sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mais devagar


CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO

O levantamento mais recente da produção industrial do Brasil, cujos resultados foram ontem divulgados pelo IBGE, mostra que a indústria vai desacelerando suas atividades mais rapidamente do que o esperado.

O resultado acumulado do ano passado ainda foi bastante positivo: crescimento de 10,5% em relação à produção do ano anterior. Mas a redução do ritmo vem se acentuando desde março-abril de 2009 e se aprofundou no último trimestre do ano. Não é fenômeno restrito apenas a três ou quatro subsetores. O enfraquecimento da produção está generalizado.

Um tanto paradoxalmente, ao contrário do que acontece nos países ricos, onde a atividade industrial está sendo retomada sem aumento do emprego, no Brasil a atividade industrial está se enfraquecendo numa situação de quase pleno emprego. Isso significa, também, que desta vez o empresário da indústria não pode contar, como no passado, com redução dos custos trabalhistas direta ou indiretamente (por meio da maior rotatividade da mão de obra).

Dá para dizer que esse desempenho bem mais fraco da indústria sentiu o fim da redução tributária concedida à venda de bens de consumo duráveis cujo resultado aparente mais importante foi a antecipação do consumo.

Esses benefícios haviam sido concedidos pelo governo federal durante a crise de 2008 como política anticíclica, de maneira a criar demanda em segmentos mais atingidos pela crise. O começo do enfraquecimento do desempenho coincide com o fim dessas vantagens fiscais.

Mas a desaceleração da produção também está relacionada com a perda de competitividade do produto brasileiro em relação ao fabricado lá fora. Reflete tanto a valorização do real como o aumento da agressividade do produtor externo num mercado global estreitado pela crise. Ao longo de 2010, o aumento das importações de bens de consumo duráveis pelo Brasil foi de 29,9%. Nem mesmo o forte crescimento do crédito, de 20,5%, foi suficiente para garantir demanda crescente para a indústria.

Sempre que, no passado, a indústria brasileira perdia espaço para o concorrente internacional, o governo rapidamente compensava esse atraso com "mais câmbio", ou seja, com desvalorização da moeda para que o produto nacional ficasse mais barato em dólares e o fabricado no exterior, mais caro.

Esse recurso já não é mais possível porque nada consegue reverter a atual fase de valorização do real. Tudo o que o governo tem conseguido é apenas retardar essa valorização. Este é um tema já várias vezes comentado nesta Coluna, que será objeto de nova avaliação dentro de alguns dias.

Em todo o caso, a saída é conhecida. É desoneração fiscal (menor carga tributária), acesso mais rápido a serviços de infraestrutura mais eficientes e baratos, além de redução dos juros. Ou seja, é proporcionar, por meio de diminuição de custos, os mesmos efeitos que antes eram produzidos por meio da desvalorização cambial. O problema é que isso exige renúncia a receitas tributárias e corte nas despesas correntes que o governo reluta demais em colocar em prática.
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