Valor Econômico
A recuperação da economia americana ganhou força, a crise dos países muito endividados da zona do euro está sendo contida e os países emergentes estão crescendo a grande velocidade. Como resultado, avalia o Fundo Monetário Internacional em um documento relativamente otimista, a economia mundial deverá avançar um pouco mais do que o previsto e chegar a 4,5% em 2011. Mas há riscos suficientes no horizonte em todos os quadrantes, em um cenário em que o fantasma da inflação assola sua parte mais dinâmica, o mundo emergente.
O que mudou nos últimos meses foi o impulso dado à economia americana por mais relaxamento monetário, mais um pacote fiscal, que prorrogou o corte de impostos, o aumento da confiança dos consumidores, apesar de um persistente e alto desemprego, e o aumento dos gastos de investimentos das empresas americanas. A reativação deveria empurrar a taxa de juros para cima, mas a política do Federal Reserve Bank os manteve baixos a longo prazo para permitir que o mercado imobiliário saia da prostração - ele é o ponto mais frágil e uma das maiores fontes de incertezas da atual fase de recuperação. Segundo o FMI, a economia dos EUA deve crescer 3%, uma previsão inferior à do próprio BC americano (3,3%).
Se por um lado o pacote fiscal amarrado com os republicanos impediu que os tributos subissem em um momento delicado, por outro não ajudaram em nada as finanças públicas, que deverão chegar a um déficit de 10,75% do Produto Interno Bruto em 2011. FMI e economistas de vários matizes alertam para o fato de que os EUA seguem em frente sem um plano de médio prazo para a redução dos enormes déficits, o que pode provocar, em algum momento, a relutância dos investidores em continuar financiando o Tesouro americano, ou, o que é mais provável, exijam juros cada vez maiores para fazê-lo. O Fundo avalia, em seu relatório sobre a estabilidade financeira global, que "quanto mais a estabilização fiscal demorar, maior é a probabilidade de que os rendimentos dos títulos do Tesouro subam rapidamente", causando sérios problemas para o sistema financeiro mundial e a economia global.
Os países da zona do euro também estão pesadamente endividados, em sua maioria, e a crise da dívida das nações periféricas continuará sendo um dos maiores focos de instabilidade regional e de preocupação global, prevê o FMI. Ela está diretamente ligada à fragilidade do sistema bancário europeu, que não pode suportar perdas adicionais do porte das dívidas soberanas por eles financiadas. Entretanto, o Fundo observa com alívio que os mercados souberam discriminar o perigo durante a crise da Grécia, Irlanda, e agora de Portugal, e não houve disseminação relevante da instabilidade para os mercados globais. Embora não haja garantia alguma de que a crise não possa recrudescer e atingir a Espanha, por exemplo, o fato é que as escoras colocadas pelo Banco Central Europeu, ao adquirir títulos dos países afetados, e o escudo de proteção das linhas de crédito do fundo de estabilização têm conseguido impedir a duras penas o efeito dominó da crise. Se nada mais der errado, a zona do euro deve crescer 1,5% este ano.
Restam os países emergentes que, segundo o Fundo, sustentam hoje 40% do consumo global e dois terços do crescimento mundial. Em parte pela sua expansão acelerada, em parte pela gradual recuperação do mundo desenvolvido, eles estão tendo de enfrentar a carga combinada de forte elevação de preço das commodities, aceleração inflacionária por causa do aquecimento da demanda doméstica e uma enxurrada de capital externo à procura de boas oportunidades de rendimento.
A valorização da moeda local é mais perversa para os países da América Latina, como o Brasil, do que para os da Ásia, que não apresentam déficit em conta corrente. Dependendo das possibilidades, o FMI recomenda que a moeda se aprecie, o que ajuda no combate da inflação, que se reduza as taxas de juros, para diminuir a atratividade de capital estrangeiro, e se use medidas prudenciais para evitar bolhas de crédito. O dilema brasileiro, no caso, é cruel. A inflação se desgarrou do centro da meta, o que não recomenda aumento relevante dos juros, que atrairá mais capitais. Boa parte do mundo emergente pode apertar a política monetária porque tem taxas reais muito inferiores. E desvalorizar o real cobrará um razoável custo inflacionário.
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