Segmento politizado e com formação doutrinária diferente dos militares das Forças Armadas daquele país.
A leitura agora da mídia ilumina somente um evento fortuito ao mesmo tempo que precisa esclarecer como tais pressões chegaram a este ponto de quase ruptura. Correia, por ser adepto ao bolivarianismo e ter Chávez como ícone, esvaziou paulatinamente as FFAA dos processos de desenvolvimento e de união nacional. O evento da guerrilha das FARC no território equatoriano e a proteção que esse presidente dava, ainda que discretamente, àquele movimento dividiu a nação. Relembrando-se a dificuldade de acesso aos recantos mais ínvios daquele país por problemas de geografia e de infra-estrutura, o Estado não penetra adequadamente em todos os distritos e estes ficam a mercê, ainda, de influências políticas quase que feudais, em pleno século XXI.
O modelo econômico de influência chavista não está promovendo o desenvolvimento, não há tanto dinheiro no bolso tampouco alimento regular nas mesas. A polícia, com fortes origens politizadas, está mais em contato com a população do que, propriamente, as FFAA.
A UNASUL, que agora tem uma preponderência doutrinária influenciada por Chávez não deverá ser o melhor instrumento para mediar o problema, ainda que interno. O país, apesar da mídia de lá falar o contrário, não está, no todo, apoiando Correa assim como apoia Lula aqui.
As condições de desenvolvimento econômico para aquele país são piores e mais difíceis que no país.
Por quê eu sei disso? Além de estudos tive colegas e alunos tanto das FFAA equatorianas como da Polícia daquele país.
Vale a pena acompanhar o fato.
.Rebelião leva o Equador a estado de exceção
Correa denuncia tentativa de golpe e decreta estado de exceção no Equador
O Estado de S. Paulo - 01/10/2010
O presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou "tentativa de golpe de Estado" e decretou estado de exceção no país após crise iniciada com urna rebelião de policiais militares, descontentes com lei que corta benefícios da categoria. 0 governo acusa a oposição de insuflar o movimento. Tropas tomaram os principais regimentos, o aeroporto de Quito e o Congresso. A cúpula militar anunciou fidelidade a Correa. A OEA aprovou resolução de "repúdio a qualquer tentativa de rompimento da ordem institucional".
Presidente é isolado em hospital de Quito após acabar ferido por policiais militares rebeldes que haviam tomado os principais regimentos, o aeroporto e o Congresso, em Quito; cúpula das Forças Armadas e do governo prometem manter-se fiel ao líder
QUITO
O presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou ontem uma "tentativa de golpe de Estado" e decretou estado de exceção diante da crise iniciada com uma ampla rebelião de policiais. Soldados da Polícia Nacional tomaram pela manhã os principais quartéis e o aeroporto da capital, além do Congresso. A cúpula militar e todos os integrantes do governo, porém, garantiram que permanecerão fiéis a Correa.
Até ontem à noite, os confrontos tinham deixado 1 morto e pelo menos 50 feridos, de acordo com o governo e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Entre os feridos, a entidade incluiu o próprio Correa - um partidário da "revolução bolivariana" liderada pelo venezuelano Hugo Chávez - e o ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño. Os policiais teriam se revoltado com uma lei enviada pelo governo ao Congresso, que corta benefícios de funcionários públicos. Correa acusou a oposição de patrocinar a desobediência para derrubar o governo e "reverter a revolução cidadã".
"Trata-se de uma tentativa de golpe de Estado da oposição e certos grupos nas Forças Armadas e Polícia - basicamente a Sociedade Patriótica", disse o presidente, em referência ao partido do ex-presidente Lucio Gutiérrez (2003-2005). Exilado em Brasília, o ex-mandatário negou envolvimento no suposto complô.
Sequestro. Correa feriu-se após ir até o principal quartel rebelado, onde foi recebido com bombas de gás lacrimogêneo. "Senhores, se querem matar o presidente, aqui estou. Podem fazê-lo", afirmou o líder, afrouxando a gravata e arregaçando as mangas da camisa. "Matem, se têm valor."
