Valor Econômico
Apesar dos investimentos previstos pelo governo no setor e o aumento da segurança nas usinas, a produção de energia nuclear no Brasil ainda encontra resistência de ambientalistas e especialistas no assunto. O discurso contrário ao crescimento dessa matriz é o alto custo de construção de usinas, a falta de destino para o lixo atômico e o risco de acidentes e vazamentos.
A saída, segundo especialistas, é investir em outras fontes renováveis, como eólica e solar, que trazem poucos riscos ao ambiente. "Tenho a plena convicção que o Brasil tem um enorme potencial de geração de energia elétrica a partir da solar e eólica", disse Heitor Scalambrini Costa, doutor em energética e mestre em ciência e tecnologia nuclear pela Universidade Federal de Pernambuco.
O uso de energia nuclear teve início depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A geração de energia por fissão nuclear viveu uma fase de forte expansão mundial na década de 70 e meados de 80, processo que foi interrompido com os acidentes em Three Mile Island, nos EUA, e Chernobyl, em 1986, na antiga União Soviética.
"A segurança aumentou após os acidentes, mas ainda não é livre de riscos", disse o coordenador de energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo. Um possível vazamento, segundo ele, pode afetar uma grande área. "O perigo total, entre vazamentos e depósito de lixo nuclear é grande. No acidente com Césio-137 em Goiânia, o equivalente a meia xícara de café do composto demonstrou um alto poder de contaminação radioativa. O risco pode ser pequeno, mas o impacto causado é grande", disse Baitelo.
Nos últimos anos, a retomada de projetos nucleares ganhou força com a perspectiva de ser uma alternativa mais "limpa" ao não emitir gases de efeito estufa durante a produção de energia. Depois dos acidentes na década de 80, os processos de segurança foram revistos e os riscos de catástrofes foram sensivelmente minimizados, embora ainda exista risco.
A destinação do lixo atômico é outro problema. O tratamento do resíduo se prolonga por milhares de anos, ou seja, é um ônus para gerações futuras. Para se ter uma ideia do que isso significa, atualmente os Estados Unidos analisam um método experimental de tratamento para reduzir essa atividade a 300 anos, alternativa que ainda custaria 10% da energia produzida. "O lixo atômico é o pior dos problemas da geração de energia nuclear. Nós não precisamos dessas usinas", disse Baitelo.
Para os especialistas, a escolha do Nordeste para instalação das usinas é um erro, dada a capacidade da região em produzir energia por meio de outras fontes. "A instalação não se justifica. A região é uma gigantesca fonte não explorada de geração solar e eólica", comentou Heitor Scalambrini Costa.
Segundo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já há métodos avançados na França para tratamento do lixo nuclear. "Os franceses já estão utilizando um método de reciclagem do próprio rejeito nuclear para gerar energia. Essa questão já está absolutamente resolvida", comentou.
Segundo Leonam dos Santos Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear e membro do grupo permanente de assessoria do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), 95% desse lixo - urânio não usado no ciclo de queima - pode ser reutilizado para gerar energia. Os demais 5% precisam ser acondicionados por pelo menos dez anos em piscinas para resfriamento.
Outro ponto destacado pelos defensores da energia nuclear diz respeito à pequena quantidade de combustível de urânio utilizada para geração de energia. Os estudos apontam é preciso queimar 100 toneladas de carvão de boa qualidade para gerar a mesma energia que apenas um quilo de urânio enriquecido é capaz de fornecer. Com dez quilos do combustível nuclear se gera energia equivalente a de uma tonelada de petróleo. "Esse assunto foi politizado por meio tempo e associado a governos ditatoriais", disse Guimarães. "Está na hora dessas posições serem revistas. A energia nuclear é um caminho para o país ter energia firme, durante todo o tempo, sem as oscilações de geração comuns a outras fontes."
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