quarta-feira, 19 de maio de 2010

O feito de Lula em Teerã

Esta foi uma notícia que eu gostei. Como cidadão eu gostei da projeção do Brasil feita pelo Lula, apesar de saber que seus objetivos são o de projeção internacional e o de candidato a  Secretário Geral da ONU.

Mas a impressão que fica é a de que nada se entende neste imbróglio, não é verdade? Isto porque a mídia internacional controla o esclarecimento no conteúdo das notícias principais. Não se preocupam com o famoso "entenda o que acontece no Irã".

De toda sorte a questão tem a ver com o controle do golfo Pérsico para manutenção do escoamento seguro da produção de petróleo daqueles países. Ninguém quer um Irã forte com capacidade de deterrência suficiente para desestabilizar aquela região.

O que me chama a atenção nesta jogada, independentemente de eu gostar ou não, foi a capacidade de se mostrar ao primeiro mundo que alguns do mundo em evolução demonstrou capacidade de articulação em torno de uma agenda que para eles, G8, era consumada.
Um outro ponto importante, neste grande "mis en scene" (na realidade tudo isto é movimento de cena - explicarei minha visão oportunamente) é que a "grande esperança do mundo", o Barack Obama, não consegue dar consecução às suas propostas. Lembro de estar caminhando à beira do Potomac river, em um intervalo de aulas, quando o ouvi em campanha, via rádio, Obama, candidato, dizer que Bush tinha perdido a chance de ser um hábil articulador internacional ao longo dos oito anos de goveno e havia perdido. E agora, José? Ou melhor, Obama?

Este fato também serve para alertar àqueles que, movidos pela fabricada antipatia sobre Bush (ele é uma pessoa que representa uma idiossincrasia comportamental de seu povo, os demais, em sua expressiva maioria, são como ele), achavam que Obama seria o remédio para os males do mundo, por ser jovem, negro, empreendedor, etc etc. Ganhou até um Nobel da Paz só por suas intensões. Diante deste fato a pergunta é: Vão pedir o Nobel de volta?

Claro está que não ofertarão o Nobel para o Lula, depois daquela gafe internacional de dizer que ceder à greve de fome é o equivalente a dar ouvidos a bandidos, dito em Havana, caso ainda a mídia não tenha articulado um "esquecimento" sobre o caso...Bem, os que votarão no novo Secretário da ONU, com certeza, não.

Assim amigos, fiquem tranquilos, não estou sendo paradoxal, há coerência nessa reservada defesa do fato. Apesar de haver interesses à luz da doutrina do Foro de São Paulo por detrás dessa defesa, para nós, ainda que momentaneamente, ajudou em nossa projeção...Como dizia Jô Soares: "Tirante Aureliano que fala...".



O feito de Lula em Teerã



No seu discurso de posse, em 20 de janeiro de 2009, o presidente americano, Barack Obama, estendeu a mão "aos que estiverem dispostos a abrir o punho". Referia-se, naturalmente, ao Irã, com quem os Estados Unidos estão rompidos desde a Revolução Islâmica de 1979 e cujo programa nuclear Washington (e não só) tem certeza de que se destina à produção da bomba atômica. Dezesseis meses depois, o Irã apertou a mão do Brasil e da Turquia. 

Depois de extenuantes negociações que vararam o domingo, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, em visita ao país, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que viajou às pressas, e os chanceleres das três nações fizeram-se fotografar ontem de mãos alçadas para celebrar um acordo que põe em xeque o esforço americano para aprovar no Conselho de Segurança (CS) da ONU uma quarta rodada de sanções contra o Irã. 

Os Estados Unidos e os seus aliados europeus defendem a adoção das novas punições pela recusa iraniana a abrir as suas atividades nucleares à plena fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e por manter apesar da proibição do Conselho de Segurança o seu programa de enriquecimento de urânio a índices mais altos do que os necessários para emprego civil. Nada disso, nem o temido programa, muda com o acordo que tem um escopo muito limitado ?, mas o quadro mudou de figura.

Em outubro passado, negociadores iranianos acertaram com o Grupo de Viena (Estados Unidos, França, Rússia e a AIEA) um esquema pelo qual Teerã entregaria à Rússia cerca de dois terços dos seus estoques de urânio enriquecido a 3,5%, ou 1.200 quilos. Os russos o enriqueceriam a 20% e os franceses, em seguida, acondicionariam o material para ser usado em reator de pesquisa, com finalidades medicinais. A troca levaria um ano um dos motivos invocados no começo do ano pelo Irã para desistir do negócio.

O país tem um histórico de aceitar propostas apenas para ganhar tempo e confundir os interlocutores. Nesse caso, porém, Teerã parecia recear que a França não cumpriria o trato. Eis por que Ahmadinejad exigiu que a troca fosse simultânea, condição inaceitável para o Ocidente. Afinal, o objetivo da operação era reduzir os volumes de material físsil em poder do Irã, retardando, portanto, o seu suposto projeto militar atômico.

A partir daí, os Estados Unidos se concentraram em persuadir os membros recalcitrantes do Conselho de Segurança, a começar da Rússia e China, de que as sanções haviam se tornado a única saída. Detentor de um lugar temporário no principal colegiado da ONU, o Brasil tomou a polêmica decisão de se opor enfaticamente aos castigos enquanto não se esgotassem as iniciativas diplomáticas. No papel de mediador de que se investiu, o presidente Lula chegou a se comportar como advogado de Ahmadinejad.

Se o futuro não o desmentir, a tenacidade de Lula vingou. Sob a acusação de servir aos iranianos para ludibriar a comunidade internacional em nome de irrealistas ambições de liderança global, na contramão das posições dos Estados Unidos, o governo brasileiro, com a crucial participação da Turquia, reviveu o arranjo do Grupo de Viena. O Irã depositará no vizinho país, no prazo de um mês, 1,2 tonelada de urânio levemente enriquecido. Em até 1 ano, receberá da Rússia e da França 120 quilos de urânio a 20%. Ou a Turquia devolverá o material sob a sua guarda.

"Foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz", exultou Lula. Washington, no entanto, alega que, de outubro para cá, os estoques iranianos declarados cresceram. O que então representava dois terços do urânio a ser embarcado equivale atualmente a pouco mais da metade. Mas esse não é o ponto mais importante da questão. O fato é que o Irã continuará enriquecendo urânio sem as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica, em circunstâncias que indicam a intenção de fazer a bomba. 

A vitória que Lula está comemorando é a certeza de que, com esse acordo, os Estados Unidos não conseguirão, no Conselho de Segurança, os 9 votos em 15 de que necessitam para aprovar as sanções. 
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