quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cai uso de e-mail conforme jovens usam mais mensagens instantâneas e de texto

Matt Richtel 
Em San Francisco (EUA)

Os sinais de que você é velho: você ainda assiste filmes em um videocassete, escuta discos de vinil e fotografa com câmera com filme. E gosta de usar e-mail. Os jovens, é claro, preferem bate-papos online e mensagens de texto. Eles estão em ascensão há anos, mas agora estão ameaçando ofuscar o e-mail, assim como ultrapassaram as chamadas telefônicas.

Grandes empresas de internet como o Facebook estão respondendo com serviços de mensagem que são voltados para a gratificação imediata. O problema com o e-mail, dizem os jovens, é que ele envolve o processo tediosamente longo de acessar, digitar a linha de assunto e então enviar uma mensagem, que poderá levar horas para ser recebida ou respondida. E despedidas como “cordialmente” –sério?

Lena Jenny, 17 anos, um colegial em Cupertino, Califórnia, disse que enviar texto é tão rápido que “eu às vezes tenho que responder antes de fechar meu telefone”. E-mail, ela acrescentou, é “uma droga”. O Facebook está tentando apelar para as Lenas do mundo. Ele está implantando um serviço de mensagens que visa parecer menos um e-mail e mais como mensagens de texto.

A empresa decidiu eliminar a linha de assunto das mensagens após sua pesquisa mostrar que ela costumava ser deixada em branco ou usada para poucos úteis “oi” e “ei”. O Facebook também matou as linhas “com cópia” e “com cópia oculta”. E apertar a tecla enter envia imediatamente a mensagem, como uma mensagem instantânea, em vez da criação de um novo parágrafo.

As mudanças, dizem os executivos da empresa, deixam para trás as formalidades que separam os usuários do que desejam: conversa instantânea. “O futuro das mensagens é mais em tempo real, mais parecido com uma conversa e mais casual”, disse Andrew Bosworth, diretor de engenharia do Facebook, onde ele supervisiona as ferramentas de comunicações.

“O meio não é a mensagem. A mensagem é a mensagem.” Os números comprovam a tendência. O número total de visitantes nos Estados Unidos a grandes sites de e-mail como Yahoo e Hotmail atualmente está em constante declínio, segundo a empresa de pesquisa comScore. Essas visitas chegaram ao pico em novembro de 2009 e de lá para cá caíram 6%; as visitas entre jovens de 12 a 17 anos caíram 18%. (O único que ganhou na categoria foi o Gmail, que cresceu 10% em comparação há um ano.)

A queda no e-mail não reflete uma queda na comunicação digital; as pessoas simplesmente passaram para as mensagens instantâneas, mensagens de texto e Facebook (4 milhões de mensagens por dia). James E. Katz, diretor do Centro para Estudos de Comunicações Móveis da Universidade Rutgers, disse que não se trata da morte do e-mail, mas sim de um rebaixamento, graças ao maior número de opções e nuances entre as ferramentas de comunicação.

“É doloroso para eles”, ele disse a respeito da geração mais jovem e o e-mail. “Ele não se enquadra na intensidade social deles.” Alguns, previsivelmente, detestam a informalidade e as abreviações que são comuns nas transmissões breves, baseadas em telefone. Judith Kallos, que escreve um blog e livros sobre etiqueta de e-mail, se queixa do modo mais solto, breve e menos gramatical de escrever, dos pensamentos e emoções mais rasos por trás delas.

“Nós estamos seguindo por um caminho onde estamos perdendo nossa capacidade de nos comunicarmos com a palavra escrita”, disse Kallos. Mary Bird, 65 anos, de San Leandro, Califórnia, é outra tradicionalista, mesmo que reticente. “Eu não quero ser uma daquelas idosas que repreendem a forma de comunicação dos jovens”, ela disse. “Mas a arte da linguagem, a beleza da linguagem, está sendo perdida.”

A filha de Bird, Katie Bird Hunter, 26 anos, está no outro lado da divisão das comunicações digitais e considera seus pais como ultrapassados. “Eles ainda usam a AOL”, ela diz, deixando implícito pelo seu tom que considera isso um absurdo. Hunter diz que busca contatar os amigos primeiro por texto, depois por mensagem instantânea, depois por telefonema e só então por e-mail. “E então”, ela disse, “apesar de provavelmente nunca fazer esta última, aparecer na casa deles”.

Como muitos jovens, Hunter, que trabalha em uma construtora em San Francisco, diz que o e-mail tem o seu lugar –para trabalho e outros assuntos sérios, como compras online. Ela e outros dizem que ainda checam regularmente o e-mail, em parte porque pais, professores e chefes ainda o utilizam. David McDowell, diretor sênior de gestão de produto do Yahoo Mail, reconheceu que a empresa está vendo uma transferência para outras ferramentas, mas disse que se trata menos de um fenômeno de geração e mais um circunstancial.

Os jovens de 15 anos, por exemplo, têm menos motivos para enviar um anexo privado para um chefe ou instituição financeira. O Yahoo acrescentou funções como bate-papo e mensagem de texto ao seu serviço de e-mail para refletir a mudança de hábitos, assim como o Gmail, que também oferece telefonemas. “E-mail agora é apenas uma parte do Gmail”, disse Mike Nelson, um porta-voz do Google. “Ele também é videoconferência, mensagem de texto, mensagem instantânea, telefonema.”

Katz, o professor da Rutgers, disse que mensagens de texto e redes sociais se aproximam melhor da forma como as pessoas se comunicam pessoalmente –em trocas breves onde formalidades não importam. Com o tempo, ele disse, o e-mail continuará perdendo espaço para formatos mais rápidos, mesmo entre os mais velhos. A mudança nas tendências faz pessoas na faixa dos 20 anos já se sentirem velhas e ligeiramente desatualizadas, ou pelo menos pegas no meio.

Adam Horowitz, 23 anos, que trabalha como consultor de tecnologia para uma grande firma de contabilidade em Nova York, passa todo o dia com e-mails em seu escritório. Quando ele os deixa para trás, ele pega seu telefone e se comunica com seus amigos quase que totalmente por mensagens de texto. Mas às vezes ele se sente preso entre os dois, como quando ele envia mensagens de texto para seus irmãos mais novos, com 12 e 19 anos, que tendem a enviar mensagens ainda mais breves e rápidas.

“Quando eles me enviam mensagens de texto, elas vêm em um inglês irregular. Eu não tenho ideia do que estão dizendo”, diz Horowitz. “Eu posso não escrever sentenças inteiras, mas pelo menos há pontuação para transmitir minha ideia.” “Eu acho que sou um sujeito à moda antiga.”
Tradução: George El Khouri Andolfato
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