terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Caça aos obesos


RUY CASTRO 
FOLHA DE SÃO PAULO

Woody Allen disse certa vez que foi recusado no time de xadrez de seu colégio "por problema de altura". A ideia é ridícula, e é claro que Woody inventou tal sandice para fins cômicos. Mas a ela pode-se acrescentar esta outra, nada inventada e nada cômica, recém-noticiada: sobre as candidatas a professoras da rede estadual de ensino de São Paulo, que, depois de aprovadas nos concursos, teriam sido consideradas "inaptas" no exame médico, por serem obesas (Cotidiano, 2/2).

O argumento, segundo o Estado, é o de que o candidato deve gozar "de boa saúde" e, pelos padrões da OMS, a obesidade "pode ser uma doença". Ou seja, uma professora obesa "pode" ter um enfarte ao ensinar os alunos a extrair uma raiz quadrada. Enfim, "pode". Ou não -como todo mundo.

É o mesmo raciocínio que, há alguns Carnavais, levou a Prefeitura do Rio a preferir um rei Momo magro. Não queria arriscar-se a um piripaco do próprio num baile de sua responsabilidade -o que levou o Momo vigente a operar o estômago e emagrecer 80 kg para continuar Momo. Mas o povo nunca aceitou os Momos magros e eis que, agora, estão voltando os gordinhos.

É curioso tal tipo de discriminação acontecer nesses tempos tão politicamente corretos, em que ninguém mais pode ser chamado de crioulo, anão, zarolho, perneta ou bicha -embora os eufemismos usados no lugar das velhas ofensas não atenuem o constrangimento. Já os obesos podem continuar sendo chamados de obesos e vistos com maus olhos pelas pessoas "normais", que os impedem de exercer atividades públicas.

Acredito em cada palavra acima, mas, no fundo, estou também defendendo o meu peixe -precavendo-me para se, um dia, a Folha ou a Companhia das Letras concluir que, por ter passado dos 100 kg, tornei-me inapto a escrever uma coluna ou uma biografia.
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