sábado, 5 de fevereiro de 2011

Política econômica do puxadinho

VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO 

Governo Dilma demora para anunciar grandes objetivos econômicos e por ora trata apenas de sugerir remendos

O governo alardeia que não ficaria quieto diante da alta do real e da invasão de importados e "dumpings" asiáticos. E então anuncia uns panos quentes para o câmbio. Pelo menos, a medida ajudou a baixar a dívida bruta e a despesa com juros necessários para enxugar o dinheiro na praça, que os bancos usavam para fazer festinha, faturando com juros e câmbio. Mas o caso do câmbio mesmo é muito mais sério.

O governo alardeia que "desoneração tributária" (baixar impostos) é uma prioridade. Então nota que não tem muito dinheiro e passa a estudar um corte nos impostos sobre salários para apenas algumas indústrias mais avariadas. Trata-se daqueles setores que ainda nem voltaram à produção de 2008: material elétrico & de comunicações, máquinas & aparelhos elétricos, metalurgia básica, vestuário, têxtil, talvez brinquedos. Tal medida, porém, é um remendo provisório de baixo impacto e escopo restrito.

O governo alardeia "desoneração tributária" num ano em que a inflação ameaça passar de 6% e o Banco Central sobe juros. Mas ano de inflação alta é ano de contenção fiscal, de corte de despesas e, no mínimo, de manutenção do nível presente de impostos. O governo vai compensar a renúncia de arrecadação de impostos com cortes em alguma outra rubrica de gastos? Vai nada. Mesmo sem "desoneração" já tem de fazer mágicas e macumbas a fim de apresentar um balanço com esse superavit fajutado de 3%.

O governo nota que não tem dinheiro MESMO e sussurra que não vai mais comprar aviões e navios de guerra e talvez adie essa maluquice sem sentido econômico ou social do trem-bala. E então volta a falar de caças russos e de colocar os notórios Correios no negócio do trem-bala.

O governo bate o pé e nega aumento do salário mínimo para além de R$ 545, mas parte do governo diz que pode dar um jeitinho e, ainda por cima, diz que pode reajustar a tabela do Imposto de Renda (baixar o imposto), mesmo depois de a presidente dizer que não o faria.

O governo em pessoa, a presidente Dilma Rousseff, foi ao Congresso dizer que a reforma tributária é "essencial". Mas isso é apenas blá-blá-blá, pois reformas dessa espécie numa Federação como a brasileira exigem que o governo central banque o custo de perdas e danos. Mas o governo central não tem dinheiro nem para pagar as despesas de investimentos deste e do ano passado; mal vai conseguir poupar o bastante para fazer com que a dívida pública (sobre o PIB) continue a cair.

Tudo isso é remendo. Puxadinho. Está certo que o governo começou faz um mês (embora a equipe básica seja mais ou menos a mesma e a campanha tenha sido longa o bastante para pensar num programa). Mas ainda assim é remendo.

Se o governo não anunciar uma paulada fiscal (talho de gastos), e logo, veremos juros na órbita de Marte, despesas de juros do tamanho de Júpiter, mais incentivo à valorização do câmbio e mais irracionalidade na administração de gastos e investimentos (é nisso que dá administração fiscal bagunçada, com gasto demais num ano e demasia de cortes no outro). E estamos falando apenas dos básicos de política macroeconômica. O que será do BNDES? Cadê reformas micro para desburocratizar e incentivar inovações em empresas e mercados financeiros? Está devagar, a coisa.
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