terça-feira, 11 de maio de 2010

Veja: Salto no escuro.

De que forma poderíamos lograr êxito em alçar o primeiro mundo e la nos mantermos?
Como inserir essas pessoas, no futuro, em uma economia mundialmente competitiva?
Como poderíamos querer que um país aumente sua quantidade de patentes e desenvolvimento próprio de tecnologia de ponta?
Como podemos ter a certeza de que os gestores dos serviços públicos fundamentais, pelo menos estes, nos promoverão serviço de qualidade e sustentável?
Por que ainda não logramos melhores indicadores nas competições internacionais?
Por que é que, a título de exemplo, menos de quatro por cento dos bacharelandos em direito logram êxito no exame de ordem da OAB-SP?
Por que que menos de sessenta por cento dos médicos obtém residência após formados?
Por que a expressiva maioria dos cidadãos que tentam concursos públicos não logram êxito?
Por que, ainda, temos publicamente propagandas de escolas oferecendo primeiro e segundos graus "completos" em sessenta dias?
Por que tantos porquês??









Mais de 60% das escolas públicas e particulares no Brasil se identificam como adeptas do construtivismo. Sendo assim, parece óbvio que seis de cada dez crianças brasileiras estão sendo educadas com base em uma doutrina didática cuja natureza, objetivos e lógica devem ser de amplo conhecimento de diretores, professores e pais. Correto? Errado. Uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) desvenda um cenário obscuro. Em plena era da internet, os conceitos do construtivismo parecem ter chegado ao Brasil via as ondas curtas de 49 metros de propagação troposférica, com suas falhas e chiados. Ninguém sabe ao certo como o construtivismo funciona, muito menos saberia listar as razões pelas quais ele foi adotado ou deve ser defendido. Ele é definido erradamente como um "método de ensino". O construtivismo não é um método. É uma teoria sobre o aprendizado infantil posta de pé nos anos 20 do século passado pelo psicólogo suíço Jean Piaget. A teoria do suíço deu credibilidade à concepção segundo a qual a construção do conhecimento pelas crianças é um processo diretamente relacionado à sua experiência no mundo real. Ponto. A aplicação prática feita nas escolas brasileiras tem apenas o mesmo nome da teoria de Piaget. O construtivismo tornou-se uma interpretação livre de um conceito originalmente racional e coerente. Ele adquiriu várias facetas no Brasil. Unifica-as o primado da realidade da criança sobre os conceitos básicos das disciplinas tradicionais. Traduzindo e caricaturando: como não faz frio suficiente na Amazônia para congelar os rios, um aluno daquela região pode jamais aprender os mecanismos físicos que produzem esse estado da água apenas por ele não fazer parte de sua realidade. Isso está mais longe de Piaget do que Madonna da castidade.
A experiência mostra que as interpretações livres do construtivismo podem ser desastrosas – especialmente quando a escola adota suas versões mais radicais. Nelas, as metas de aprendizado são simplesmente abolidas. O doutor em educação João Batista Oliveira explica: "O construtivismo pode se tornar sinônimo de ausência de parâmetros para a educação, deixando o professor sem norte e o aluno à mercê de suas próprias conjecturas". Por preguiça ou desconhecimento, essas abordagens radicais da teoria de Piaget são a negação de tudo o que trouxe a humanidade ao atual estágio de desenvolvimento tecnológico, científico e médico. Sua ampla aceitação no passado teria impedido a maioria das descobertas científicas, como a assepsia, a anestesia, as grandes cirurgias ou o voo do mais pesado que o ar. Sir Isaac Newton (1643-1727), que escreveu as equações das leis naturais, dizia que suas conquistas só haviam sido possíveis porque ele enxergava o mundo "do ombro dos gigantes" que o precederam. O conhecimento que nos trouxe até aqui é cumulativo, meritocrático, metódico, organizado em currículos que fornecem um mapa e um plano de voo para o jovem aprendiz. Jogar a responsabilidade de como aprender sobre os ombros do aprendiz não é estúpido. É cruel.
Em um país como o Brasil, onde as carências educacionais são agudas, em especial a má formação dos professores, a existência de um método rigoroso, de uma liturgia de ensino na sala de aula, é quase obrigatória. A origem latina da palavra professor deveria ser um guia para todo o processo de aprendizado. O professor é alguém que professa, proclama, atesta e transmite o conhecimento adquirido por ele em uma arte ou ciência. Nada mais longe da realidade brasileira, em que menos da metade dos professores é formada nas disciplinas que ensina. À luz das versões tropicais do construtivismo, essa deficiência é até uma vantagem, pois, afinal, cabe aos próprios alunos definir com base em sua realidade o que querem aprender. É claro que um modelo assim já seria difícil funcionar em uma sala de aula ideal, com um mestre iluminado cercado de poucos e brilhantes pupilos. Nas salas de aula da realidade brasileira, é impossível que essa abordagem leniente dê certo. Adverte o doutor em psicologia Fernando Capovilla, da Universidade de São Paulo (USP): "As aulas construtivistas frequentemente caem no vazio e privam o aluno de conteúdos relevantes".
Um conjunto de pesquisas internacionais chama atenção para o fato de que, em certas disciplinas do ensino básico, o construtivismo pode ser ainda mais danoso – especialmente na fase de alfabetização. Enquanto na pedagogia tradicional (a do bê-á-bá) as crianças são apresentadas às letras do alfabeto e aos seus sons, depois vão formando sílabas até chegar às palavras, os construtivistas suprimem os fonemas e já mostram ao aluno a palavra pronta, sempre associada a uma imagem (veja o quadro). A ideia é que, ao ser exposto repetidamente àquela grafia que se refere a um objeto conhecido, ele acabe por assimilá-la, como que por osmose. De acordo com a mais completa compilação de estudos já feita sobre o tema, consolidada pelo departamento de educação americano, os estudantes submetidos a esse método de alfabetização têm se saído pior do que os que são ensinados pelo sistema tradicional. Foi com base em tal constatação que a Inglaterra, a França e os Estados Unidos abandonaram de vez o construtivismo nessa etapa. O departamento de educação americano também o contraindicou para o ensino da matemática – isso depois de uma sucessão de maus indicadores na sala de aula.
O construtivismo ganhou força na pedagogia durante a década de 70, época em que textos de Piaget e de alguns de seus seguidores, como o psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934), vários dos quais traduzidos para o inglês, foram descobertos nas universidades americanas. Foi a partir daí que a corrente se disseminou por escolas dos Estados Unidos e da Europa. No Brasil, virou moda. Uma década mais tarde, porém, tal corrente começaria a ser gradativamente abandonada nos países que a adotaram pioneiramente. Os responsáveis pelo sistema educacional daqueles países chegaram a uma mesma conclusão: a de que a adoção de uma filosofia que não se traduzia em um método claro de ensino deixava os professores perdidos, deteriorando o desempenho dos alunos. Hoje, são poucos os países ainda entusiastas do construtivismo. Entre eles estão todos os de pior desempenho nas avaliações internacionais de educação. Com seis de cada dez crianças brasileiras entregues a escolas que se dizem adeptas do construtivismo, é de exigir que diretores, professores, pais e autoridades de educação entendam como se atolaram nesse pântano e tenham um plano de como sair dele.
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3 comentários:

