segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O DÉFICIT DA SAÚDE BUCAL

Por ocasião das avaliações prévias de intenções de voto dois fatos chamaram-me a atenção: o primeiro é que o governador seria reeleito com mais de 80% de votos o que, de fato, ocorreu. O segundo foi a publicação de detalhes da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, no Recife e entorno conduzida por odontólogos da UFPE dando conta que havia no entorno do Grande Recife e em cidades próximas pessoas fazendo sua escovação com areia, palha de aço e carvão, nos moldes do Brasil colonial todavia nas portas de segunda década do século XXI. A reflexão deixo por conta do leitor.






O DÉFICIT DA SAÚDE BUCAL
EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)

As condições precárias de assistência e a baixa qualidade de vida do recifense receberam nova evidência após pesquisa nacional que colocou a capital pernambucana entre as piores do País em saúde bucal infantil. A situação é tão crítica que nem o fato de se ter dobrado a assistência entre 2004 e 2005 alterou substancialmente a realidade das comunidades mais pobres do município. E ainda são fatores agravantes a falta de água com flúor nas regiões carentes, e o excesso de açúcar na dieta, geralmente acompanhado da baixa frequência de escovação. 

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, divulgada há pouco mais de um mês, menos da metade dos recifenses com 5 anos de idade está livre de cáries, índice quase 10% mais baixo do que os de Fortaleza e de Salvador. A taxa de dentes cariados, perdidos ou obturados ainda é maior do que a de cidades como Aracaju e Teresina. O professor Paulo Goes, da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco, coordenador do estudo no Norte e parte do Nordeste, fez diante dos dados um prognóstico preocupante: uma em cada cinco crianças recifenses deve perder pelo menos um dente antes de completar 15 anos. Para o professor Goes, o cenário exige firme decisão política dos gestores públicos: ‘Proteger a boca é garantir saúde e combater a pobreza”, afirmou para o JC em matéria publicada no último dia 30.

A pesquisa fez parte do Brasil Sorridente – Política Nacional de Saúde Bucal, lançada no governo Lula, com o objetivo de reavaliar as estratégias de assistência à saúde básica da população carente. De acordo com o coordenador de Saúde Bucal no Recife, Bruno Freitas, a rede de atendimento dentário precisa efetivamente ser ampliada, pois há comunidades sem a devida atuação de dentistas, embora se obedeça à lógica nacional de um dentista para cada duas equipes do Programa Saúde na Família. São 250 dentistas na rede pública municipal, com apoio de 30 técnicos e 250 auxiliares. Entre janeiro e novembro de 2010 foram efetuados mais de 273 mil procedimentos nos serviços de odontologia do SUS no Recife. Segundo os números oficiais, as equipes supervisionaram 241.636 escovações nas escolas e nos postos de saúde, e quase 56 mil recifenses foram ao dentista pela primeira vez na vida. A cada três meses, 150 a 200 mil escovas são distribuídas no município. Os números, no entanto, não desmentem os fatos constatados. Reconhecendo a deficiência, o coordenador ponderou que os pesquisadores podem ter visitado áreas em que o déficit de atendimento é maior, ao contrário do que teria ocorrido em outras cidades. 

De qualquer maneira, a referência do novo banco de dados nacional sobre saúde bucal, com informações de 38 mil pesquisados em 177 municípios, põe a nossa capital em alerta. Estamos marcando passo enquanto o País melhora, num quesito fundamental para o desenvolvimento individual e a luta contra a miséria. Nos últimos oito anos, registrou-se o aumento de 30% o número de crianças sem cárie no Brasil, e caiu em 26% a sua incidência em crianças de 12 anos – faixa etária considerada crucial pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando a dentição está quase completa. Apesar dos avanços, foi revelado também outro déficit, na ponta extrema da população: sete milhões de idosos necessitam de próteses dentárias totais ou parciais. 



É lamentável que, enquanto o governo federal comemora os indicadores como um sinal de aumento da prevenção a novas gerações de desdentados, a capital pernambucana exibe a clara necessidade de acelerar a política na área, a fim de acompanhar o passo de outros municípios no combate ao déficit da saúde bucal. A questão de interesse social, tem repercussões na formação de cada indivíduo, sendo preciso levar em conta o prejuízo emocional para os desdentados infantis, numa sociedade em que o ideal estético, transformado em sonho de consumo, é perseguido ansiosamente por todos, em especial, pelos mais jovens. O sorriso do futuro do Recife está comprometido. Os dentes de nossas crianças merecem receber atenção prioritária da gestão municipal.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps