CELSO MING
O Estado de S.Paulo
Por várias razões e, às vezes, por nenhuma, governo e empresários estão engasgados com a China. Pregam o fim da passividade diante do que entendem por concorrência predatória e desleal, mas fora das diatribes verbais, não sabem o que fazer.
Quando denunciou a existência de uma guerra cambial, por exemplo, o ministro Guido Mantega tinha como alvo preferencial o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que despeja moeda emitida nos mercados, desvaloriza o dólar e encharca as economias emergentes com avalanches de recursos. Como, no entanto, o yuan chinês está amarrado ao dólar e flutua com ele, também fica seriamente incomodado com a superdesvalorização da moeda chinesa e seus efeitos sobre o comércio do Brasil. Tanto é assim que o secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, identifica em Mantega um importante aliado para pressionar a China por uma revalorização do yuan.
O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, quer mais defesa comercial contra a invasão de produtos chineses. Mas, se fosse possível abrir mil processos antidumping e barrar importações da China com tarifas aduaneiras superiores a 35% (o que é proibido) e demais instrumentos burocráticos, ainda assim, é improvável que se consiga deter a entrada de produtos chineses. Eles chegariam disfarçados sob outra bandeira. De mais a mais, a Receita Federal não dá conta de inspecionar nem 20% das cargas que chegam ou que saem dos portos brasileiros.
Desde o governo Lula as autoridades da área fundiária pedem providências contra investimentos chineses em mineração e terras agricultáveis. Também o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson de Andrade, quer barrar os investimentos que tiram do jogo o produto brasileiro, mas não foi capaz de apontar instrumentos que não caracterizassem perversa reserva de mercado.
Um levantamento da própria CNI indica que 67% dos empresários brasileiros reclamam que seu produto está sendo alijado pela entrada de mercadorias chinesas a preços que não passam de uma fração dos praticados pela indústria local.
Uns depois dos outros, autoridades, empresários e sindicalistas querem barrar os chineses sob o argumento de que atropelam tratados da Organização Internacional do Trabalho, pagam salários ínfimos a trabalhadores submetidos a até o dobro da carga horária, que quase não têm férias e não recolhem contribuições previdenciárias. Mas como acusar esse regime trabalhista se, apesar dos salários de fome, o chinês ainda poupa 51% do que ganha? O problema é que essas condições mais a capacidade de manter o câmbio onde querem também podem ser consideradas vantagens comparativas dos chineses, portanto, dentro das regras.
Não só no Brasil, mas em todo o Ocidente, os produtores estão gravemente incomodados com a agressividade comercial da China. E sabem qual é uma das principais razões pelas quais ninguém consegue enquadrar os chineses? Ora, porque na China estão todas as multinacionais ganhando muito dinheiro. Estão lá a GM, a DuPont, a Procter & Gamble, a Nestlé, IBM, a Microsoft, a Matel... Engana-se demais o empresário e tantos outros que estão com a China entalada na garganta. O produto que chega aos portos brasileiros com etiquetas "made in China" é, mais que tudo, produzido pela GM, pela DuPont, pela Procter & Gamble... Então é para atacar para valer essas fortalezas?
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