Em meio à tensão, Correa, que havia recentemente operado a perna, acabou ferido e levado a um hospital militar. De acordo com integrantes do governo, o líder equatoriano estava sendo mantido à força no hospital. O presidente chegou a dizer que soldados tentavam invadir o quarto em que estava e afirmou que temia por sua vida. "Só saio deste hospital como presidente ou como cadáver", afirmou Correa, por telefone, em entrevista a uma rádio.
Segundo o próprio presidente, soldados em greve tentaram invadir seu quarto pelo teto do hospital. Horas depois, ele teria recebido uma delegação de policiais em greve para negociar, segundo informações da imprensa equatoriana. Correa, porém, disse no final da tarde à imprensa que não haveria "nenhum diálogo" com os policiais em greve. "Com essas ações, esqueça qualquer acordo ou qualquer diálogo", afirmou o presidente à TV pública do país.
Invasão. À noite (21h, horário local), dois caminhões do Exército chegaram ao hospital para resgatar o presidente. Eles dispararam contra os policiais, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo. As luzes do prédio foram cortadas. Imagens de TV mostraram uma intensa troca de tiros por 20 minutos.
No fim, Correa teria deixado o hospital em um carro com o qual foi levado para o palácio presidencial, onde apareceu na sacada e saudou seus partidários. "Lá estava gente de Lucio Gutierrez, infiltrados, atiçando a violência. Quanta irresponsabilidade", disse Correa. Até o início da madrugada, autoridades não haviam informado o número de mortos e feridos na operação.
Correa estaria considerando a possibilidade de dissolver o Congresso e convocar eleições antecipadas para o Legislativo e o Executivo, em busca de mais apoio para governar. Prevista na Constituição, a medida é conhecida como "morte cruzada"
O projeto de reforma do funcionalismo já havia causado atritos entre Correa e sua coalizão no Legislativo. Aliados do governo chegaram a vetar pontos do texto. A grave crise política e a falta de policiamento deram início a uma espiral de violência e saques nas ruas do país. Diante do hospital onde Correa foi internado após ser ferido por policiais rebeldes, milhares de partidários do líder entraram em choque com soldados em greve.
A multidão de simpatizantes de Correa havia sido convocada por Patiño para "resgatar" o presidente. O próprio ministro acabou vítima da violência dos policiais, que o feriram na cabeça quando ele entrava no hospital. Imagens mostravam manchas de sangue na camisa de Patiño.
Violência. A polícia buscou frear à força milhares de pessoas que seguiam na direção do hospital, no norte de Quito. O encontro deu início a uma violenta troca de bombas de gás lacrimogêneo e pedras entre os dois lados. Há também relatos de agressões de policiais rebelados contra jornalistas.
"Aqui não é Honduras. Correa é nosso presidente", dizia um cartaz empunhado por partidários do governo. Vários políticos aliados a Correa juntaram-se aos partidários que seguiam na direção do hospital. "Os cidadãos estão tratando de ir resgatar o presidente", disse o vice de Correa, Lenín Moreno. De acordo com ele, o líder equatoriano havia sido "sequestrado" pelos militares e mantido à força no hospital.
Do meio da multidão que se enfrentava com policiais, a ministra de Obras Públicas, María de los Ángeles Duarte, disse que equatorianos "de todos os cantos" marchavam juntos pela "democracia". "Os policiais estão atirando bombas de gás lacrimogêneo contra ministros, senhoras e crianças", afirmou.
Além da violência em Quito, há relatos de saques em várias cidades do país. Pelo menos dois bancos, um posto de gasolina e um mercado de Guayaquil - segunda maior cidade do país - teriam sido atacados por saqueadores. Todas as escolas tiveram suas aulas suspensas e, em várias regiões, trabalhadores foram mandados para casa.
