sábado, 12 de fevereiro de 2011

O PERIGO QUE NOS RONDA


JORNAL DO COMMERCIO (PE)

“A Região Metropolitana do Recife não difere muito dos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, no que diz respeito aos escorregamentos e desmoronamentos de massa. Um arranjo morfológico e litológico que favorece a formação de escarpas de elevadas declividades, um clima que tem como uma das características as chuvas torrenciais, e a ação antrópica em larga escala, fazem do Grande Recife um dos maiores focos de escorregamentos, provocando tragédias e prejuízos materiais, a cada inverno”. 

Esse trecho acima é parte do Projeto Grande Recife, de 1991. Não é o mais antigo e nem poderia ser mais atual. Ele diz que “a especulação imobiliária, a forte imigração interna e a crise sócio-econômica têm contribuído em muito para que as inúmeras tentativas de ordenar o processo de ocupação de áreas de riscos malogrem. A ocupação em larga escala dos morros da área norte do Grande Recife serve bem para ilustrar a dificuldade e a incapacidade dos municípios gerenciar de forma eficaz a ocupação”. Isso foi dito há 20 anos e hoje estamos assombrados com a possibilidade, real, de o Recife de amanhã ser o Rio e São Paulo de hoje, em relação a inundações e deslizamentos. 

Matéria deste JC traçou uma radiografia dos morros do Grande Recife, onde vivem hoje, em condições precárias, cerca de 150 mil pessoas, distribuídas por mais de três mil pontos mapeados como áreas de risco. Como mostrou nossa reportagem, há casas construídas em cima de barreiras que podem desabar a qualquer instante, com chuva mais forte. Há residências que foram condenadas pela Defesa Civil mas continuam ocupadas. Há ocupações irregulares de encostas e muito mais mostrando que há toda uma desordem urbana que pode resultar em tragédia a cada inverno. 

Em simpósio de pós-graduação em geografia no Estado de São Paulo, em setembro de 2008, estudiosos chamavam atenção para os perigos de deslizamentos de encostas, “principalmente nos centros urbanos dos países denominados emergentes, onde esses movimentos de massa são agravados em função da urbanização intensa e da construção de residências em encostas acentuadas”. Se durante o simpósio tivesse sido preconizada a tragédia que se abate sobre áreas de São Paulo e do Rio de Janeiro, hoje, e que pode se abater sobre o Recife ou Grande Recife amanhã, nenhuma surpresa despertaria, porque esses centros urbanos se ajustam inteiramente ao texto dos estudiosos. 

O estudo mostra que entre 1928 e 2005 houve 3.522 mortes associadas a deslizamentos no Brasil, sendo o maior deles em janeiro de 1967 na Serra das Araras, no Rio de Janeiro, com 1.700 mortes. O Recife e Camaragibe fazem parte das estatísticas em cinco oportunidades, bem menos que os registros que há muito tempo são feitos em todos os períodos de chuvas. Mas com mais precisão que os números, o que fica patente durante o simpósio de 2008 é o cenário já extensamente conhecido: "Os acidentes geológicos associados a deslizamentos no Brasil vêm aumentado e se caracterizando como sendo um dos mais graves". 
A gravidade está evidenciada hoje pelo acompanhamento de mais esse desastre natural que nos adverte que o perigo está instalado entre todos nós e exige bem mais que sua constatação. Há estudos abundantes mostrando a necessidade de serem adotadas políticas públicas permanentes – e não apenas quando a Nação inteira lamenta a perda de vidas – instalando ordem onde há o caos. E não se diga que o País não tem recursos para isso, pois eles são fartos como estudos técnicos, tanto quanto como meios financeiros. Basta ver como somos pródigos em gastos suntuosos em prédios públicos e ornamentação de gabinetes, sem falar no que vai pelo ralo com a má aplicação do dinheiro pago pelo contribuinte, de obras e serviços sobrefaturados a gastos com cartões de crédito e aposentadorias de dirigentes públicos sem cobertura de princípios constitucionais e éticos. 
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