segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O perigo que fica na água

Josie Jeronimo
Correio Braziliense

Abastecimento volta ao normal, mas risco de contaminação é alto. Número de vítimas passa dos 700

Aos poucos, as concessionárias responsáveis pelo abastecimento da região serrana do Rio de Janeiro concluem os trabalhos de recondicionamento das estações de tratamento e voltam a fornecer água aos municípios atingidos pela chuva. Ontem, a Nova Cedae, que atende Teresópolis e Sumidouro, informou que voltou a operar com 100% da capacidade e a concessionária Águas de Nova Friburgo estima índice de 65% de funcionamento.

Apesar de a estrutura de bombeamento e as estações de tratamento voltarem a funcionar, especialistas ouvidos pelo Correio apontam para o risco de contaminação das águas. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia Ambiental (ABGE), Fernando Kertzman, a mudança dos cursos d’água e a grande quantidade de material orgânico levado para os mananciais com os deslizamentos prejudicará a qualidade da água pelos próximos três meses, pelo menos. “Nesse primeiro momento, o problema é a qualidade da água. Ela vem com muito barro e matéria orgânica em suspensão. É importante que se oriente a lavar os reservatórios assim que volte o abastecimento. Até julho, ainda vai ter muito trabalho.”

O coordenador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília (UnB), Marco Antônio Almeida de Souza, afirma que, apesar de o abastecimento ter sido regularizado, os agentes públicos devem orientar a população a não beber nem usar a água para cozinhar, pois apesar de as estações de tratamento funcionarem, os dutos que se ligam aos reservatórios das cidades e das casas podem estar contaminados. “Em muitos casos, é aconselhável cessar o fornecimento por segurança, para baixar o risco de saúde pública. A água não é recomendável para consumo potável, ingestão e cozimento”. Souza acrescenta que outra característica dessa água é a “dosagem de segurança”, que aumenta a quantidade de cloro. Por isso, a doação de água mineral para as vítimas é tão importante.

De acordo com o engenheiro sanitarista, moradores da região urbana correm o risco de contaminação com doenças como o tifo e a leptospirose e de região rural com a contaminação das cisternas com fertilizantes químicos. A presença de corpos, no entanto, não é uma preocupação, segundo o especialista. “O pior problema quando se tem inundação é a mistura de resíduos. O esgoto é misturado com essas águas e aparece uma série de doenças típicas de regiões inundadas que são posteriores à tragédia. Quando começar a secar, surgem os problemas de saúde pública. A poeira contém contaminação”, pontua o professor. Preocupados com a poeira, moradores já circulavam de máscaras pela região.

Ontem, voltou a chover forte na serra fluminense. Os moradores ficaram assustados, temendo novos deslizamentos. Apesar da chuva, as equipes continuaram o trabalho de desobstrução das estradas. Para amenizar a dor dos aproximadamente 14 mil desabrigados das chuvas, os governos estadual e federal iniciaram mobilização para construção de casas populares e distribuição de recursos para pagamento do aluguel social. Uma fazenda de 190 hectares em Teresópolis foi desapropriada para a construção de 500 moradias. As obras terão início em fevereiro e custarão R$ 24 milhões.

De acordo com balanço da Defesa Civil divulgado ontem, 701 pessoas morreram em decorrência da tragédia. Mas o número pode ser maior, pois as equipes ainda não conseguiram ter acesso a algumas regiões rurais. Para vencer o isolamento ocasionado pela destruição de vias, o Exército vai construir uma ponte móvel na zona rural de Teresópolis. O Ministério da Integração informou que enviará 4 mil cestas de alimentos para o estado. A polícia encontra dificuldade para fiscalizar a entrega de donativos. Ontem, dois suspeitos foram presos acusados de tentar desviar caminhão repleto de doações que saía da Zona Norte, da capital.
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