  1. Dia desses eu estava pensando sobre a minha jornada educacional até o momento... não sei exatamente o porque, mas parece q na época da escola eu conseguia aprender os conteúdos das diversas disciplinas de forma mais efetiva. Talvez seja pq nessa fase temos maior facilidade de aprendizagem ou pq tive sorte de estudar em um bom colégio que possuía bons professores, ou as duas coisas juntas...

    Mas no ensino superior as coisas parece q mudaram drasticamente... tive a oportunidade de cursar duas faculdades, sendo q uma delas não concluí. Embora as duas tenham sido na mesma área, as abordagens pedagógicas e técnico-científicas eram divergentes, mas ambas foram semelhantes no sentido de que os professores simplesmente jogam todo o conteúdo de um ou vários e extensos capítulos de livros, em apenas duas ou quatro horas de aula e depois temos de nos virar pra memorizar um monte de detalhes específicos que na maioria das vezes não têm aplicabilidade nenhuma na nossa realidade! Ou estudamos por literaturas direcionadas à realidade de outros países e sendo a nossa completamente diferente.
    E quando os professores vão elaborar uma prova, parece q eles procuram avaliar o que aluno não sabe, quando, na verdade, deveria usar outras formas para descobrir o que sabem. É como as provas de concursos, que são planejadas para os candidatos errarem, e não para acertarem.

