quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A morte que ainda ronda o nascimento

Daqui a menos de vinte dias estaremos na segunda década do século XXI com pontos de baixíssimo rendimento e avanço.
Após tantos recursos investidos governo após governo, o que falta então?


A morte que ainda ronda o nascimento
Carolina Khodr
Correio Braziliense

Levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que o Brasil não consegue cumprir as metas da ONU para as mortalidades materna e infantil. No caso das mães, índices são tão preocupantes que estão distantes até da taxa considerada tolerável pela Opas

O levantamento Saúde Brasil 2009, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, apresentou dados sobre nascimentos e óbitos ocorridos no país até 2008. Com base nele, é possível notar que o Brasil ainda não atingiu as metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) relacionadas às mortalidades materna e infantil. De 2002 a 2007, a taxa de mortalidade materna no país ficou estável, embora distante do índice estipulado em 2000 pela ONU.

Reprodução de uma das reportagens do Correio: taxas iguais às de 1996
Ao analisar os maiores problemas mundiais, a entidade internacional estabeleceu oito objetivos do milênio, entre os quais, melhorar a saúde das gestantes. Em 2007, para cada 100 mil bebês nascidos vivos, 75 mães morreram, durante ou logo após o parto. A meta estabelecida pela ONU — e que deve ser cumprida até 2015 — é que esse número seja igual ou menor que 35. A situação brasileira fica pior quando comparada à taxa considerada tolerável pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que é de 20 óbitos para cada 100 mil bebês nascidos vivos.

De acordo com a secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Télia Negrão, dificilmente o Brasil vai conseguir alcançar a meta no prazo determinado. “Há indicação de redução da taxa de mortalidade materna, mas em patamares abaixo do esperado”, reconhece.

Outro problema citado por Télia Negrão está na prática do aborto. “O aborto inseguro interfere muito nos dados sobre saúde das gestantes. As mulheres brasileiras enfrentam riscos sérios com relação à interrupção da gravidez”, diz. Em 2007, das 1.590 mortes de grávidas, 8,3% foram causadas por aborto.

Ainda segundo a especialista, a Pesquisa Nacional de Saúde da Mulher apresentada esse ano constatou que 46% das mulheres brasileiras não têm acesso à informação ou instrumentos para o planejamento familiar. “É necessário que o próximo governo priorize essa questão, criando pactos de responsabilidade entre gestores estaduais e municipais”, diz.

Em relação à mortalidade infantil, as regiões Sul e Sudeste já alcançaram a meta estipulada pela ONU quanto à redução da mortalidade infantil. Mas a taxa nacional de bebês que morrem antes de completar cinco anos de idade só deve ser atingida em 2012, de acordo com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. O Nordeste é a região que apresenta as piores estatísticas. Em 2007, para cada mil bebês nascidos vivos na região, 26 recém-nascidos não sobrevivem e 32 bebês morrem antes de completar cinco anos.

Já a meta relacionada à taxa de desnutrição infantil conseguiu ser cumprida. Parte do primeiro objetivo do milênio, erradicar a extrema pobreza e a fome, foi alcançado. Segundo o Ministério da Saúde, aumento da escolaridade materna, melhoria do poder aquisitivo das famílias, aumento da cobertura de saneamento básico e melhoria da atenção à saúde de mulheres e crianças contribuíram para a conquista.

VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA

As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte entre os brasileiros. Mas, a pesquisa Saúde Brasil revelou que, em 2008, agressões e acidentes de transporte mataram 12,3% dos homens, superando as mortes causadas por doenças cerebrovasculares, que totalizaram 9,2% no mesmo período. O mesmo estudo também constatou o aumento de mortes de motociclistas, que já alcançou o número de óbitos de pedestres e condutores em acidentes de trânsito.

Francisco Matias, servidor público, 23 anos, comprou sua primeira moto há pouco mais de um ano, logo quando se mudou para Brasília, mas aprendeu a pilotar aos 11 anos na cidade onde nasceu, em Quixadá (CE). Ele reconhece os perigos enfrentados ao optar por esse meio de transporte e conta que já perdeu dois amigos em acidentes de moto. Os amigos de Francisco tinham 19 e 27 anos quando morreram no Ceará. “A moto nos deixa mais vulneráveis em um acidente, por isso o cuidado deve ser ainda maior. Nenhum dos meus amigos que morreram usava capacete”, lamenta. Dos 15 aos 29 anos de idade, o maior risco de morte dos brasileiros é para motociclistas e ocupantes de veículos em acidentes de trânsito.

Os homens morrem mais do que as mulheres, e de forma mais violenta. Eles representam 83% do total de mortos em acidentes e homicídios. (CK)
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