Vermelha na região serrana. Repassando um post.

Amigos, segue uma reportagem de um blog que não conheço.

Claro está que podem existir exageros ou factóides, contudo, o risco de epidemia é altíssimo nos próximos meses. Nós temos um enorme problema cultural neste caso: Não debatemos, não disseminamos e não tornamos peças jurídicas as experiências em calamidades. O BBB 11, os campeonatos estaduais começando e o carnaval que se aproxima ajudarão, sobremaneira, a fazer com que a mídia tire esta calamidade de foco.

Também não duvido da quantidade de corpos ainda não achados devido à configuração geográfica da região e dificuldade de escoamento das águas das partes de baixo da corrente. O que fica por cima escoa livre e o pesado, dentre eles corpos e outros objetos, vão ao fundo, sedimentam e são soterrados.

Catei na internet artigos científicos acerca dessas calamidades e encontrei pouca coisa. Eventos iguais ao Katrina, ao Tsunami e Haiti existem em milhares nos EUA e Comunidade Européia. Como comemora-se termos um grande número de trabalhos científicos publicados, há quem lembre que são em áreas de baixo retorno ao mercado e à sociedade, dentre eles filosofia, pedagogia, psicologia, RH, etc etc etc. Já postei neste blog, inclusive, uma crítica a este respeito e o ex-ministro Goldemberg falou a mesma coisa no Roda Viva uma vez.

Enfim, a essência do que está colocado abaixo é que é importante e não os juízos de valor.
Estou repassando aos amigos pois já tive contato com este tipo de calamidade ao longo da carreira e, como já disse, já estudei o Katrina e o Haiti (estive neste país em visita, inclusive) durante o meu mestrado em Seg e Defesa, que contempla esta matéria (a propósito, um dos motivos de não tentar doutorado nesta área é porque ela não existe no Brasil - as calamidades atuais talvez façam alguma autoridade refletir acerca dessa pertinência).

________________
Anthonio, Thais e turma do MM:






Houve hoje uma reunião a portas fechadas já no final desta noite com um membro muito importante da Cruz Vermelha Brasileira (CVB) cujo nome não vou revelar. Ele já trabalha há mais de trinta e três anos em todos os tipos de catástrofes em todas as partes do mundo incluindo a guerra da Bósnia, o terremoto do Haiti, etc. É ele que coordena as atividades da CVB brasileira nestes locais e também da CVB internacional. Para vocês terem uma idéia, ele havia voltado de uma extenuante viagem de 22 horas desde a Rodésia só para estar ali conosco e avaliar a situação na região serrana. Ele disse que nós não tínhamos noção da catástrofe que havia ocorrido:

"Vocês nunca tiveram oportunidade de testemunhar catástrofes mundiais e por isso é natural que sejam incapazes de avaliar a extensão dos danos aqui ocorridos. Devido a décadas de experiência de campo e de levantamento de áreas de desastre, posso seguramente, afirmar que somente aqui no município de Teresópolis o número de mortos soterrados de longe ultrapassa a casa dos 6.000. Na região serrana ao todo o número de mortos deve facilmente chegar a mais de 12.000 pessoas.

No Brasil, vocês nunca lidaram com catástrofes naturais de grandes dimensões, daí a falta de preparo e de noção do que realmente se passa. Pelo quadro vigente no Haiti, vocês podem contabilizar as milhares de pessoas que já morreram de febre tifóide. Não importa se sejam os brancos loiros de olhos azuis da Bósnia-Herzegovina ou os negros suados do Haiti ou os habitantes de Teresópolis. Todos os corpos que necropsio fedem e estão imundos. Morto não tem raça, ou status social. Todos os corpos apodrecem e se decompõem. São mais de 6.000 corpos nos leitos dos rios, nos mananciais e nas suas margens, enterrados a vários metros de profundidade.