O presidente do Banco Central, Diego Borja, teve de sair a público para pedir que equatorianos não retirassem grandes somas, desestabilizando a economia - dolarizada desde 2000 . "O pior que pode ocorrer agora é entrar em pânico, sacar dinheiro e colocar-se em risco, porque vão sair do banco e ser assaltados." / EFE E REUTERS
PARA ENTENDER
Corpo policial não se reporta ao Exército
A Polícia Nacional do Equador não está formalmente submetida às Forças Armadas do país, como em vários países da América Latina. De acordo com a Constituição equatoriana, a força policial fica sob o comando do Ministério de Governo, Polícia e Cultos - uma espécie de "Ministério do Interior", de natureza civil. Grande parte dos quadros da Polícia Nacional decidiu pela rebelião aberta contra Correa após o governo tentar aprovar um pacote de lei que retirava benefícios da categoria. No entanto, o comando das Forças Armadas do Equador garantia, até ontem à noite, que se manteria ao lado do governo constitucional. Com o estado de exceção, a força policial deverá agora dar lugar às Forças Armadas, que passam a ter todo o poder de polícia.
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Correa denuncia tentativa de golpe e decreta estado de exceção no Equador
O Estado de S. Paulo - 01/10/2010
O presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou "tentativa de golpe de Estado" e decretou estado de exceção no país após crise iniciada com urna rebelião de policiais militares, descontentes com lei que corta benefícios da categoria. 0 governo acusa a oposição de insuflar o movimento. Tropas tomaram os principais regimentos, o aeroporto de Quito e o Congresso. A cúpula militar anunciou fidelidade a Correa. A OEA aprovou resolução de "repúdio a qualquer tentativa de rompimento da ordem institucional".
Presidente é isolado em hospital de Quito após acabar ferido por policiais militares rebeldes que haviam tomado os principais regimentos, o aeroporto e o Congresso, em Quito; cúpula das Forças Armadas e do governo prometem manter-se fiel ao líder
QUITO
O presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou ontem uma "tentativa de golpe de Estado" e decretou estado de exceção diante da crise iniciada com uma ampla rebelião de policiais. Soldados da Polícia Nacional tomaram pela manhã os principais quartéis e o aeroporto da capital, além do Congresso. A cúpula militar e todos os integrantes do governo, porém, garantiram que permanecerão fiéis a Correa.
Até ontem à noite, os confrontos tinham deixado 1 morto e pelo menos 50 feridos, de acordo com o governo e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Entre os feridos, a entidade incluiu o próprio Correa - um partidário da "revolução bolivariana" liderada pelo venezuelano Hugo Chávez - e o ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño. Os policiais teriam se revoltado com uma lei enviada pelo governo ao Congresso, que corta benefícios de funcionários públicos. Correa acusou a oposição de patrocinar a desobediência para derrubar o governo e "reverter a revolução cidadã".
"Trata-se de uma tentativa de golpe de Estado da oposição e certos grupos nas Forças Armadas e Polícia - basicamente a Sociedade Patriótica", disse o presidente, em referência ao partido do ex-presidente Lucio Gutiérrez (2003-2005). Exilado em Brasília, o ex-mandatário negou envolvimento no suposto complô.
Sequestro. Correa feriu-se após ir até o principal quartel rebelado, onde foi recebido com bombas de gás lacrimogêneo. "Senhores, se querem matar o presidente, aqui estou. Podem fazê-lo", afirmou o líder, afrouxando a gravata e arregaçando as mangas da camisa. "Matem, se têm valor."
Em meio à tensão, Correa, que havia recentemente operado a perna, acabou ferido e levado a um hospital militar. De acordo com integrantes do governo, o líder equatoriano estava sendo mantido à força no hospital. O presidente chegou a dizer que soldados tentavam invadir o quarto em que estava e afirmou que temia por sua vida. "Só saio deste hospital como presidente ou como cadáver", afirmou Correa, por telefone, em entrevista a uma rádio.
Segundo o próprio presidente, soldados em greve tentaram invadir seu quarto pelo teto do hospital. Horas depois, ele teria recebido uma delegação de policiais em greve para negociar, segundo informações da imprensa equatoriana. Correa, porém, disse no final da tarde à imprensa que não haveria "nenhum diálogo" com os policiais em greve. "Com essas ações, esqueça qualquer acordo ou qualquer diálogo", afirmou o presidente à TV pública do país.
