PLANO DE PREVENÇÃO FOI IGNORADO
Adriana Vasconcelos
O Globo
Técnico diz que União deixou de investir R$115 milhões em radares para detectar desastres
O secretário demissionário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antônio Barreto de Castro, admitiu ontem, em audiência da Comissão Representativa do Congresso Nacional, que o governo falou muito e não fez nada para impedir tragédias como a da Região Serrana do Rio. O número de mortos em consequência das chuvas já chega a 762. Cerca de 400 estão desaparecidas, segundo o Ministério Público. Convidado pela senadora Marina Silva (PV-AC) para participar do debate, Barreto revelou sua luta, sem sucesso, para tentar incluir no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) investimento de R$115 milhões para implantação de um plano de radares que ajudaria a prever desastres ambientais em áreas de risco.
- Eu venho aqui dizer isso mesmo, falamos muito e não fizemos nada. Há dois anos fizemos um plano de radares para entrar no PAC 1, não conseguimos. Fomos orientados a entrar no PAC 2, ficamos fora. Aí eu perguntei para o meu ministério: E agora? O presidente disse que devíamos colocar no PCTI (Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação Governamental), que não teria fôlego para financiar os R$115 milhões - revelou o secretário que só aguarda a chegada de seu substituto, Carlos Nobre, para deixar o cargo.
Recursos não foram liberados
Barreto contou que foi criado, em agosto do ano passado, um grupo de trabalho que ouviu estados e instituições para definir um projeto piloto, que aproveitaria parte da estrutura já montada em algumas regiões e ajudaria a prevenir desastres ambientais. Embora o custo tenha sido reduzido para R$36 milhões, os recursos não foram liberados:
- Se gastarmos adequadamente R$36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem. Isso não significa que nós devemos gastar só os R$36 milhões. Nos próximos anos também vamos ter de gastar dinheiro. Mas o modelo é simples. Há dez anos fui à Venezuela e encontrei um sistema desses funcionando em Caracas, com uma sala de situação, onde as pessoas ficam sentadas todos os dias, em contato com a Defesa Civil e radares para prever chuvas.
Na opinião de Barreto, um grande sistema nacional de prevenção de catástrofes ambientais terá mais dificuldade de funcionar do que um programa descentralizado montado por prefeituras de médio porte, citando o sistema de alerta que está sendo implementado pela prefeitura do Rio.
Outro técnico que participou do debate no Congresso, o engenheiro civil André Pacheco revelou que, em janeiro do ano passado, o Clube de Engenharia do Rio e a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS) divulgaram uma lista de recomendações sobre ações para a segurança da população que vive em encostas. Segundo ele, se parte das medidas sugeridas tivessem sido tomadas, o número de vítimas na tragédia no Rio poderia ter sido menor.
Pacheco acha fundamental um mapeamento das áreas de risco em todo o país para as autoridades decidirem o que fazer com as construções nestas áreas, paralelamente à implantação de um centro de previsão de desastres ambientais.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou ontem que o sistema nacional de prevenções e alerta de desastres naturais vai estar pronto em quatro anos. Ele criticou governantes que não adotaram medidas para resolver o problema:
- Governos passados não fizeram isso em 510 anos. Vamos fazer o mais rápido possível. Também no passado não havia o desequilíbrio no clima que ocorre hoje, com intensificação das chuvas.
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