sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

As prioridades do G-20 sob o comando de Sarkozy

Valor Econômico


É cada vez mais remota a possibilidade de o G-20 encarar a questão dos fluxos indesejáveis de capital internacional que vêm afligindo os mercados emergentes. O G-20, grupo que reúne 19 países mais a União Europeia e responde por 85% do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, assumiu papel relevante no auge da crise, como fórum de debate de temas como a função do Fundo Monetário Internacional (FMI), a regulação financeira global e a cooperação entre os países.

Assim que as economias mais avançadas tiraram a cabeça para fora da água, a capacidade de cooperação diminuiu, esbarrando na dificuldade de conciliar estratégias conflitantes de recuperação. A principal delas é tentar animar a economia com uma grande expansão monetária, que extravasou capital pelo mundo todo, inundando países emergentes de dinheiro.

A política expansionista depreciou o dólar e o yuan chinês, que está convenientemente a ele atrelado, e valorizou as moedas dos países emergentes, alvos do capital internacional. A guerra das moedas virou uma guerra comercial, com ameaças mais ou menos cumpridas de um protecionismo revigorado.

Essa batata quente ficou no ponto na reunião do G-20 de novembro, em Seul, Coreia do Sul, quando toda incapacidade de cooperação das nações aflorou.

Surgiram várias propostas, que deram em nada. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, foi o mais criativo. Inicialmente, propôs que os países limitassem em 4% do PIB seus déficits e superávits em conta corrente. Diante da grita geral, substituiu a proposta pela sugestão que os países alertassem previamente a comunidade internacional quando o superávit ou déficit estivesse caminhando para um ponto excessivo. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, não ficou muito atrás ao propor a volta a uma espécie de padrão-ouro, um Bretton Woods 2.

O Brasil envolveu-se ativamente no debate. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu que os mercados emergentes têm direito a limitar a entrada de capital estrangeiro. A constatação de Mantega de que o fluxo selvagem de capital estava sendo ruim para os mercados emergentes foi compartilhada pelos outros membros do G-20, em Seul, inclusive pelo atual presidente do grupo, Nicolas Sarkozy, e pelo FMI.

O problema é como controlar esse fluxo. O FMI gostaria de assumir essa responsabilidade. O Brasil, entre outros países, não concorda com isso. O receio é que o Fundo pregue ajuste fiscal e apreciação cambial para os países emergentes, sem cuidar da principal origem do problema, a política expansionista das economias avançadas.

Havia a expectativa de que, ao assumir a presidência rotativa do G-20 neste ano, Sarkozy traria um vento fresco para o debate por sua posição crítica em relação às posições americanas e simpatia pelos emergentes. Afinal, tudo indica que o problema vai continuar. O Institute of International Finance (IIF), organização que reúne bancos do mundo todo, prevê que o fluxo de capital para os mercados emergentes chegue perto de US$ 1 trilhão neste ano, marca somente atingida em 2007.

Inicialmente, parecia que essa era mesmo a direção. Sarkozy assumiu o posto, no ano passado, prometendo uma grande reforma do sistema financeiro internacional e reduzir a volatilidade do capital internacional. Em Seul, chegou a propor a criação de um código de conduta para limitar o fluxo de capital.

Em curto espaço de tempo, porém, o discurso foi mudando. Na reunião de Davos, na semana passada, ainda falou dos fluxos globais de capital, mas a explosão das commodities assumiu o topo da sua agenda.

Agora, Sarkozy diz que o G-20 precisa tomar medidas para a contar a volatilidade das commodities e quer regular o mercado internacional desses produtos, que passou a ser influenciado pelos negócios com índices e contratos futuros, transformando-se em ativos financeiros. Essa será sua prioridade à frente do G-20, disse Sarkozy em carta à presidente Dilma Rousseff. O maior temor do Brasil é que controles artificiais estejam entre as propostas feitas.

Para os críticos de Sarkozy, ele teria abraçado esse tema pelas repercussões favoráveis dentro da França na campanha política de 2012. Mas não se pode negar que o assunto é importante por causa das repercussões negativas da alta na inflação do mundo todo. No entanto, Sarkozy não pode esquecer que, além da recuperação econômica mundial e problemas climáticos, na origem da alta das commodities está também a abundância internacional de capital, que busca ganhos com a especulação com esses produtos.
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