Paulo Feldmann
O ESTADO DE SÃO PAULO
Algo errado está ocorrendo com o universo de 5,8 milhões de micro e pequenas empresas, que são 99,1% do total de empresas registradas no Brasil. Apesar de elas gerarem 53 milhões de empregos, são responsáveis por menos de 20% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Esse índice é um dos mais baixos do mundo. Na grande maioria dos países elas têm participação muito maior e, na Itália e na Espanha, por exemplo, respondem por mais da metade dos respectivos PIBs. Se olharmos para sua participação nas nossas exportações, os números são ainda piores: enquanto, na Itália, respondem por 43% das exportações do país, no Brasil elas são responsáveis por mísero 1,2%.
Onde está o problema? Uma recente pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) constatou que a principal razão é a baixa produtividade. Isso é consequência de vários aspectos que afetam não só as pequenas, mas também a totalidade das empresas que operam no Brasil, como a alta carga tributária ou as taxas de juros. No entanto, a pesquisa apontou que existem três fatores que são específicos e que afetam primordialmente a micro e a pequena empresa.
O primeiro fator é que os brasileiros, em sua maioria, optam por estabelecer atividades em negócios já testados e com baixo nível de inovação. A grande maioria do empreendedor brasileiro abre seu negócio não porque teve uma ideia inovadora, mas porque precisa sobreviver.
O segundo fator importante é de ordem cultural e está relacionado ao fato de o pequeno empresário brasileiro enxergar no seu concorrente um inimigo que deva ser abatido, e nunca um possível aliado. A união das microempresas é a razão do sucesso desse segmento na Itália, mas isso não existe no Brasil.
Finalmente, o terceiro fator é a falta de informação do pequeno empresário. A pesquisa constatou que a grande maioria desconhece desde a existência de linhas de financiamento especiais até os cursos de capacitação gratuitos.
Como superar isso?
Temos um bom modelo baseado em ajudar quem é pequeno e que funciona muito bem: o modelo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nossa agricultura é uma das mais eficientes do mundo em boa parte graças à Embrapa, que foi criada há 38 anos. O modelo ali adotado se baseia em a Embrapa fazer a pesquisa necessária, desenvolver a tecnologia e disseminar esse conhecimento para os agricultores. Mas não é justamente isso que está faltando alguém fazer para as micro e pequenas empresas? Nem seria necessário criar uma nova estatal, basta redirecionar o papel de alguma das inúmeras instituições que já atuam ligadas a essas empresas.
Durante a última campanha eleitoral a presidente Dilma Rousseff por diversas vezes externou a necessidade de apoiar muito mais vigorosamente a micro e a pequena empresa brasileira. Após assumir o governo, tem reiterado que sua meta mais importante é extirpar a miséria em nosso país. Os dois temas estão interligados, ou alguém acredita que seria possível gerar empregos para todos os excluídos que queremos incorporar à nossa economia?
A saída está em desenvolver o empreendedorismo. Isso significa eliminar a burocracia, facilitar o acesso ao crédito, reduzir taxas de juros, mas, principalmente, educar e capacitar essa imensa massa de brasileiros desvalidos para que tenham e administrem seu próprio empreendimento.
Ajudar a pequena empresa brasileira a ser inovadora, facilitar a realização de consórcios entre elas e disseminar informações importantes que melhorem sua gestão são os fatores que vão criar as condições para que elas tenham meios de superar sua crônica baixa produtividade. Sem um forte segmento de pequenas e microempresas produtivo, nunca teremos desenvolvimento sustentado.
*PAULO FELDMANN PROFESSOR DA FEA-USP, É DIRETOR DO CENTRO DO COMÉRCIO DA FECOMÉRCIO
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