Haverá inúmeras epidemias daqui há algumas semanas surgindo primeiramente de forma discreta e depois se alastrando pelas cidades supridas por essas águas. A falta de experiência do Brasil e dos brasileiros em termos de dimensões de catástrofes levam a estas estimativas ingênuas do que realmente aconteceu. Em qualquer outro país civilizado, o procedimento correto seria o de declarar lei marcial e exigir intervenção federal nesta situação. A própria viabilidade e existência destas cidades será posta à prova nos meses que virão na medida em que a população começar a adoecer.

Quanto ao prefeito da cidade, ele é um bandido, um crápula, que precisa ser acionado judicialmente, preso e condenado por crime contra a humanidade. Há dezenas de equipes especiais de resgate aqui conosco como as de Santa Catarina, Santos e São Paulo e a prefeitura se recusa a usar os seus profissionais para as missões de resgate.

A CVB é um órgão de assistência emergencial e vocês já passaram da fase de emergência e estão exercendo um papel assistencial. Isto não é de competência da CVB. O prefeito de Teresópolis desacatou a CVB e por conta disso, ao desacatar a autoridade da CVB cometeu um ato infracional. O seu prefeito deve ser preso por crime contra a humanidade. Muitas pessoas ainda irão morrer nos próximos meses devido as doenças que irão se disseminar.

Entendam que a CVB está sendo utilizada como manobra política e a isso não nos subteremos. Estou declarando que a partir de hoje se dão por encerradas as atividades da Cruz Vermelha em Teresópolis. Todos os mantimentos, água e remédios deverão ser doados à população carente desde que comprovem a baixa renda. Não tenham tanta certeza de que oacidente de helicóptero que acometeu o chefe da CVB de Teresópolis tenha sido um mero acidente. Não podemos ter garantia de nada. Portanto declaro encerrado as atividades da CVB de Teresópolis a partir de agora. Sabemos do espírito altruísta de todos os senhores mas como dizemos no meio militar - "Excesso de vibração mata". Peço que interrompam as suas atividades a partir de hoje pois dezenas de órgãos governamentais por trás de vocês estão ganhando verbas assistencias de milhões de reais para não realizarem o trabalho que vocês estão fazendo voluntariamente de graça.

O prefeito desta cidade deve receber prisão civil por ato infracional e será apenas uma questão de poucos meses para que as cidades das regiões serranas se tornem regiões doentes caso não seja coordenado um esforço conjunto sério para a remoção destes milhares de cadáveres se decompondo nos rios que suprem estas cidades".

Fonte: http://minhamestria.blogspot.com/2011/01/dimensao-real-da-catastrofe-de.html#main
Quem quiser entrar no site,, basta clicar e ler tudo...

Continuação...

Aqui vai mais outra. Ontem de noite, um amigo de meu Pai, que nós chamamos carinhosamente de Pereira, natural daqui de Teresópolis e que trabalha como ouvidor da prefeitura, recebeu inúmeros relatos de que muitos habitantes só sobreviveram devido a um estrondo muito forte e de um tremor de terra moderado, forte o suficiente para acordá-las e fazer com que elas saíssem correndo de casa debaixo de um temporal com as roupas do corpo. Em muitos locais escutou-se um estrondo muito forte. Isso imediatamente me lembrou dos relatos de minha avó, que era japonesa e morava em uma área de intensa atividade sísmica. Ela sempre me falava dos animais domésticos que se agitavam e de segundos depois escutar um estrondo forte que começava logo antes da terra começar a tremer. Quanto às imagens de destruição pelas águas tão mostrada pela mídia em Teresópolis no bairro de Campo Grande, o que as pessoas ainda não sabem é que toda a água fornecida naquela região era paga a uma concessionária particular, a Parâmetro Empresa Imobiliária.

