sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Trabalho aquecido


Celso Ming 
O Estado de S.Paulo 

Se havia em novembro uma situação virtual de pleno emprego no Brasil, em dezembro ela foi reforçada. Como indicam os números do IBGE, o nível de desemprego caiu de 5,7% em novembro para 5,3% em 
dezembro, magnitude nunca antes observada.

Antes de prosseguir, convém eliminar eventuais dúvidas sobre o significado do pleno emprego. Não 
se pode vê-lo apenas como aquecimento excessivo do mercado de trabalho. O pleno emprego é 
condição fortemente desejada pelos administradores da economia. Pode-se dizer até que o principal objetivo da Política Econômica é criar empregos e boa qualidade de vida para a população em condições sustentáveis no longo prazo. Assim, se não dá para evitar um problema com que lidar, é melhor a situação de pleno emprego do que a de desemprego.

Essa é uma condição paradoxal do Brasil quando comparada com o que acontece no mundo rico. Lá a 
atividade econômica está em franca recuperação e, no entanto, o emprego de pessoal não consegue 
reagir. Tudo se passa nos Estados Unidos, como se o empresário tivesse descoberto nos dois últimos 
anos de crise que pode aumentar a produção de sua empresa sem ter de contratar mais gente. Basta para 
isso que invista alguma coisa mais em Tecnologia de Informação (controle eletrônico de estoques, 
controles online e internet).

Aqui no Brasil, a escassez de mão de obra permeia hoje toda a atividade econômica. Ontem, o gerente de Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo, observou que não se pode aceitar sem questionamento o diagnóstico de pleno emprego, porque há as diferenças regionais. Ou seja, a falta da mão de obra que se vê no Sudeste não é a mesma do Nordeste. Mas esse critério não pode servir de base prática de análise. Não se eliminarão tão cedo no Brasil as diferenças entre as regiões. E, no entanto, as consequências econômicas do aquecimento excessivo do mercado de trabalho estão aí.

Para medir esse efeito, mais relevantes do que essas diferenças, é preciso levar em conta as necessidades setoriais. Onde a atividade econômica é importante no Brasil há hoje uma forte escassez de mão de obra, tanto de alta como de qualificação relativamente mais baixa. Falta engenheiro, piloto de avião, mecânico, mestre de obras, soldador, pedreiro, eletricista, pintor e, até mesmo, babá e empregada doméstica.

Na ata da última reunião do Copom ontem divulgada, o Banco Central fez referência à "estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente, de mão de obra". E advertiu que essa situação conduz ao risco crescente de que os salários aumentem mais rapidamente do que a produtividade. Ou seja, o pleno 
emprego é fator que hoje concorre para acentuar a inflação já solta demais. E é nesse momento que 
mais se sente falta, nos grandes centros urbanos, de programas que se dediquem à recuperação e capacitação de pessoal.

Mas o antídoto para a inflação é conhecido: austeridade na condução das contas públicas e dinheiro mais apertado na economia.
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