Diante de tantos desafios que aguardam a presidente eleita, Dilma Rousseff, a partir de 1º de janeiro, provavelmente nenhum deles seja superior ao da saúde pública. Além de ser o maior orçamento da administração direta, num total de R$ 74 bilhões, é também considerada prioritária para 51% dos entrevistados por recente pesquisa encomendada ao Ibope pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao reiterar sucessivas vezes a intenção de dedicar atenção especial a essa área, a futura presidente demonstra estar ciente dessa expectativa, que na prática confirma o fato de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não ter conseguido os resultados pretendidos no setor. Por isso, as atenções se transferem agora para o futuro ministro, o médico sanitarista Alexandre Padilha, responsável no atual governo pelo Ministério das Relações Institucionais.
Nos últimos oito anos, foram quatro titulares, todos ligados ao Movimento Sanitarista. Reconhecido até mesmo por setores oposicionistas pela competência e seriedade na condução da área, o ministro José Gomes Temporão deixa um legado importante de avanços. Mesmo na condição de quem mais tempo permaneceu no cargo, o atual titular não conseguiu pôr em prática medidas essenciais para atacar problemas crônicos. O país, por exemplo, conseguiu se firmar na área de atenção básica, com a ampliação da cobertura de saúde da família. Registrou também um decréscimo importante na mortalidade infantil. Ainda assim, a imensa parcela da população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) segue às voltas com dificuldades inaceitáveis e aparentemente intransponíveis para a marcação de uma consulta com determinados especialistas, com emergências lotadas, com profissionais da área médica insatisfeitos com seus ganhos e com instituições de saúde recebendo menos do que pretendem.
O próximo ministro, portanto, precisará contar com forte respaldo político tanto da presidente eleita quanto do Congresso para garantir um tratamento mais humano e de mais qualidade a pacientes do SUS. Por razões óbvias, pelas suas implicações diretas na vida dos cidadãos e nas expectativas de seus familiares, saúde pública é uma questão a ser avaliada não apenas pelos avanços nas estatísticas, mas sobretudo pela realidade dos serviços prestados no cotidiano.
Independentemente da questão do financiamento do setor, carente de mais verbas desde o fim do tributo conhecido como CPMF, um aspecto que deve merecer atenção especial, de imediato, é a implantação de medidas moralizadoras na gestão de hospitais públicos. O que a saúde pública precisa para avançar é de uma melhoria na gestão, que permita ao governo garantir serviços de mais qualidade com os recursos disponíveis, sem aumento da carga tributária.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário