quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

2011 poderá ser o ano do voo da águia

 Eduardo Campos
Valor Econômico

Toda virada de ano os economistas, analistas e chutadores de toda espécie tiram o pó de suas bolas de cristal e partem para a ingrata tarefa de prever o futuro.

Fazem isso por pressão de acionistas controladores, investidores e jornalistas.

No fim das contas, não importa muito se os palpites estão certos, errados ou mais ou menos. Afinal, os cenários são feitos para serem revisados. O que importa para todos é ter no que se agarrar.

Acertar "na mosca" é coisa rara e quanto mais exuberante a previsão, mais acachapante é o erro. No entanto, algumas dessas tentativas de ver além conseguem acertar o principal, que é a direção de algum mercado ou uma grande tendência que se forma.

Nesta passagem de 2010 para 2011, o que parecia inacreditável poucos meses atrás, começa a ganhar corpo entre analistas e economistas domésticos e externos: a economia americana dá sinais de estar entrando um movimento de recuperação mais sustentado, que tem tudo para se consolidar ao longo deste ano que começa.

Se tal texto fosse escrito há um ano não ganharia a mínima atenção. No entanto, seria a única vertente correta, já que ao longo de 2010 a economia americana, apesar de ainda apresentar muitas deficiências, surpreendeu para melhor.

Ainda no fim de 2009, o analista da Apregoa.com, Jason Vieira, usou a seguinte alegoria: "Estão chutando a economia americana como se fosse um cachorro morto. Só que os Estados Unidos não são um cachorro qualquer, são um pit bull adormecido, que quando acorda, já acorda mordendo".

Esse pit bull ainda parece sonolento, mas já deu suas primeiras mordidas.

As vendas no varejo crescem em base anualizada desde novembro de 2009. A produção industrial avança, mantida a base de comparação, desde janeiro de 2010. E apresenta crescimento médio no ano, até novembro, de 5,6%.

O que é alvo de críticas é o mercado de trabalho, que mostrou criação de vagas em 2010, mas de forma ainda tímida. Contudo já se começa a reavaliar a relação dessa variável com o restante da economia e o próprio Federal Reserve (Fed), banco central americano, está ciente de que o desemprego natural não aparece em menos de cinco anos.

Ainda assim, com esses e outros senões, os EUA apresentam algumas condições favoráveis à concretização de um ambiente de crescimento mais firme.

Os juros seguem baixos e não há ameaça de inflação no radar. E, no campo corporativo, as empresas estão com um volume de dinheiro em caixa (em percentual de seus ativos) próximo aos recordes registrados nos anos 80, segundo dados do Fed e do banco Safra.

Com esse dinheiro rendendo quase nada, as saídas naturais para as empresas lidarem com esse "excesso" de caixa são a compra de outras empresas, a recompra de ações e os investimentos. Ou seja, os EUA têm dinheiro no bolso, baixa inflação e baixo custo de oportunidade.

"A economia conseguiu dados muito bons. Ainda não há firme reflexo no mercado de trabalho, mas os números mostram que os pacotes de ajuda funcionaram. Resumo da ópera: Bernanke estava certo. A economia mostra recuperação. É um crescimento moderado, porém constante", diz Jason Vieira.

Ainda de acordo com o analista, as economias centrais (não só os EUA, mas Alemanha, França, Inglaterra e Japão) ficaram de fora do quadro mundial em 2010, mas dão indicações de que podem voltar à ativa em 2011, ano no qual se espera que o conjunto de economias emergentes tenha um desempenho menos brilhante (mas ainda robusto) em função de problemas que já são palpáveis. O principal deles é a inflação, que coloca os bancos centrais para trabalhar.

Em seu último comentário de 2010, o presidente do conselho de administração da gestora de recursos do Goldman Sachs, Jim O"Neill, questiona se 2011 será o ano dos EUA. E as considerações do texto dizem que sim.

O time de economistas do banco revisou para cima a previsão de crescimento dos EUA de 3,4% para 3,8%, e O"Neill completa dizendo que esse crescimento deve ser forte e robusto o suficiente para levar a uma queda no desemprego. Isso, desde que confirmado, deve significar que as piores consequências sociais da crise vão começar a aliviar.

"Tudo isso resulta em uma percepção de que os EUA estão voltando ao "normal", o que terá consequências previsíveis nos mercados financeiros. O mercado de ações continuará subindo, provavelmente outros 20%. A taxa de retorno dos títulos deve avançar mais. E, no câmbio, o dólar pode ter um pequeno rali, embora os tomadores de decisão devam resistir a uma alta significativa", escreveu O"Neill.

O especialista conclui dizendo que é claro que os EUA não voltarão à normalidade pré-crise, até porque as coisas não estavam assim tão normais antes do colapso de 2008.

Os EUA não podem sobreviver com consumo ultra-alavancado, baixa poupança e grande déficit em conta corrente. E, segundo O"Neill, não vão sobreviver. Por isso mesmo, ele encara 2011 como o início de uma nova fase, na qual os EUA têm forte crescimento do PIB, mas isso será reflexo de exportações e investimentos.

Na passagem de 2011 para 2012 saberemos se essa corrente de mercado está certa e ouviremos aquele irritante para alguns e deliciosos para outro "eu avisei". Ou veremos esse grupo saindo dessa com o famoso "veja bem".

Eduardo Campos
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