FOLHA DE S. PAULO
A partir de que níveis se torna perigosa a presença de colesterol no sangue? Que gênero de medicamento, e em qual dosagem, deve ser adotado em tais casos?
São questões de âmbito científico, por certo -mas, como em toda atividade humana, o jogo entre conhecimento e interesse pode ser mais complexo do que se pensa.
Levantamento da Folha permite que se intua o potencial de conflito ético na elaboração das diretrizes clínicas no Brasil. Protocolos terapêuticos são preparados por comissões de médicos respeitados. Ocorre que muitos deles recebem patrocínio da indústria farmacêutica, participando de conselhos das empresas, ou mesmo como acionistas.
Veja-se o caso das diretrizes para hipertensão. Dos 110 médicos que as elaboraram, 57% dizem ter contado com algum apoio da indústria farmacêutica. Em proporções diversas, o quadro se repete nas diretrizes para diabetes, artrose e hepatite, entre outros males.
Não há ilegalidade nisso, mas a situação é reconhecida como "conflituosa" pelo Conselho Federal de Medicina. Nos EUA, já se avançou mais nesse debate.
Pesquisas revelam que médicos podem ser influenciados até mesmo por pequenos favorecimentos, como brindes e convites para viagens. Desenvolvem-se lá, em contrapartida, iniciativas para fornecer ao paciente informações sobre a ligação de seu médico com as farmacêuticas.
Sem negar o papel crucial da indústria no investimento em pesquisa, e a existência de critérios consensuais nas decisões médicas -para além do poder dos lobbies-, é tempo de que, também no Brasil, esse tipo de relação se revele e discipline. A ciência, para não falar dos pacientes, só tem a ganhar quando riscos de contaminação se tornam evidentes.
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Tudo gira em torno da indústria farmacêutica, uma das indústrias mais poderosas em todo o mundo.
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