    Hoje em dia as aulas são todas elaboradas no Power Point e nos enviada por e-mail. Daí, somos induzidos a estudar para as provas (e não para a profissão) apenas por aqueles slides e não mais para buscarmos informações mais aprofundadas nos livros, como na minha época de escola. Sem contar que os livros do ensino superior são caríssimos, e, são poucos os que têm poder aquisitivo para adquirí-los. Os livros da saúde então, nem se fala!!
    [Aí entra uma outra questão... o brasileiro acaba não adquirindo o hábito de ler pq entre escolher entrar numa livraria pra comprar um livro q custa entre R$80,00 e R$200,00 e pagar as suas contas, ele irá, claro, ter de usar seu dinheiro pra pagar seus impostos, que não lhe são devolvidos em nenhuma forma de benefício de direito.]
    Por essas e outras coisas que ocorrem, a sensação que a maioria dos recém-formados sentem ao concluir a faculdade, é a de que parece que vc não conseguiu aprender nada, que vc não sabe de nada e q não está preparado pra enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais cruel!
    ...

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  2. ...
    Daí, vc busca fazer uma pós-graduação pra ver se consegue ampliar seus conhecimentos. Vc a inicia com toda empolgação, mas com o passar dos meses vc se dá conta q dá no mesmo, vc não evolui nada pq é apenas a continuação do mesmo sistema q vc já conhecia da faculdade. Apenas umas informações a mais e superficiais são acrescentadas! E daí começam as inúmeras desistências, e os que persistem, só continuam por apenas um motivo: adquirir o título! Que na prática não irá lhe servir de nada, não irá lhe acrescentar nada, mas que irá contar pontos no seu currículo e na hora da contagem de pontos de uma seleção pública que vc for participar.

    E assim as coisas continuam... todos vão caminhando e "empurrando com a barriga" tudo o que fazem. E o mesmo se aplica aos cursos de línguas estrangeiras. São inúmeros os que têm certificado de conclusão de curso de Inglês, mas vá testar a sua fluência daquela língua, pra ver no q dá!! Poucos são os que realizam um curso de Inglês ou outra língua com bom aproveitamento, e mais raros os q têm a oportunidade de praticá-la durante viagens ao exterior! As pessoas acabam fazendo esses cursos p/ simplesmente colocar em seus currículos pra contar pontos na hora de uma seleção de emprego.
    Os cursos e atividades que são mais valorizados são aqueles que oferecem um maior status, os quais apenas incentivam um mesmo padrão de profissional. Os mais desvalorizados são aqueles que ensinam os seus alunos a refletirem, os ensinam a PENSAR, raciocinar, ter uma visão diferente dos fatos!

    Quem pensa diferente acaba sendo considerado como alguém... diferente, estranho, doido, "perturbado das idéias". =o)
    As pessoas não são treinadas ou educadas a explorar sua inteligência, sua criatividade e todas as suas outras potencialidades. Infelizmente!
    Acho que é isso! =o)

    Eita, dessa vez até extrapolei o número máximo de caracteres p/ postar comentário! rsrsrsrsrs

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  3. A impressão que tenho é de que no Brasil não conseguimos abrir mão de certos modismos; e talvez isto seja mesmo cultural,já está tão arraigado às nossas origens coloniais: só era bom se viesse do estrangeiro ou se fosse adquirido lá!
    E, é assim até hoje!
    Vemos isso acontecer nas grandes organizações, onde não se discute ou questiona se as abordagens, conteúdos,ferramentas e teorias trazidas pelos gurus da administração ou marketing(que em sua maioria são estrangeiros)são adequados a nossa realidade.
    O incrível é que esses gurus vem nos ensinar aquilo que eles ainda não aprenderam...pois vemos seus paises de origem atravessarem duras crises econômicas, empresas se desmantelarem por pura falta de ética de seus gestores, e mesmo assim, continuamos ali fiéis ao legado...
    Embora muito se fale em qualidade, me parece que este é um dos conceitos mais dificeis de se dissiminar, de se construir, seja ensinando,seja aprendendo!

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