sábado, 5 de fevereiro de 2011

SINAL DE FRAGILIDADE


ESTADO DE MINAS


Pequena falha no sistema de autoproteção deixa Nordeste no escuro 

O apagão que deixou no escuro milhões de pessoas na maioria dos estados do Nordeste na madrugada de ontem serve como um aviso às autoridades e a todo o país: o sistema é bom, mas tem falhas que o tornam vulnerável. Quanto mais detalhadas as explicações disponíveis sobre o que ocorreu, maior é a sensação de que a qualquer momento, em qualquer lugar, num vilarejo ou numa metrópole, a eletricidade pode faltar. Não importam as condições do tempo. Desta vez, não havia chuva forte nem ventania, o que livra São Pedro da condenação mais fácil e mais frequente. Tudo começou por volta da meia-noite, hora local (a região está fora do horário de verão, em vigor desde 17 de outubro), quando foram desligados três sistemas fundamentais ao fornecimento de eletricidade ao Nordeste e que distribuem a energia gerada pelas usinas de Xingó, Paulo Afonso e Luiz Gonzaga. O desligamento ocorreu depois que um componente eletrônico do sistema de proteção da subestação da usina de Luiz Gonzaga, em Petrolândia (PE), falhou. 

O restabelecimento da energia levou de três a quatro horas e só não provocou mais prejuízos porque ocorreu fora do horário de funcionamento das fábricas e lojas. Mesmo assim causou problemas. Em João Pessoa e algumas cidades do interior da Paraíba, o abastecimento de água foi afetado, terminais bancários e telefones funcionaram precariamente. Na Bahia, também foi afetado o fornecimento de água em várias cidades e houve prejuízo ao funcionamento do Polo Petroquímico de Camaçari. Em Alagoas, o abastecimento de água de Maceió e de várias localidades somente começou a ser normalizado à tarde. Em Pernambuco, o caso mais grave foi um tumulto provocado por uma briga entre detentos de um presídio em Recife durante o apagão. Um preso morreu esfaqueado e outro ficou ferido. No Rio Grande do Norte, o apagão impediu as operações do aeroporto de Natal. 

As autoridades do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS) prometem esmiuçar o que provocou a falha. A esta altura, pouco adianta a orientação dos marqueteiros de evitar a palavra apagão, temendo associar a interrupção no fornecimento de energia à incapacidade de geração que levou o país ao racionamento em 2001, o que seria muito mais grave. De fato, não é esse o caso, já que o problema, assim como o blecaute que afetou 18 estados em 2009, não se deveu à hidrologia, mas a uma falha de funcionamento do sistema. O que agora fica mais evidente é que não basta localizar a cartela de segurança que falhou no interior de Pernambuco, mas produzir soluções. Montado para evitar prejuízos ao sistema, o mecanismo de autoproteção reage ao menor sinal de sobrecarga, verdadeiro ou não. Essa reação deveria ser limitada à área próxima ao problema, mas o que voltou a ocorrer é que uma pequena falha propagou efeitos sobre todo o sistema de uma vasta região. Mesmo que a autoridade julgue prudente não dar publicidade à fragilidade confirmada, o que se espera são ações concretas para evitar que ela se repita. 

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps