segunda-feira, 10 de maio de 2010

Adolescentes de Terceira Idade...e o povinho desta terra.


Conforme diz um grande amigo, sou um observador crítico da sociedade brasileira. Já era antes, depois de ler as obras de antropologia de Roberto DaMatta e o livro "A cabeça do Brasileiro" fiquei mais ainda. Outro fator que me faz permanecer com tal percepção é o comportamento diuturno de membros da sociedade brasileira.

Assim, não acredito que alcancemos, nem em 2015 nem no fim desta década, a posição de quinta economia do mundo.

Muitos países tinham riquezas minerais, capacidade de promover agricultura competitiva aos padrões da época, contudo não conseguiram avançar na economia mundial em função do nível de excelência de controle e de governaça social e pública que existiam nos países europeus, bem como na incipiente nação americana mercê dos esforços de Thomas Jefferson, Franklin e outros. Falo da Rússia Kzarista, da  China provinciana, da Índia dominada pela Inglaterra e de outros países na Ásia e Oriente Médio.

O que diferenciavam uns dos outros? A percepção e preocupação do cidadão comum com o coletivo, a gestão da coisa pública e sua visão de ser parte do todo e não dependente ou "esperante" de decisões de governo e Igreja.

Nossa sociedade entendeu errado os conceitos básicos de nossa Constituição. Assim, a preocupação do "indivíduo potencialmente desassistido" prevalece sobre sua obrigação, deveres e postura para com o bem-comum, para com a coisa pública e o coletivo. Primeiro eu! Meu direito Constitucional! Se é ético ou não, não importa! Entra-se na "Justiça" a fim de se ganhar algo ou deixar de fazer algo para o bem-comum.

Da mesma forma, ainda que de uma maneira enviezada de se perceber tais comportamentos, vemos uma enxurrada de buscas por compensações públicas alegando raízes de raças, credos e etnias que permitam uma "eternização" de direitos, novamente, "garantidos pela Constituição". De que forma, ainda que com riquezas do "berço explêndido" jorrando nos quintais de nossas casas, poderemos suportar eternamente uma carga tributária de mais de 38% do PIB e ainda tendo consideráveis parcelas da sociedade querendo direitos financeiros tornados perenes por via legal e constitucional?

Bem, procuro ser um cidadão ético, passar isto para minhas filhas e próximos, mas confesso que cada dia que passa sinto-me um ET. Quando passo em vias de acesso é comum "puxadinhos" oferecendo comida e serviços que, via de regra, roubam energia do público por intermédio do "gatilho, gato, macaco" e toda uma fauna representativa de nossas irresponsáveis ações.

O que para mim retrata melhor o comportamento do cidadão é o estacionamento de supermercados e shopping centers. Ali o irresponsável reina absoluto. Não se sente atingido por leis de trânsito e, até, protegidos com a preocupação da empresa em não incomodar o cliente, assim, pára-se onde e como se quer.

Ontem, após sair do shopping, passagem lamentável até, estava desanimado com a idéia de uma vendedora que me sugeriu ir à uma feira de calçada no centro do Recife para comprar um carregador de vídeo-jogos. Eu queria algo com nota fiscal, sério, preferencialmente por lojas representantes. Estava com milha filha, pequena mas observadora. A vendedora disse que eu perderia tempo em buscar em lojas de informática ou correlatas. Não acreditei e andei de graça, pois alguns dentre os demais foram céleres em também me indicar a feira, padrão "robauto peças" de Acari no RJ.

Bem, tentei, então, um CD de uma série de televisão para adolescentes. "Só por encomenda, mas o senhor acha o CD e o DVD na feira ou em alguns restaurantes onde ambulantes oferecem uma miríade de DVDs piratas." Se oferecem e tem em grande número é porque há mercado e se há mercado é porque os "acho-que-não-sou-alienado-e-sim-democraticamente-consciente" cidadão está lá para comprar.

E minha filha assistindo...

