terça-feira, 12 de abril de 2011

Nas altas esferas


LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO 

Suponho que mesmo antes do combate entre Golias, representando os filisteus, e Davi representando os israelitas fosse comum as nações designarem lutadores para resolver suas diferenças sem a necessidade de batalhas demoradas e sangrentas que sacrificavam milhares. Um contra um era uma maneira prática e justa de fazer a guerra – mesmo que, no caso de Davi e Golias, a desproporção entre os combatentes fosse notória: Golias só tinha o tamanho e a força bruta, Davi tinha a juventude e a técnica, além de Jeová ao seu lado. (Há quem date daí a discussão sobre arte x força que, séculos mais tarde, viria dominar as conversas sobre futebol no Brasil). Não sei por que as atuais diferenças entre cristãos, muçulmanos e judeus não podem ser resolvidas da mesma maneira, os três lados designando seus heróis – no caso o deus de cada um – para representá-los num torneio nas altas esferas, poupando milhares de vidas entre os seus seguidores aqui embaixo. O Deus cristão, Alá e Jeová decidiriam, de alguma forma – talvez em duelos de relâmpagos, ou no mínimo no par ou ímpar – qual dos três é a única divindade legítima, desobrigando seus fiéis 
na Terra de recorrerem a bombas e Tomahawks. Sei lá, é só uma ideia.

CHUCHU II
No domingo passado escrevi sobre o chuchu. Mais especificamente sobre a origem da expressão “pra chuchu”, e como seria sua tradução em inglês. Só revelei minha total ignorância de botânica e etimologia, como não pararam de me dizer parentes, amigos e leitores. Usa-se “pra chuchu” como sinônimo de muito porque chuchu vem de uma trepadeira especialmente dadivosa, que o produz... bom, pra chuchu. O nome do vegetal em inglês é “chayote” mas este também é o seu nome em espanhol, pois ele nasceu no México. O nome vem de “chayohtli”, na língua nahuatl. Em francês “chou” é couve mas lá dizem muito, para filhos e amantes, “chou-chou”, como em “viens, mon chou-chou”. Na Índia ele se chama “chow-chow”.
É da mesma família do pepino e do melão, mas eles negam.

FRACASSO
Talvez já tenha havido um acordo nas altas esferas, uma decisão dos três grandes de se aposentarem e terceirizarem a função de gerir o universo, devolvendo-a aos velhos deuses pagãos. Pois se a história do mundo nos últimos séculos ensina alguma coisa é o fracasso dos monoteísmos.
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