O bairro de Campo Grande é como uma bacia cortada por um pequeno rio e com casas que o margeiam em seus flancos até o alto das montanhas. Subindo ainda mais existem duas represas, uma da CEDAE e outra denominada represa do Inconha. A represa do Inconha é que pertence a Parâmetro Imobiliária. Esta represa em determinados pontos chega a ter 40m de profundidade pois ela se aproveita da topografia dos grotôes que vão se estreitando à medida que se chega próximo aos cumes. Lembro a todos que as montanhas são muito íngremes nesta região e que as altitudes nesta parte da serra dos órgãos chega a ultrapassar 2000 metros de altitude em vários pontos, o que dá ao fluxo de água uma tremenda energia potencial. O que ninguém ainda relatou é que esta represa do Inconha com milhares de toneladas de água se rompeu e ficou totalmente destruída. Esta represa ficava num local de difícil acesso já sem casas ou quaisquer habitações, por isso poucas pessoas tem conhecimento dela. A represa da CEDAE entretanto não rompeu.

Outrossim, dois geólogos especialistas vieram de Brasília ontem para levantar através da análise dos padrões de deslizamento, topografia do local, faixa de área atingida, etc a possibilidade de uma possível atividade sísmica estar implicada como um fator adjuvante junto às fortes chuvas na gênese dos deslizamentos. Há sim, relatos locais de que a chuva foi muito intensa como jamais havia sido testemunhado por alguns moradores. Portanto, acredito que tenha havido umaconjunção de fatores. Eu sei que existe uma área denominada hidrosismologia que estuda a relação entre abalos sísmicos e a preciptação de chuvas intensas nos dias anteriores. Mas observem bem, até a catástrofe, Teresópolis vinha registrando nos dias e semanas anteriores um regime de chuvas absolutamente normal para época, talvez um pouco acima da média, mas nada que justificasse atividade hidrosísmica. Outros também podem argumentar que o estrondo seria causado pelas pedras rolando dos locais de deslizamento. Se isso fosse de fato o que aconteceu a velocidade dos acontecimentos seria tão alta que as pessoas teriam somente alguns segundos para escapar pois a chuva pesada e a mata densa amortecem muito o som, além do fato das pessoas estarem dormindo. Por mais que uma pedra de 20 toneladas rolasse de um penhasco, isso não justifica o tremor moderado que as pessoas sentiram em diversos pontos da região afastados mesmo dos locais de deslizamento.

Devo destacar também que muitas pessoas sentiram pequenos tremores nos dias que antecederam ao grande evento. Outra coisa que diversas pessoas me relataram foi a quantidade espantosa de relâmpagos que ocorreram mesmo antes da tempestade se intensificar. Curioso, decidi pesquisar alguma relação entre relâmpagos e atividades sísmicas e pelo que entendi, pequenos abalos sísmicos contínuos em uma região geram pulsos de energia eletromagnética que ionizam a atmosfera em suas camadas mais altas e que estavam pensando em utilizar este efeito de ionização para prever terremotos*.Lembram que no Chile e no Peru diversos relâmpagos apareceram antes, durante e após os abalos sísmicos? Podem verificar isso na Internet.

Uma coisa é certa, chuva não rompe represa com estruturas firmemente apoiadas em rocha cristalina. Fiquei muito, mas muito impressionado com a avaliação contundente, profundamente segura e objetiva deste grande especialista da Cruz Vermelha em catástrofes e sobre as reais dimensões que ele nos ofereceu do que realmente aconteceu. Seu filho era também resgatista da Cruz Vermelha, tinha 20 anos de idade e morreu no ano passado em uma missão de resgate no exterior. Foi ele mesmo quem achou o corpo do filho boiando no mar cinco dias depois, e foi ele mesmo quem teve que necropsiar o seu filho para ter certeza de que o corpo era mesmo dele. Ele chorou muito ao nos relatar o ocorrido e todos nós também choramos e ficamos muito comovidos. Ele falou que era um crime humanitário e sanitário não retirarmos os corpos das pessoas soterradas, pois para cada pessoa que morre e não é mais encontrada debaixo da lama, morre também uma família em cima dela. Bairros inteiros desapareceram, e segundo suas estimativas, somente em Teresópolis, no mínimo mais de 6.000 vítimas estão sepultadas debaixo de metros de lama e entulho e um grande desastre sanitário está apenas começando...

Martius de Oliveira
http://minhamestria.blogspot.com/
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps