Valor Econômico
O sucesso econômico da Argentina
A Argentina é um país curioso. Durante os últimos oito anos, a economia apresentou indicadores excepcionais: o Produto Interno Bruto (PIB) expandiu-se quase 70% (praticamente tão dinâmico quanto o da China) e o emprego formal cresceu mais de 30%. Os resultados fiscais sólidos sem precedentes do país são acompanhados de superávits comerciais que são motivo de inveja até nos países com maior solvência fiscal do mundo.
Tudo isso representa uma inesperada e total recuperação em relação ao vasto endividamento externo público e privado que existia há apenas dez anos. De fato, a recuperação acentuada da Argentina gerou uma imensa acumulação de reservas internacionais nos país.
Também é surpreendente o crescimento no índice de poupança interna da Argentina, que permitiu o autofinanciamento do investimento - que dobrou - e, paradoxalmente, o fluxo de saída de capital. O sólido crescimento econômico, puxado pelos altos preços internacionais das commodities, sustentou arrecadação tributária recorde e, após oito anos de comércio externo em geral bastante próspero, o setor empresarial do país está em melhor estado do que nunca.
A maioria dos economistas prevê uma saudável taxa de crescimento anual de 5% em 2011, combinada a resultados externos e fiscais positivos.
O cenário econômico argentino, no entanto, é muito mais complexo do que os principais indicadores econômicos sugerem. Desde meados de 2007, as expectativas quanto à sustentabilidade de longo prazo estão se enfraquecendo. De fato, a eficiência dos gastos públicos é duvidosa, com escassos resultados positivos a mostrar. Além disso, a crise econômica internacional e a oferta estreita de energia cobraram um alto preço na confiança, assim como as tensões sobre a estatização dos fundos de pensão e os conflitos com os produtores de soja, críticos ao aumento de seus, já altos, impostos.
Em um país com um dos piores históricos de crises e volatilidade econômica, o receio de um novo desmoronamento vem aumentando e os investidores estão dolarizando suas carteiras para proteger seu capital. Nos últimos três anos, US$ 52 bilhões em capital saíram do país. A ameaça de crise em 2011 diminuiu, mas persistem as dúvidas quanto ao longo prazo.
A Argentina precisa de um programa abrangente para demonstrar que, além da capacidade de gerar riqueza mostrada nos últimos oito anos, pode sustentar o crescimento econômico e não voltar à volatilidade do passado.
As principais metas de política econômica deveriam ser racionalizar os gastos públicos, controlar a expansão da base monetária para moderar a inflação, estancar a perda de capital e abordar a questão dos subsídios e das tarifas das concessionárias públicas. Os níveis elevados de exclusão social e pobreza continuam problemas não solucionados que precisam ser enfrentados para que o crescimento de longo prazo seja sustentável.
Deixar de abordar esses problemas importantes ameaça manter o alto índice de inflação, atualmente superior a 20% ao ano - um dos maiores do mundo e bem superior ao ritmo de desvalorização do peso argentino. Isso vem minando o superávit externo, enfraquecendo o poder de compra doméstico e levando ao adiamento de investimentos.
Uma prioridade-chave deveria ser elevar os investimentos criando um clima de confiança. O setor financeiro é sete vezes menor que a média na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e quase todas as empresas dependem de empréstimos de curto prazo.
Para evitar as crises recorrentes do passado, a Argentina precisa restabelecer a confiança e introduzir um programa macroeconômico de desaceleração da inflação, manter o equilíbrio fiscal e promover o investimento, desenvolvimento tecnológico e educação. Só então a Argentina poderá alcançar maior igualdade social e impulsionar a competitividade econômica.
Bernardo Kosacoff é diretor do Centro de Empresas, Competitividade e Desenvolvimento do ITBA-Universidad de San Andrés (CECyD, na sigla em espanhol) e ex-diretor na Argentina da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU). Copyright: Project Syndicate, 2011
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