Pesquisa mostra que o Brasil não concede prioridade à qualidade do ensino público
Avanços na educação, mesmo pequenos, são dignos de comemoração. Mas o tamanho do atraso do país nesse campo não autoriza exageros. Pelo contrário, recomenda reconhecer que temos sido incapazes de proporcionar ao país qualidade de ensino que aproveite o potencial de nossa juventude. A esta altura, ajuda pouco atribuir fracassos ou sucessos a esse ou aquele governo. A verdade é que, embora o Brasil tenha conseguido chegar muito perto da universalização do ensino fundamental, o que os alunos têm aprendido ainda está abaixo da média mundial. Cada vez mais distante do trabalho de baixa sofisticação tecnológica, o mundo vem deixando de oferecer oportunidades de igual crescimento a todos. Os menos preparados tendem a ser excluídos e essa dura realidade vale também para a competição entre os países. É o que confere à educação caráter de urgência, pois já não se trata mais de uma questão social. Passou a ser estratégica, decisiva.
Por isso mesmo, é relevante observar com olhos de tarefa ainda não cumprida a lamentável posição que o Brasil insiste em manter nas pesquisas internacionais que permitem comparar o estágio da educação entre os países. Realizado a cada três anos, o Pisa, sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, testa conhecimentos e avalia habilidades de estudantes de 15 anos. Patrocinado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o estudo acaba de revelar que o Brasil avançou 16 pontos no período 2003/2009, redimindo-se do vexame do triênio anterior, quando ganhou apenas um ponto. Mas o próprio Pisa mostra que temos evoluído a passos de tartaruga na melhoria da qualidade do ensino fundamental: ocupamos um vergonhoso 53º lugar entre os 65 países pesquisados. Foram submetidos a testes 470 mil estudantes, sendo 20.127 alunos de 950 escolas brasileiras. Os testes de leitura, matemática e ciências mediram se os alunos têm escolaridade que lhes permitam inserção na cidadania.
O resultado é que melhoramos um pouquinho na capacidade de leitura, mas vamos muito mal em ciências e, pior ainda, em matemática. A bem da verdade, só não demos vexame maior graças ao desempenho das escolas particulares e mais ainda das poucas federais que atuam nessa faixa. Uma lente menos tendenciosa revela, contudo, que o ingresso nesses redutos de excelência do ensino público são exceções filtradas por duríssimos “vestibulinhos” para os alunos e concorrida seleção de professores. De todo o ensino médio, apenas 0,2% dos estudantes frequentam uma escola federal. A maioria continua vítima da perversa realidade da segregação social alimentada pela educação de baixa qualidade. E esse quadro não terá mudança digna do nome, enquanto o país continuar enganando a si mesmo quanto à real prioridade que concede à educação. É preciso encarar o desafio de revolucionar o ensino no Brasil com a coragem política de repensar os orçamentos. É fácil fixar em lei federal o piso salarial dos professores para os estados e municípios pagarem. O difícil é mudar a distribuição do bolo tributário tendo vista a diferença entre o dispensável e o que é realmente prioritário. Para os novos governos federal e estaduais e para o Congresso Nacional que começa a trabalhar em 2011, este é um desafio que vale a pena enfrentar.
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