Joguei a toalha, abandonei célere o lotado shopping center com minha filha em silêncio. "Vou tentar pela internet amanhã, prometi."  E ela em silêncio.

Para meu espanto e tristeza geral, no estacionamento, testemunho um casal de jovens, de cerca de vinte anos, estacionando languidamente em vaga de idosos. Papai, diz minha filha, veja:  "adolescentes de terceira idade!!" . O olhar da garota infratora foi de nojo e desdém para com minha filha. Eu disse de imediato: "Parabéns, filha, vc me alertou para algo que pessoas decentes jamais fazem!!"

De que forma poderemos ser Nação de primeiro mundo e  nele permanecermos se o cidadão age desta forma? Como explicar para ele que as nações desenvolvidas só lograram êxito em função da maturidade social alcançada após o sofrimento coletivo com invasões, guerra e invernos rigorosos? Será que entenderiam? Será que levariam a sério esta proposta de se rever valores e comportamentos? Lamentavelmente, duvido muito. Não está no nosso DNA social. Assim não fomos contemplados e não vejo nenhum movimento ou liderança para tornar isto possível.

E entrei no carro revoltado mais feliz, pois minha filha, pelo menos, havia entendido o que ocorrera e aceitara esperar uma semana para jogar seu joguinho.

Bem, quando inciando minha vida em Barbacena, um professor de história contou uma piada que jamais esqueci e retrata bem meu desabafo:

"Após descançar, ao longo do sétimo dia, Deus estava em uma repousante siesta quando o Arcanjo Gabriel o acordou para comentar algo que lhe parecia inadequado.

Senhor Deus, longe de mim questionar sua sapiência, mas observe o que o Senhor fez. Enquanto países inteiros padecem sob rigoroso inverno, secas, maremotos, terremotos e têm poucas riquezas espie aquele silvestre país, tranquilo e lampeiro mirando o mar e repleto de passarinhos e macaquinhos serelepes de galho em galho. Vêdes que eles foram mais agraciados que os demais, pois lá não haverá muito do que ocorrerá nos outros países...até vizinhos!!

"Gabriel, disse complacente Deus. Vou considerar sua ignorância. De fato além de sapiente sou oniciente. Nada há de errado com aquele feliz país...por enquanto!!"

"Como não, Altíssimo? Retrucou com espanto Gabriel"

"Complacente, Deus responde: Deixa ver o povinho que vou botar naquela terra!"
.

5 comentários:

  1. Jefferson, compartilho de sua agonia... Vejo que quanto mais o tempo passa mais egoísta nos tornamos... E aí me incluo porque, talvez não tão "descaradamente" e mesmo me policiando, em alguns momentos percebo a contaminação social dos MEUS direitos. Valeu a reflexão. Abraço, Janine

    ResponderExcluir
  2. Já é um avanço societal você, eu, tantos outros estarem conscientes.

    Roma foi feita em muitos dias.

    Também chegaremos lá, devagarinho, bem depois de 2016, numa outra Olimpíada.

    Também há ascenção e decadência entre nações: consumo de drogas é um indicador social. Zurique, Toronto, Nova Iorque, Londres se afundam no Eccstasy.

    ResponderExcluir
  3. É meu amigo, estamos na terra do vale tudo, onde a individualidade jamais se curvará ao coletivo.Terra da "lei de gerson" e de um povo imbecil, governada por imbecis , onde corremos o risco de nos tornarmos também algo parecido a curto prazo ( ou não vamos sobreviver!!)Fernando.

    ResponderExcluir
  4. Jefferson, uma das maiores felicidades que podemos alcançar neste mundo, é testemunhar o fato de termos gerado bons frutos.

    E vc já pode se considerar como um desses felizardos, pois o que pude perceber pelo relato acima é que a sua filha, embora pequena, já apresenta os primeiros indícios de maturidade moral. Vc só tem de continuar incentivando-a a cultivar esses valores a cada dia. E a melhor forma de incentivo não é transmitida apenas pelas palavras, mas também pelo próprio exemplo! É sendo um ser humano "humanizado".