Invasão. À noite (21h, horário local), dois caminhões do Exército chegaram ao hospital para resgatar o presidente. Eles dispararam contra os policiais, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo. As luzes do prédio foram cortadas. Imagens de TV mostraram uma intensa troca de tiros por 20 minutos.
No fim, Correa teria deixado o hospital em um carro com o qual foi levado para o palácio presidencial, onde apareceu na sacada e saudou seus partidários. "Lá estava gente de Lucio Gutierrez, infiltrados, atiçando a violência. Quanta irresponsabilidade", disse Correa. Até o início da madrugada, autoridades não haviam informado o número de mortos e feridos na operação.
Correa estaria considerando a possibilidade de dissolver o Congresso e convocar eleições antecipadas para o Legislativo e o Executivo, em busca de mais apoio para governar. Prevista na Constituição, a medida é conhecida como "morte cruzada"
O projeto de reforma do funcionalismo já havia causado atritos entre Correa e sua coalizão no Legislativo. Aliados do governo chegaram a vetar pontos do texto. A grave crise política e a falta de policiamento deram início a uma espiral de violência e saques nas ruas do país. Diante do hospital onde Correa foi internado após ser ferido por policiais rebeldes, milhares de partidários do líder entraram em choque com soldados em greve.
A multidão de simpatizantes de Correa havia sido convocada por Patiño para "resgatar" o presidente. O próprio ministro acabou vítima da violência dos policiais, que o feriram na cabeça quando ele entrava no hospital. Imagens mostravam manchas de sangue na camisa de Patiño.
Violência. A polícia buscou frear à força milhares de pessoas que seguiam na direção do hospital, no norte de Quito. O encontro deu início a uma violenta troca de bombas de gás lacrimogêneo e pedras entre os dois lados. Há também relatos de agressões de policiais rebelados contra jornalistas.
"Aqui não é Honduras. Correa é nosso presidente", dizia um cartaz empunhado por partidários do governo. Vários políticos aliados a Correa juntaram-se aos partidários que seguiam na direção do hospital. "Os cidadãos estão tratando de ir resgatar o presidente", disse o vice de Correa, Lenín Moreno. De acordo com ele, o líder equatoriano havia sido "sequestrado" pelos militares e mantido à força no hospital.
Do meio da multidão que se enfrentava com policiais, a ministra de Obras Públicas, María de los Ángeles Duarte, disse que equatorianos "de todos os cantos" marchavam juntos pela "democracia". "Os policiais estão atirando bombas de gás lacrimogêneo contra ministros, senhoras e crianças", afirmou.
Além da violência em Quito, há relatos de saques em várias cidades do país. Pelo menos dois bancos, um posto de gasolina e um mercado de Guayaquil - segunda maior cidade do país - teriam sido atacados por saqueadores. Todas as escolas tiveram suas aulas suspensas e, em várias regiões, trabalhadores foram mandados para casa.
O presidente do Banco Central, Diego Borja, teve de sair a público para pedir que equatorianos não retirassem grandes somas, desestabilizando a economia - dolarizada desde 2000 . "O pior que pode ocorrer agora é entrar em pânico, sacar dinheiro e colocar-se em risco, porque vão sair do banco e ser assaltados." / EFE E REUTERS
PARA ENTENDER
Corpo policial não se reporta ao Exército
A Polícia Nacional do Equador não está formalmente submetida às Forças Armadas do país, como em vários países da América Latina. De acordo com a Constituição equatoriana, a força policial fica sob o comando do Ministério de Governo, Polícia e Cultos - uma espécie de "Ministério do Interior", de natureza civil. Grande parte dos quadros da Polícia Nacional decidiu pela rebelião aberta contra Correa após o governo tentar aprovar um pacote de lei que retirava benefícios da categoria. No entanto, o comando das Forças Armadas do Equador garantia, até ontem à noite, que se manteria ao lado do governo constitucional. Com o estado de exceção, a força policial deverá agora dar lugar às Forças Armadas, que passam a ter todo o poder de polícia.
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