O Estado de S. Paulo
Depois de realizar grandes aportes no setor sucroalcooleiro em 2010 e consolidar sua posição como grande produtor de etanol, o desafio da Petrobrás Biocombustível em 2011 será o desenvolvimento de dois projetos de produção de biodiesel a partir de óleo de palma no Pará. A informação é do presidente da companhia, Miguel Rossetto, em entrevista exclusiva à Agência Estado.
Rossetto disse que 2011 deve ser marcado pelo debate em torno de um marco regulatório para os biocombustíveis. No caso do etanol, o marco deverá estar vinculado a garantias de abastecimento por parte dos produtores. Em relação ao biodiesel, a ampliação da mistura de biodiesel no diesel mineral precisa estar atrelada a uma maior participação da agricultura familiar, diversificação de matéria-prima e atualização de estímulos fiscais e econômicos para os produtores regionais. "Quanto mais os biocombustíveis crescem na matriz energética brasileira, mais cresce a equação da segurança energética. Um marco para o setor precisa, então, envolver a garantia de abastecimento", disse ele.
O executivo não descarta novas aquisições em 2011, que seriam efetivadas por meio das empresas em que possui participação: Açúcar Guarani, Nova Fronteira e Total. O orçamento da PBio até 2014 prevê investimentos de US$ 2,5 bilhões para produzir 2,6 bilhões de litros de etanol e 750 milhões de litros de biodiesel. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como foi 2010 para a Petrobrás Biocombustível?
Foi um ano de consolidação. Temos 14 usinas produtoras de biocombustíveis. Desse total, dez são de etanol e quatro de biodiesel. Vamos encerrar a safra 2010/11 com 23 milhões de toneladas de cana e 1 bilhão de litros de etanol. A produção de biodiesel foi quadruplicada e chegou a 495 milhões de litros. Queremos em 2011 elevar os investimentos em cogeração de energia a partir de biomassa de cana. Teremos energia excedente em sete das dez usinas.
O que mais esperar para 2011?
Vamos crescer com investimentos nas unidades já adquiridas e por meio de novas aquisições. Também iniciaremos novos projetos. O grande desafio será o projeto de produção de biodiesel a partir de óleo de palma, cultivada no Pará, por meio da empresa Belém Bioenergia.
Como é o projeto de palma?
Vamos iniciar o plantio do dendê, o óleo de palma, no primeiro trimestre de 2011. Serão 74 mil hectares de palma destinados para dois projetos. Um deles para o Green Diesel em Portugal e outro para suprir a região Norte. Os investimentos se darão até 2018 e criarão 7 mil postos de trabalho. São projetos cuja base é a integração entre agricultura familiar, médios e grandes produtores. A primeira produção ficará disponível no final de 2013. Podemos dizer que 2014 será o ano do biodiesel de palma no Brasil.
A tendência é de expandir a agricultura familiar no PBio?
Com certeza. Hoje trabalhamos com 65,6 mil famílias, quase metade das 150 mil existentes no Brasil. Para elas, que estão no Ceará, Paraíba, Bahia, Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais e Paraná, oferecemos sementes, assistência técnica e um sistema de cooperativa para comercializar o produto. Temos contratos de cinco anos com os agricultores, com atualização anual dos preços pagos, o que fideliza o fornecimento da matéria-prima. Em 2011, vamos iniciar um projeto de qualificação de solo para os agricultores que trabalham com a Petrobrás. Acredito que a função da empresa é levar tecnologia produtiva a esses parceiros para que a produtividade cresça.
A empresa espera retorno desses investimentos?
Nossa estratégia principal é desenvolver os mercados regionais e fazer com que as novas oleaginosas entrem com maior expressividade no suprimento de matéria-prima para a produção de biodiesel. A empresa precisa ter retorno financeiro, mas a meta é desenvolver os mercados regionais. Nesse sentido, o próximo governo terá grande importância.
Como assim?
O programa de biodiesel tem que ser atualizado em 2011. A mistura de 5% de biodiesel no diesel, o B5, que aconteceria em 2013, foi adiantado para 2010. Agora precisa de novas metas. É necessário que o aumento da mistura para B10, por exemplo, esteja vinculado a certos compromissos do setor. Defendo junto ao governo que a agenda do biodiesel seja associada a três pontos: aprofundar o caráter de desenvolvimento do programa de biodiesel e reforçar sua ligação com a agricultura familiar; investir na diversificação de matéria-prima; e atualizar os estímulos econômicos a produção descentralizada.
O setor sucroalcooleiro também está pedindo um marco regulatório para o etanol.
Dois temas precisam ser incorporados ao debate. O primeiro é a qualidade ambiental. Deve haver um sistema normativo eficiente para o padrão de qualidade ambiental. O segundo é o abastecimento. Quanto mais os biocombustíveis crescem na matriz energética, maior devem ser as garantias de segurança de abastecimento.
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