Um texto leve, divertido e que nos convida à reflexão.
De um mestre da literatura brasileira.
Muito bom.
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RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO
Na sexta-feira, os jornais deram com alarde que a quantidade de informação hoje acumulada no mundo é de 295 trilhões de megabytes -algo assim como 21 zeros e quebrados. E que, se essa informação fosse gravada em CD-Roms de 730 megabytes cada, seriam necessários 404 bilhões de discos. Os quais, uns sobre os outros, com 1,2 mm de espessura cada, formariam uma pilha que iria da Terra à Lua e talvez ainda mais longe, à Barra ou ao Recreio.
Apesar de até há pouco não saber o que significava um byte -se nele cabia apenas uma humilde piada de papagaio ou a Encyclopaedia Britannica inteira- , vibrei ao ler isto. Eu próprio sempre gostei de acumular informação, relevante ou não. Já soube de cor a ficha técnica de incontáveis filmes do passado, as letras de inúmeras marchinhas de Carnaval e a escalação dos times mais improváveis, como o Bonsucesso e o Canto do Rio.
Desde então, tenho vivido desse estoque de informações. Aliás, conservo mais informação do que preciso para viver ou trabalhar. Por exemplo, nunca me prevaleci do fato de saber que a defesa do Canto do Rio, em 1955, era Celso, Charuto e Arnóbio; Roberto 2º., Moreno e Dico, e que a linha do Bonsucesso, naquele mesmo ano, era Barbosinha, Soca, Alemão, Décio e Benê. Durante décadas, essas informações se limitaram a acumular poeira em algum sótão da minha memória.
Mas, a partir deste momento, tais informações, das quais ninguém até então sentira falta, estão sendo publicadas na Folha, um jornal de grande circulação. Com isso, as escalações da linha do Bonsucesso e da defesa do Canto do Rio foram automaticamente incorporadas ao acervo de trilhões de megabytes no ciberespaço.
Fico me perguntando se, entre esses trilhões ou quatrilhões de informações, haverá muitas outras tão irrelevantes quanto as que acabo de fornecer.
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