domingo, 12 de dezembro de 2010

A invasão e o perigo das motos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)


Em 1998 a frota circulante de motos no Nordeste era de pouco mais de 396 mil. Em agosto de 2010, o número chegava a 3.597.328. O crescimento chegou perto dos 1.000%. Em Pernambuco, segundo os números da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a frota circulante de duas rodas a motor era de 73.609 em 1998, e de 595.845 em agosto de 2010. 

Esses números, tomados como fatores da economia, merecem aplausos. Significam maior poder de consumo, maior produção e, consequentemente, mais empregos. Eles ganham maior dimensão quando a Abraciclo informa que em novembro deste ano as vendas de moto no mercado interno cresceram 9,2% em relação a outubro, e 49,3% em relação a novembro de 2009. Outro dado significativo: o mercado de motos deve fechar 2010 com a venda de 1.827.000 unidades, 250 mil a mais que 2009. O assombro continua: os fabricantes acreditam que 2011 será melhor ainda, mesmo considerando as medidas de contenção do crescimento anunciadas pelo governo para o próximo ano, a fim de segurar a inflação. 

Continuando com os números que impressionam e assombram, sabe-se que na comparação de 2009 com 2008 o número de mortes provocadas por acidentes com motos cresceu 26,7% nas rodovias federais em Pernambuco. Somente no fim de 2009, quase metade de todos os acidentes com vítimas fatais nas estradas envolvia motos. Isso fez com que em janeiro o governo do Estado passasse a tratar o caso como problema de saúde pública. 

Não é preciso muito esforço para se constatar que estamos, mesmo, perante uma pandemia nacional, com enorme repercussão na vida das pessoas e no patrimônio público. Pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo com 84 pacientes do Instituto de Ortopedia define a moldura trágica da questão que estamos tratando: seis meses depois, 82% dos pacientes não tinham voltado a trabalhar, em média, os pacientes fizeram mais de duas cirurgias, a um custo de R$ 35 mil para o SUS cada uma. A pesquisa constatou que 80% dos motoqueiros não se consideravam culpados pelo acidente e achavam que andar a 70 quilômetros por hora entre os carros é normal. Nessa velocidade, o impacto de uma pessoa com 70 quilos contra um obstáculo como um muro é de 13 toneladas. 

Entre 1998 e 2009, o número de casos de acidentes com motos cresceu 200% no Hospital da Restauração. Em 2009 foram atendidos no HR 2.951 feridos em acidentes com motos. Mais assombro: 52,1% das vítimas de acidentes com motos no Recife morrem na via pública e 42,2% em hospitais. Em 40% dos acidentes, há lesões na coluna vertebral. 

Esse é um fenômeno nacional, mas parece bem mais acentuado em Pernambuco: diariamente os meios de comunicação noticiam acidentes e incidentes provocados por motocicletas, caracterizando uma nova praga urbana que piora o já caótico trânsito das regiões metropolitanas. No Grande Recife, é quase impossível se avaliar o número de motos que ocupam o trânsito desde as primeiras horas da manhã. Muitas em situação irregular, desrespeitando as leis do trânsito e promovendo manobras perigosas, sem que haja controle ou proibição para os transgressores. 

O Conselho Nacional de Trânsito tornou obrigatório o treinamento especial para motobóis, mas diante do quadro que temos hoje isso é muito pouco, quase nada. Os problemas gerados no trânsito, nos hospitais, no cotidiano de qualquer centro urbano exigem que se faça uma legislação de trânsito específica para motos, com cláusula de tolerância zero. Fora disso, é ver como eles ocupam áreas estacionamentos destinados a outros veículos e como, solidários no erro, acobertam uns aos outros e até ameaçam os desavisados que reclamam de sua ousadia. Aqui entre nós, as autoridades que foram capazes de enfrentar os problemas gerados por kombis irregulares bem que podiam começar a controlar e ordenar o fluxo de motos, antes que o caos absoluto se instale. 
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