segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conferência do Clima traz avanços

JORNAL DO COMMERCIO (PE)


A passos lentos e com hesitações que causam atrasos no percurso, a diplomacia ambiental vai alcançando pequenas conquistas que podem fazer a diferença para a manutenção da biodiversidade como a conhecemos, e para a sobrevivência futura do ser humano na Terra. Encerrada em Cancún, no México, na semana passada, a 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (COP-16) contou com a participação de 190 países e evoluiu na única direção em que toda proposta de redução de emissão de gases poluentes tem estancado: o apoio financeiro para que as nações pobres possam colaborar no esforço global de estabilização climática. Imagina-se que os recursos serão destinados principalmente à promoção da energia limpa e investimentos contra os efeitos da desertificação, embora o detalhamento do uso tenha ficado para depois.

O acordo acertado é o desdobramento do que foi conversado há um ano, em Copenhague, na Dinamarca, e estipula a criação de um fundo mundial anual, patrocinado pelos países ricos, que deverá chegar em 2020 à cifra de US$ 100 bilhões. No fim do ano que vem, outra rodada de negociações está agendada para acontecer em Durban, na África do Sul, onde se espera um passo adiante na definição de metas de redução mais duras pelos países industrializados. O protocolo de Kyoto, único documento de âmbito mundial com vistas à diminuição dos gases poluentes, também estará na pauta em 2011, já que a vigência de sua primeira fase é somente até 2012. Gigantes econômicos como os Estados Unidos, a China, a Índia e o Japão estão entre os que se opõem a tratados gerais com objetivos obrigatórios. E sem eles, os acordos perdem viabilidade.

O Brasil foi o primeiro dos emergentes a apresentar uma meta transformada em decreto – o de número 7.390, que prevê a emissão máxima de pouco mais de dois bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020, resultante do corte de 36% nas emissões nacionais. Ficou faltando saber como o governo brasileiro espera obter a façanha, e ao mesmo tempo manter o ritmo de crescimento econômico esperado para a década. De qualquer maneira, a meta é um marco.

Sem haver mais dúvidas de que a destruição das matas é uma atividade predatória que prejudica a biodiversidade planetária e compromete a saúde de todas as espécies que habitam o planeta, os ecologistas, os diplomatas e os representantes dos governos penam há anos para arranjar meios de atuar concretamente para impedir o seu progresso, ligado estreitamente a questões concernentes às economias locais. Em Cancún, foi finalmente resolvido que os países onde ocorre o desmatamento das florestas tropicais deverão receber compensações financeiras para que promovam a interrupção desse processo, que representa 15% da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Apenas a Bolívia foi contra a medida, por razões ideológicas, alegando que desse modo converte-se a natureza em mercadoria e se dá continuidade à engrenagem do sistema capitalista que seria, em última instância, responsável pelo consumo voraz da natureza. Para o vice-presidente da Bolívia, o sociólogo Álvaro García Linera, é a lógica de produzir e acumular que tem causado danos ao meio ambiente, e o fortalecimento de um mercado virtual de carbono acentuaria os problemas.

Os críticos do consumismo não deixam de ter evidente razão ao apontar a necessidade urgente de engajamento e comprometimento político das nações ricas com a causa, a fim de que a reversão do aquecimento global seja algo factível. No entanto, os pequenos avanços de Cancún não podem ser negados. Outro consenso das contínuas negociações acerca do tema é de que a questão climática, dentro do contexto maior da questão ambiental, não pode ser dissociada das realidades econômicas e sociais de cada país. Este é o grande desafio. Relutar diante do problema por imperativos conceituais de cunho político pode significar muito tempo perdido. Uma década já se passou e o século 21 não ostenta a ética ambiental que a vida no planeta requer. Tomara que agora, a partir de Cancún, vejamos motivos de otimismo.
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