sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dúvidas sobre o Egito

Várias perguntas ainda estão sem uma resposta coerente para mim sobre a questão do Egito. A mídia está evidenciando em demasia a questão da democracia e que o levante foi algo repentino que teve como exemplo as manifestações na Tunísia. Este movimento seria atiçado pelo uso intenso de tecnologias e programas de relacionamento na web, tipo facebook e twitter.

A começar eu questiono muito estes motivos. O Egito, na região, é o país com maior acesso à globalização e interferência da vida ocidental há muitos anos, muito antes que os demais. Os investimentos americanos no país, notadamente após a primeira crise de petróleo, no início da década de 70. Desta forma, aquela sociedade já tem acesso à telefonia de qualidade há muitos anos e, à Internet também há alguns anos.

Outro ponto que não acredito muito foi uma “coordenação” nacional a partir de sites de ralacionamento, twitter e facebook que, em meu entender, não vem mostrando muita densidade e serventia no mundo ocidental além de platitudes. Eu mesmo tenho perfis em ambos e não presencio muita coisa que valha a pena. Ademais, pessoas ligadas ao governo poderiam, também, criar perfis falsos e fazer o tal do “misleading” nas tidas “ações de coordenação” oriundas desses sites de relacionamento. Vale lembrar que, por intermédio de códigos sociais próprios, a juventude e boa parte de religiosos se mantiveram coesos em momentos anteriores de repressão, notadamente após os atentados islâmicos naquele país. Kefaya, em 2000 e 2004 foi um grande exemplo de articulação sem essas mídias sociais. Isto para mim ainda não representa um grande e principal motivo.

Também duvido que aquela sociedade tenha a “democracia” se os movimentos islâmicos que têm a irmandade muçulmana como principal vetor tiver o poder ou maioria naquele parlamento. Da mesma forma duvido que nas famílias a democracia, sob o ponto de vista ocidental, seja praticado, pois mulheres continuarão a portar seus turbantes, andando a dois metros atrás dos maridos e tendo acesso restrito ao trabalho na economia. 

Um livro muito interessante que li por ocasião de preparação para minha tese chama-se “the looming tower” onde a criação do Al Qaeda é esmiuçada por intermédio da vida oprimida de um terrorista que não era o primogênito na família. A ditadura nada tinha a ver de pressão familiar imposta por uma forte idiossincrasia social.

O que vejo de muita força foi o forte desemprego entre jovens que, aliás vem sendo motivo de crises sociais até na Europa, notadamente na França desde 1996, bem como Irlanda, Finlândia e outros. O que vejo é que o Egito, apesar de grandes riquezas naturais não tem condições de, mesmo com forte ajuda americana, promover o desenvolvimento do país com geração de postos de trabalho. 

Duvido, da mesma forma, que qualquer partido de oposição, de orientação islâmica ou não, venha ter condições de melhorar a economia naquele país.

Em outra ocasião, mais adiante, comentarei minhas dúvidas acerca das relações com Israel e o corredor de escoamento de petróleo e Canal de Suez estando o país na mão de “democratas”.

É aguardar para ver.
 .

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