Chineses tiram mais mercado do Brasil
Eduardo Rodrigues
O Estado de S. Paulo
Sondagem da CNI mostra que pressão aumentou e 67% das indústrias brasileiras que enfrentam rivais da China perderam mercado no exterior
Com o real valorizado pressionando os preços dos produtos fabricados no Brasil, a concorrência com mercadorias chinesas mais baratas levou 67% das indústrias brasileiras que competem com empresas chinesas a perderem clientes no mercado internacional. Pior do que isso, 4% dessas companhias deixaram de exportar suas mercadorias, desistindo de enfrentar a concorrência.
O mapa detalhado de quanto a concorrência chinesa afeta as empresas brasileiras apareceu na Sondagem Especial divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A CNI entrevistou 1.529 empresários em outubro do ano passado. Em pesquisa anterior, de 2006, o porcentual de companhias que haviam perdido espaço no mercado internacional para os chineses era bem menor, de 54%.
De acordo com a sondagem mais recente, 52% das indústrias exportadoras brasileiras concorrem com fábricas chinesas em outros mercados. Os dados apontam que a competição é mais intensa em seis setores industriais, nos quais pelo menos metade das empresas afirmou que concorrem com similares chineses. É o caso dos setores de material eletrônico de comunicação, têxteis, equipamentos hospitalares e de precisão, calçados, máquinas e equipamentos, além do setor que a CNI classifica como "indústrias diversas".
Pequenas empresas. A pesquisa mostra também os efeitos da concorrência chinesa no mercado interno brasileiro: 45% das empresas que competem com a China perderam espaço para os concorrentes. O efeito é maior entre as pequenas empresas, das quais 48% revelaram ter perdido participação nas vendas no País, por causa da enxurrada de importações de produtos chineses.
No entanto, 21% das companhias consultadas registram importação de matérias-primas da China, o que revela, segundo a CNI, um aumento da presença chinesa nas várias etapas da cadeia de produção brasileira.
Para o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, como o yuan tem sua cotação atrelada ao dólar, a valorização do real em relação à moeda americana tem sido o fator mais determinante para que produtos brasileiros percam mercado para os chineses tanto no mercado internacional quanto no doméstico.
Segundo ele, o aumento da concorrência nos últimos anos está diretamente ligado ao preço dos produtos chineses. O economista lembrou que os custos de produção na China são bem menores do que os brasileiros por diversos motivos, entre eles menores salários.
Apesar dos fatores estruturais que dão vantagem à China no comércio internacional, a concorrência com os chineses aumentou a partir do momento em que o câmbio brasileiro acelerou sua valorização. "As dimensões estruturais pouco mudaram nos últimos anos, a grande alteração está na valorização do nosso câmbio", disse Castelo Branco.
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