    Quanto aos outros... são uns pobres infelizes que algum dia poderão ou não mudar o rumo de suas vidas...

    Tbm não podemos culpá-los, pois, por exemplo, uma pessoa não pode oferecer amor se ela nunca recebeu amor; ou não poderá ter valores ético-morais, se ela nunca teve alguém próximo que lhe ensinasse ou mostrasse esses valores.

    Infelizmente, essas são questões muito complexas de serem entendidas e de serem solucionadas.

    Já "quebrei" a minha cabeça inúmeras vezes tentando entender certas atitudes das pessoas! =o)

    Talvez, nem eu, nem vc possamos "salvar" o mundo, mas devemos tentar nos empenhar em, pelo menos, tentar nos salvar a nós e as pessoas que mais amamos. Isso já será um grande feito!

    Porém, um verdadeiro "herói" buscará ir mais longe, mas seria uma tarefa bem mais árdua, pois ele teria de tentar seguir os conselhos do maior Ser Humano que já existiu!

    Imagine: já é algo bem difícil amar a nós mesmos; tbm nem sempre é fácil compreender as pessoas que amamos... agora imagine o quanto que é mais difícil tentar "amar" os nossos "inimigos"! Na verdade, talvez, o que Ele queria dizer seria tentar COMPREENDER, ACEITAR e AJUDAR os sofredores do espírito (que aí se incluem as mais diversas falhas ético-morais).

    Nesses últimos dias, o que andava me inquietando era o medo do futuro... não do futuro em si, nem da morte... medo da vida, mas tbm não da vida em si, mas do rumo que as coisas estão tomando aqui neste mundo... e um dos maiores medos que detectei ao questionar os meus pensamentos, foi o medo de me tornar uma pessoa inútil ou uma pessoa igual a uma grande maioria: indiferente a tudo e a todos ou mecânica, insensível. Tenho medo de perder o romantismo pela vida. Porque isso tem acontecido a muitas pessoas, especialmente as pertencentes à mesma área profissional a qual escolhi!

    Ainda bem que, até este momento, ainda continuo forte no sentido de ainda continuar seguindo na direção que eu acredito ser a mais adequada aos meus objetivos pessoais.

    Resumindo: não devemos nos desanimar, não devemos perder a fé em nós, em Deus e nem na humanidade. Mas também não devemos nos esquecer que fé somente não basta. A fé sem obras é morta! Cada um deve tentar fazer a sua parte, nem que seja uma pequena contribuição, mas que no fim das contas, cada pequena parte somada a outras irá resultar em um grande trabalho revertido ao bem coletivo!

    ResponderExcluir
  5. O que dizer amigo a respeito desse seu post?
    MARAVILHOSO.
    Retrata bem meu pensamento a respeito. Sinto isso a cada dia que passa. Sou tambem uma antenada observadora do comportamento europeu e suas diferenças. Entendo que o sul do Brasil atè pouco tempo atras ainda alimentava a ideia de uma independencia talvez por essa mesma influencia europèia dominante naquela regiao.
    Admiro essa ètica, e as vezes me surpreendo com a falta de "jeitinho" brasileiro aqui na Italia, pois aqui "nao" è "nao". Nao tem o "porque, quem sabe". Chega a ser grosseiro pois o sorriso nao convence em nada. A educaçao ainda predomina, embora o sul da Italia tenha muitos puxadinhos tambem. Eu compartilho realmente com seus principios e idèias e aplaudo a sua capacidade de expor isso com a sensibilidade e inteligencia que lhe è peculiar. Cumprimento por estar conseguindo passar isso para suas filhas e fiquei surpresa com a reaçao de sua adolescente (adolescente jà?...nosòra...). O tempo passa rapido demais e somos obrigados a prestar atençao a cada minuto pois um vacilo pode colocar tudo a perder.
    Muito bom seu artigo.
    Parabens querido amigo!

    ResponderExcluir

GEOMAPS


celulares

ClustMaps