quinta-feira, 20 de maio de 2010

Construtivismo e destrutivismo


Bem, segue uma inferência. Para mim isto é um fruto espúrio da revolução cultural ocorrida na França em 1968 onde os países desenvolvidos aderiram e nos convidaram. Nossa intelectualidade e nossa "esquerda festiva" (definição de Hélio Jaguaribe, em algum momento na nossa história recente) ficaram felizes por serem convidados para a festa universal.

Gostaria de opinar acerca da construção de tal conceito e gostaria, também, de ser corrigido por alguém melhor capacitado que eu. Contudo, relembra-me a noção da ambiência social e física sob as quais tanto Piaget como o russo Vigotsky construíram tal conceito: A Europa e Rússia viviam, concomitantemente, períodos de severos invernos e guerras. Ambos fenômenos educam a sociedade como um todo, tornam adultos e crianças necessariamente independentes para sobreviverem. Assim, a Educação a partir deste cenário de fundo pode, com a propriedade que a circunstância histórica lhe dá, se iniciar em uma pessoa, em sala de aula, que fora dela já possui credenciais de maturidade antecipada. Aliás, volto a ressaltar aos amigos, que clima, geografia, geomorfologia, densidade demográfica e, sobretudo, ambiência social no momento são os fatores que definem se uma sociedade vai desenvolver ou não.
A questão está que, a propósito da difusão dessa doutrina educacional no mundo, os que nos convidaram, por serem sociedades mais maduras e estruturadas entenderem o risco, em longo prazo, de se produzir sociedades com cidadãos "quase qualquer coisa" uma vez que o cenário social e histórico estava mudando e já não era o mesmo que gerou tal doutrina. 

Dias atrás vi em noticiário matérias sobre violência de alunos nas escolas brasileiras e, logo após, uma proposta no Congresso Nacional, para que a palmada seja proibitiva. De acordo com os proponentes, apedeutas em meu ver, estaríamos avançando em termos de Direitos Humanos e da Criança.

Entendo, portanto, que a melhor maneira de nos convidar e seduzir para uma autofagia intelectual e cultural foi dizer que o que os nossos intelectuais e pensadores de esquerda eram vanguarda. Vai fundo!!, diziam eles. Vai fundo!! E hoje na plenitude da maturidade de um ensino no qual o aluno "diz" o como e o que é melhor para ele aprender estamos, inexoravelmente, presos aos índices educacionais mais baixo, sem lograrmos êxito em aprovações de ordens ou de conselhos, em olimpíadas de ciências, matemática e similares e agredindo professores em sala de aula.

Vai fundo!!! E estamos, e estamos...




Construtivismo e destrutivismo

"O construtivismo é uma hipótese teórica atraente e que pode ser útil na sala de aula. Mas, nos seus desdobramentos espúrios, vira uma cruzada religiosa, claramente nefasta ao ensino"


Claudio de Moura Castro


Tinha missão é árdua: quero desvencilhar o construtivismo dos seus discípulos mais exaltados, culpados de transformar uma ideia interessante em seita fundamentalistaO construtivismo busca explicar como as pessoas aprendemPrega que o processo educativo não é uma sequência de pílulas que os alunos engolem e decoram. É necessário que eles construam em suas mentes os arcabouços mentais que permitem entender o assunto em pauta. Essa visão leva à preocupação legítima de criar os contextos, metáforas, histórias e situações que facilitem aos alunos "construir" seu conhecimento. Infelizmente, o construtivismo borbulha com interpretações variadas, algumas espúrias e grosseiras. Vejo quatro tipos de equívoco.
segundo erro é achar que todo o aprendizado requer os andaimes mentais descritos pelo construtivismo. Sem maiores elaborações intelectuais, aprendemos ortografia, tabuadas e o significado de palavras.O primeiro engano é pensar que teria o monopólio da verdade - aliás, qual das versões do construtivismo? As hipóteses de Piaget e Vigotsky coexistem com o pensamento criativo de muitos outros educadores e psicólogos. Dividir o mundo entre os iluminados e os infiéis jamais é uma boa ideia.
terceiro é aceitar uma teoria científica como verdadeira por conta da palavra de algum guru. Em toda ciência respeitável, as teorias são apenas um ponto de partida, uma explicação possível para algum fenômeno do mundo real. Só passam a ser aceitas quando, ao cabo de observações rigorosas, encontram correspondência com os fatos. Einstein disse que a luz fazia curva. Bela e ambiciosa hipótese! Mas só virou teoria aceita quando um eclipse em Sobral, no Ceará, permitiu observar a curvatura de um facho luminoso. O construtivismo não escapa dessa sina. Ou passa no teste empírico ou vai para o cemitério da ciência - de resto, lotado de teorias lindas.
Não obstante, muitos construtivistas acham que a teoria se basta em si. De fato, não a defendem com números. Obviamente, nem tudo se mede com números. Mas, como na educação temos boas medidas do que os alunos aprenderam, não há desculpas para poupar essa teoria da tortura do teste empírico, imposto às demais. Por isso, temos o direito de duvidar do construtivismo, quando fica só na teoria. Mas o que é pior: outros testaram as ideias construtivistas, não encontrando uma correspondência robusta com os fatos. Por exemplo, orientações construtivistas de alfabetizar não obtiveram bons resultados em pesquisas metodologicamente à prova de bala.
quarto erro, de graves consequências, é supor que, como cada um aprende do seu jeito, os materiais de ensino precisam se moldar infinitamente, segundo cada aluno e o seu mundinho. Portanto, o professor deve criar seus materiais, sendo rejeitados os livros e manuais padronizados e que explicam, passo a passo, o que aluno deve fazer.
Desde a Revolução Industrial, sabemos que cada tarefa deve ser distribuída a quem a pode fazer melhor. Assim é feito um automóvel e tudo o mais que sai das fábricas. Na educação, também é assim. Os materiais detalhados são amplamente superiores às improvisações de professores sem tempo e sem preparo.
De fato, centenas de pesquisas rigorosas mostram as vantagens dos materiais estruturados ou planificados no detalhe. Seus supostos males são pura invencionice de seitas locais. Quem nega essas conclusões precisa mostrar erros metodológicos nas pesquisas. Ou admitir que não acredita em ciência.
Aliás, nada há no construtivismo que se oponha a materiais detalhados. Entre os construtivistas americanos, muitos acreditam ser impossível aplicar o método sem manuais passo a passo.
Em suma, o construtivismo é uma hipótese teórica atraente e que pode ser útil na sala de aula. Mas, nos seus desdobramentos espúrios, vira uma cruzada religiosa, claramente nefasta ao ensino.
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