Algumas ilações sobre a questão recente do Irã que, em meu entender, não anda bem clarificada.
Quando por ocasião do reinado do Xá Reza Phalevi, uma significativa quantidade de construtoras e demais empreendimentos corporativos americanos habitaram aquele país construindo plantas fabris, estradas, pontes e uma boa quantidade de elementos de infra-estrutura. O mapeamento, já existente, de cada polegada do solo daquele país foi significativamente ampliado.
A tecnologia satelital, hoje em dia, tem condições de prescrutar, da mesma forma, cada polegada daquele território.
A construção de complexos industriais de desenvolvimento de tecnologia nuclear guarda algumas características: É afastado de grandes centros urbanos, necessita de estradas, rodoviárias e/ou ferroviárias, um significativa quantidade de malha de energia elétrica e, por fim, não é, via de regra, instalada incrustada no meio de montanhas por motivos de evasão, em casos de sinistros e de vias de circulação. As atividades nela conduzidas emitem uma boa quantidade de calor na atmosfera. Isto equivale a dizer que todos estes elementos são, facilmente, dectados não só por satélites mas por transeuntes, turistas ou nativos. Assim, em meu entender, construir uma instalação de beneficiamento de urânio de forma discreta é praticamente impossível. Em miúdos, os americanos e as comissões de controle da ONU sabem onde estão e o que fazem e em qual quantidade. Ou seja, nada do que está sendo conduzido, ainda que em âmbito de "dever ser", é novidade para ninguém.
A questão do desenvolvimento de energia nuclear tem, em primeira análise, o de energia elétrica e outros tipos de fontes energéticas que podem não ser, necessariamente, para fins bélicos. Os iranianos sabem disso e também sabem que qualquer míssil merreca, do tipo "scud" pode sair de um navio ou submarino, a qualquer hora do dia ou da noite e, com erro de desvio ou de dispersão menor do que o de um metro de raio a partir do alvo, pode atingir tais instalações. Os argumentos e fontes para tal lançamento podem variar: americanos, israelenses, ingleses etc. Não se afastam da possibidade desta "contra-deterrência", a Índia ou a própria Turquia. Ninguém quer um vizinho neste patamar de deterrência belicosa. Assim, antes mesmo do Tio Sam se importar, os demais cuidariam do vizinho incauto.
Agora considerando-se outro aspecto: O empresarial. Alemanha e Itália são os primeiros do G8 a se prejudicarem com o embargo comercial, apesar de um preocupado apoio, digamos assim..."misancênico"... às potenciais deliberações do Conselho de Segurança da ONU. De alguma forma, ainda, a França, esta no mesmo Conselho que, em tese, votaria no embargo. Ou seja, para muitos países do G8, ter em suas atividades comerciais suspensas com o Irã seria um desastre e o desemprego ,em períodos de recuperação de crise causada pelos americanos, seria um passaporte para um período prolongado de pós-recessão.
Por oportuno, relembro aos amigos que lhes enviei matérias sobre conflitos sociais na França, Espanha, Alemanha atribuídos, em princípio, aos imigrantes, contudo, a exemplo do que ocorre na Grécia, a recuperação mesmo para os mais estáveis ainda é temerária.
Restou-me comentar sobre a Turquia. Este, também milenar, país vem despontando, discretamente, na Europa com estabilidade e crescimento sustentáveis com pequenos arranhões pós-crise. Como eles vêm tentando entrada na Comunidade Econômica Européia desde a criação deste bloco econômico e tem sido deixado de lado, alinhar-se ao Irã como solução para serem recipiendários do urânio com baixo índice de processamento atinge dois objetivos: O de mostrar que eles também têm potencial tecnológico e que têm capacidade de uma eventual liderança no Oriente Médio, deixando a Arábia Saudita e a Síria em posição de coadjuvantes. Aqui percebe-se o incômodo de Obama por serem estes últimos aliados de primeira hora no Oriente Médio desde que os EUA apoiaram Saddan Houssein na guerra contra o Irã e na expulsão da Rússia do Afeganistão.
Apesar de dar a nítida impressão de um grande balaio de gatos, a questão, infelizmente, reside na formação e fortalecimento de novos blocos econômicos onde os EUA e China não detenham a prevalência de investimentos, o que será bastante difícil, posto que uma esperança do Irã era o Mercosul que hoje encontra-se desestabilizado por ação da economia chinesa naquele bloco.
O que percebo, em minha incipiente análise, é que o Irã se aproveitou, com milenar sabedoria, desse momento para se fortalecer e poder falar com voz mais grossa na mesa de negociação dos grupos de países onde está inserido. Como, via de regra, é padrão imposição para os mais fracos agora, se houver, ainda que pelo menos, a capacidade de desenvolvimento nuclear, as comuns imposições comerciais passarão a ter um tom mais ameno.
O problema do Irã, assim como os demais, é o desemprego e a grande dificuldade de variar seu plantel industrial e agrícola, o que geraria maiores índices de ocupação e de emprego. Dessa forma, penso eu que não passaria de deterrência onde a consumação final da eventual ameaça seria muito improvável. A bem da verdade, Brasil e Turquia servem como os meninos que entram na briga para separar quando o zangão Irã já havia cumprido o objetivo de dar o bofete ou cascudo do garoto maior e estava prestes a tomar uma senhora sova.
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