Se eu pudesse agregar alguma coisa diria que já li, nos últimos vinte anos, mais de cem diferentes livros e uma considerável quantidade de artigos de gestão e cheguei a algumas conclusões:
- A idiossincrasia da sociedade sobre a qual os autores se debruçam é a americana e em segundo plano a européia;
- A expressiva maioria deles falam de ambientes corporativos tais como departamentos de vendas, marketing e tecnologia da informação. Setores como construção civil, logística, transportes, infra-estrutura de serviços e todos os que requerem gerentes no campo ou tendo que gerenciar efetivo disperso, com os desafios que lhes são comuns, quase nunca os li ou encontrei;
- Os livros dos autores brasileiros usam como base tais conhecimentos sem a preocupação de rebater tais experiências vivenciais com a realidade brasileira;
- A expressiva maioria coloca o chefe como carrasco e o subordinado como vítima de uma enormidade de vicissitudes, quase nunca lhes imputando qualquer parcela de culpa. Gestão de conflitos funcionais, laborais e greves jamais li algo sequer perto.
Na maioria das vezes que terminei as leituras deparei-me com a sensação abaixo descrita.
Já vivenciou uma situação de Platitude?
Há dias, eu conheci uma nova palavra. Platitude. Talvez você ainda não a conheça, mas está exposto a ela tanto quanto ao ar que circunda tudo e todos. Eu poderia recorrer a um dicionário qualquer e esta crônica estaria terminada. Darei alguns exemplos. Assim fica mais claro.
Um caso campeão de platitude é um periódico de uma empresa de planos de saúde que recebo gratuitamente em casa. É bem diagramado e custa caro para imprimir. Lê-lo, no entanto, é só para quem tem boa digestão. São todos iguais. Já pensei em pedir cancelamento. Mas estou esperando a demissão dos imbecis atuais que o produzem. O que eles tentam fazer é o famoso “marketing de prestígio” a este ou àquele executivo de empresas recém chegadas ao quadro de clientes. E, convenhamos, não há como puxar saco sem platitude.
Situações emblemáticas de platitude não faltam. Já esteve numa palestra de motivação? Platitude! Discursos políticos? Análise de tendências econômicas? “Missão, visão e valores” de quase todas as empresas? Planejamento estratégico? Revistas de vendas? Discurso do RH a funcionários demitidos? Reuniões em geral? Pregações religiosas? Platitudes puras!
Quem jamais ouviu em seu trabalho: “Nossos funcionários não fazem tudo o que se espera deles”; “Precisamos fazer uma pesquisa de clima organizacional”; “Não é o salário que irá motivar nosso pessoal, mas o ambiente mais amistoso”; “Elimine os custos financeiros e faça caixa”; “Renove a equipe de vendas”; “Corte os gastos”; “Vamos ganhar maior penetração de mercado”; “Nossa empresa preocupa-se com a satisfação do cliente”. Platitudes.
Vejamos de perto. Treinar, padronizar, controlar, maximizar, minimizar, nada disso é decisão. São atribuições básicas. São “metas em aberto”. Assim como todo mundo precisa de alimento, custos precisam ser revistos, carteira de clientes e políticas comerciais discutidas e melhoradas, etc. Meta em aberto ou atribuições básicas não são planos de ação que se discutam em reuniões, não são iniciativas inovadoras. Devem estar agregados à descrição de cargos. Quem não as cumpre é um inepto e tem que ir para a rua o quanto antes. No entanto, platitudes dão “agito” às tradicionais reuniões de revisão estratégica. Em quase todas organizações é assim.
Cuidado com a platitude disfarçada em apresentação de PowerPoint. No primeiro slide, um gráfico mostra que há espaço para melhorar o desempenho médio. No segundo, uma pilha de frases: “Aumentar volume de venda”, “Aumentar o preço médio” e “Diminuir custos”. No terceiro slide, números demonstrando que se as filiais abaixo da média forem para a média a empresa irá faturar tantos milhões a mais no período. Todos se encantam. De repente, um tonto qualquer, de escalão mais baixo, levanta um dedo e pergunta: “Como vamos fazer isso?” Um dos “sábios estrategistas” da cúpula magistral responde com o queixo empinado: “Este é um simples problema de implementação”. A reunião está concluída, e nada, em absoluto, acontecerá depois disso. Fica apenas a platitude perpetuada como ritualística também nesta empresa.
Entendeu o que platitude? Vejamos agora o dicionário. Platitude: substantivo feminino; qualidade do que é banal, monótono, trivial; caráter do que possui qualidade medíocre, sem expressão.
Se depois de tudo isso eu prosseguir escrevendo, já sabe, não é?
Abraham Shapiro
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