Este problema vivenciei e atribuo a um dos vetores da baixa qualidade da formação do cidadão e do trabalhador brasileiro. Parece haver um castelo de verdades intransponíveis. Enquanto houver uma garantia de que a conduta mais ideologizada do ensino prevalece livre de pressões externas nosso trabalhador não será competitivo e nosso cidadão não estará bem preparado para desenvolver nossa sociedade.
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ROSELI FISCHMANN
FOLHA DE SÃO PAULO
A escolha da escola significa, para os pais, formalizar valores e expectativas, ponderando possibilidades e limites, muitas vezes gerando tensão. Mas se a escola é importante, nada há que substitua, na formação, o papel da família, da dedicação do aluno, dos grupos frequentados.
Mas a estrutura competitiva vigente se imiscui pelo fazer educativo dos pais. Já não basta estudar na "melhor escola", que lhes consumirá muito do salário. É preciso "acompanhar" os demais em vestimentas, lugares que frequentam, viagens. Demonstrar, enfim, que estão "à altura" daquela escola desejada.
Inverte-se, assim, a relação, porque são as famílias que precisam ter certeza quanto à escola estar à altura de seus valores, o que inclui respeito por suas limitações e escuta de suas expectativas.
O caso do material escolar é emblemático. Culturalmente, pode ser utilizado como sinalizador de posses.
Em estrutura competitiva, tenta-se uniformizar por um lado, mas a busca de diferenciais de prestígio escapa por outro. Propor uma taxa, uniformizando material, pode simplificar a vida das famílias, resolvendo uma situação potencialmente tensa.
A falta de transparência, contudo, é problemática. Ao questionar a escola, talvez os pais temam ver seus filhos discriminados por sua família cobrar "migalhas". Ou sintam-se mal, depois de terem lutando para conseguir matricular seu filho ali.
Deixar claro o que os pais estão pagando é atitude que dignifica a escola, criando também melhor ambiente educativo para as crianças, que não precisarão presenciar a aflição parental em casa, depois abafada no contato com a escola, pelos receios que os assombram.
Prestar contas do que se faz (e exigi-lo) é atitude que auxilia o processo formativo, em particular em um país como o Brasil, onde a transparência precisa ser incorporada à cultura, pelo bem da educação e da democracia.
*Roseli Fischmann é docente da Pós-Graduação em Educação da USP e da Universidade Metodista de São Paulo.
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