A reportagem faz um anúncio e revisão sobre tentativas de acordos comerciais entre China e Índia em função da aproximação desta com os EUA.
Se o pragmatismo prevalecer nas relações internacionais do novo governo, ao invés da ideologia e tentativa de ser líder global dos excluídos, com nosso dinheiro claro, por parte de Lula, as empresas brasileiras e nossa economia ganharão muito, uma vez que na Índia 400 milhões (mais do que o dobro de nossa população) evoluiu da classe E para a D e com micro-crédito disponível, têm condições da aumentar suas demandas para produtos diversos, notadamente agrícolas.
É mais uma chance de crescermos sem sobressaltos, falta só o Senado tentar, na nova legislatura, exercer o seu papel constitucional de orientador da política externa e não ficar a reboque do Executivo em troca de recursos de emendas no orçamento como fizeram ao permitir a Venezuela entrar no Mercosul.
Vale a pena acompanhar este fato.
China busca aproximação com a Índia e propõe acordo comercial
Jeremy Page e Tom Wright
The Wall Street Journal, de Pequim e Nova Déli
Valor Econômico
O premiê da China inicia amanhã sua primeira visita à Índia em cinco anos, numa tentativa de estabilizar um relacionamento crucial num momento em que Nova Déli se aproxima mais, em defesa e comércio, dos Estados Unidos e de vários outros países asiáticos ansiosos para conter o poder crescente de Pequim na Ásia e na Oceania.
Wen Jiabao deve chegar a Nova Déli, numa missão com cerca de 400 empresários - uma das maiores delegações comerciais chinesas a visitar Índia -, numa visita que a China espera que vá fortalecer a relação comercial entre os dois países e permitir que o primeiro banco chinês opere na Índia.
O governo chinês quer estabilizar as relações com os indicanos depois de uma série de disputas nos últimos dois anos por causa de fronteiras, vistos, recursos hídricos e do relacionamento da China com o Paquistão, rival regional da Índia.
O que preocupa a China agora é que a Índia - a terceira maior economia e o segundo maior Exército da região - tem sido atraída para uma aliança estratégica informal com os EUA e seus aliados asiáticos, para compensar o poderio militar e econômico crescente de Pequim.
Este ano, a China também confrontou o Japão por causa de ilhas disputadas pelos dois países no Mar do Leste da China, irritou o Vietnã ao defender as pretensões territoriais chinesas no Mar do Sul da China e antagonizou a Coreia do Sul ao se recusar a distanciar-se da Coreia do Norte.
As autoridades chinesas tentaram ontem suavizar o caminho para a visita de Wen, sugerindo a assinatura de um acordo de livre comércio para reduzir o superávit comercial do país com a Índia e minimizando a ideia de que há competição estratégica entre Pequim e Nova Déli, no ano que marca o 60º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países.
Espera-se que um dos principais resultados da visita de Wen seja um acordo do setor financeiro, que a China espera que abra caminho para o primeiro banco chinês operar na Índia, e que Nova Déli espera que incentive mais investimentos chineses, especialmente no desenvolvimento da infraestrutura indiana.
Mas as autoridades indianas deram a entender que a negociação de um acordo de livre comércio não estará na pauta quando Wen se reunir com Manmohan Singh, o primeiro-ministro da Índia, antes de viajar na sexta-feira para o Paquistão, para encontrar o primeiro-ministro Yousuf Raza Gilani.
As autoridades dizem que a China primeiro terá de abrir seu mercado para as exportações indianas de maior valor agregado, como tecnologia da informação ou produtos farmacêuticos, bem como responder aos contínuos questionamentos de Nova Déli sobre a disputada fronteira dos dois países no Himalaia, sobre um polêmico projeto chinês para desviar recursos hídricos e outras questões.
E, embora enfatizem a necessidade de laços comerciais mais estreitos com a China - atualmente o maior parceiro comercial da Índia -, as autoridades indianas também defendem mais cooperação com outros países preocupados com a agressiva diplomacia chinesa na região recentemente, como um meio de balancear o relacionamento entre os dois países.
"Certamente é preciso mais coordenação" entre os países asiáticos preocupados com a China, disse ao "Wall Street Journal" Nirupama Rao, o secretário das Relações Exteriores da Índia, que já foi embaixador em Pequim.
As novas parcerias "refletem a necessidade (...) de a China ser mais transparente, de a China ser mais franca sobre qual é a sua estratégia para a região".
A Índia continua relutante em criar alianças formais, em parte por causa de sua ligação histórica com o movimento dos países não alinhados, que impediu o país de se aliar oficialmente aos EUA ou à União Soviética na Guerra Fria. Como outros países da região, a Índia também está ansiosa para se esquivar do confronto direto com a China por causa da importância de seu relacionamento comercial com Pequim.
Mesmo assim, a Índia tem uma parceria estratégica com os EUA desde 2008, quando os dois assinaram um acordo que eliminou a proibição de a Índia importar combustível e tecnologia nuclear dos EUA, que já durava 30 anos. O acordo também abriu o caminho para mais exportação de armas americanas para a Índia e mais exercícios militares conjuntos.
No último ano, a Índia também tem incrementado as ligações comerciais e de defesa com o Japão, que está modificando sua doutrina de defesa, centrada nos perigos da Guerra Fria, para se concentrar numa possível ameaça militar da China.
A Índia e o Japão estão levando adiante planos de assinar um acordo de livre comércio e começaram este ano a realizar exercícios navais no Oceano Índico e no Mar do Japão, além de estabeleceram um cronograma de discussões de alto escalão sobre defesa e segurança.
Um acordo parecido entre a Índia e a Coreia do Sul entrou em vigor este ano, e Seul e Nova Déli também assinaram, durante a primeira visita oficial de um ministro de Defesa indiano à Coreia do Sul, em setembro, um acordo para produzir conjuntamente material bélico.
Em meados deste ano, o chefe do Exército da Índia visitou o Vietnã pela primeira vez em 15 anos, e uma frota naval indiana passou um mês no Oceano Pacífico visitando Indonésia, Vietnã, Austrália e Cingapura.
"Há uma aproximação natural" dos países que temem a ascensão da China, afirmou Rajan Menon, professor da City University de Nova York e especializado em assuntos asiáticos. "Esses países têm um problema em comum, que é a China."
O posicionamento mais duro da Índia em relação à China ficou evidente num despacho diplomático publicado pelo site WikiLeaks este mês, que descreve como o embaixador da Índia em Pequim pediu em fevereiro ao colega dos EUA mais cooperação devido à "abordagem mais agressiva da China".
A Embaixada da Índia não quis comentar o despacho.
Autoridades chineses têm contestado a ideia de que a Índia é um concorrente estratégico. "Os líderes de ambas as nações concordam que o mundo tem espaço suficiente para as duas economias emergentes crescerem", disse ontem o vice-ministro de Relações Exteriores da China, Hu Zhengyue, segundo a agência estatal de notícias Xinhua.
Especialistas em política externa chinesa dizem que a China evita ter batalhas em muitas frentes e se empenha em obter equilíbrio em suas relações com a Índia e os EUA antes da planejada visita do presidente Hu Jintao aos EUA, em janeiro.
"Nossos líderes estão bem cientes disto: este ano, o clima em torno da China não é tão bom quanto antes", afirmou Cheng Ruisheng, um ex-embaixador chinês na Índia.
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