O que o autor sempre coloca torna-se pretencioso comentar, pois o que ele é já nos é suficiente. Contudo, em função da oportunidade e pertinência do assunto, principalmente nos últmos dias, requer uma atenção mais de lupa de todos nós, infelizmente ainda insipientes em termos de vivência democrática plena além do ato de votar.
Recente artigo acerca da "disputa pelas agências reguladoras" foi colocado em apenas um jornal de grande circulação, apenas um jornal, e o pior, na forma de opinião no Editorial, que consuetudinariamente, poucos leitores ali se detém.
Para o bem geral da sociedade, este tipo de assunto deveria ser debatido em programas de auditório, vespertinos, comentados por atores inseridos em "falas" de personagens, enfim, uma necessária quantidade de alternativas para fazer com que o cidadão, contribuinte de seus destinos. Mas para nosso azar, nossa herança e cultura patrimonialista e muito sucetível a nepotismo permite, quando não incentiva, tais práticas.
Lembro de alguns editoriais, no governo Sarney...logo de quem...incentivando os leitores mais influentes, a optarem e exigirem uma "administração mais moderna" de primeiro mundo, assim, cresceu a idéia já em vigor, porém em menor quantidade, das agências reguladoras, comuns em qualquer administração pública descente, madura e digna de pertencer ao primeiro mundo. Mas aí entrou o nosso jeitão moreno de viver as responsabilidades democráticas e as agências viraram um lamentável "calbide" de empregos (as aspas são em função da origem espanhola da palavra que se tornou comum na colonização de nossos "hermanos" países).
Assim nobre e paciente leitor que me estimula nestas divagações desnecessárias, lembre-se de não reclamar quando esperardes mais de quatro horas em uma aeroporto, quando tiverdes que pagar mais de quinhentas pilas (ou setecentas que nem eu) para trocar um motor de geladeira em função de uma baixa repentina de luz, ou ter que esperar os famigerados e inexoráveis "um momento senhor" quando ficais plantado esperando a "operadora" de telefonia lhe dar uma explicação estapafúrdea, quando começardes a se coçar após se enxugardes de um banho, após estardes plantado vendo lindas marolas de lama no vidro lateral de seu carro "morto" em pleno alagamento (o pior é a cara do gaiato feliz e triunfante -na janela do ônibus que passa esparramante ao seu lado - com aquele olhar de "aí ricão, sifu!!").
Enfim...a leitura abaixo é extremamente recomendável.
Daqui a três meses os governadores eleitos terão de enfrentar um dos maiores pesadelos de um político. Como preencher as centenas de cargos de confiança que compõem um governo.
O número exato de cargos varia de Estado para Estado. Para o governo federal eu já ouvi estimativas que variavam de 2.000 a 20.000 cargos a ser preenchidos.
A problema é que a maioria dos políticos não conhece um número suficiente de pessoas em quem realmente possa confiar. Ao contrário dos grandes executivos e profissionais que desenvolvem listas de colaboradores ao longo de suas carreiras, os políticos normalmente acumulam listas de pessoas em quem não se deve confiar, pelo menos politicamente. Poucos convivem, no dia a dia da batalha por votos, com administradores profissionais, orçamentistas empresariais, gerentes de RH e planejadores, profissionais necessários para um bom governo.
Por isso, as primeiras pessoas convidadas são normalmente amigos e parentes de irrestrita confiança. O desespero é tal que até genros, normalmente vistos com certa suspeita na escala familiar, são convidados para participar da equipe de governo. Não que amigos e parentes não possam ser pessoas competentes, mas a base de escolha é muito pequena para que a média seja qualificada. Imaginem criar uma seleção de futebol dessa maneira. Você apostaria no seu sucesso ? O mesmo ocorre com nossas equipes de governo. Você apostaria no sucesso de um governo assim constitúido ?
A primeira decepção de cada novo governo e a primeira crítica que a imprensa lhe faz ocorrem por ocasião do anúncio da equipe e dos parentes contratados. Insinua-se em alguns relatos, que parentes foram contratados para que todos se tornem ricos, o que pelos salários atuais do setor público é praticamente impossível.
O erro que a maioria dos políticos eleitos comete é desconhecer uma das leis básicas da administração: Todo cargo, seja público, seja privado, é de total e irrestrita desconfiança. Infelizmente, todo colaborador, por mais amigo que seja, precisa ser tratado com certa dose de desconfiança.
Os maiores desfalques em empresas familiares são cometidos por parentes, em que não escapa nem filhos, muito menos genros. Bons amigos então, nem se fala. De onde surgiu este mito de que amigo do peito e parente não roubam ?
Essa prática não é exclusiva de nossos políticos. A maioria de nossas empresas contrata diretores da mesma maneira, tanto que são chamadas de empresas ‘familiares’.
A saída para esse dilema é outra. Em vez de contratar um amigo do peito, selecione o melhor e mais qualificado profissional possível para o cargo, independente de conhecê-lo ou não. Em seguida, cerque o contratado de controles gerenciais, fiscalização interna , auditoria externa, o que for necessário para manter o pessoal na linha.
As multinacionais não trazem mais um presidente de confiança do exterior como faziam antigamente. Contratam brasileiros, sejam eles amigos dos acionistas ou não. Dois brasileiros, Alain Belda Fernandez e Henrique de Campos Meirelles, são presidentes da matriz americana das multinacionais em que trabalham, o equivalente a contratar um americano para cuidar de nossa dívida externa. No Brasil, o melhor administrador financeiro do país tem poucas chances de ser Ministro da Fazenda, se já não for amigo do presidente bem antes de sua eleição.
Cargo de confiança é simplesmente um conceito anacrônico, algo do passado pré-gerencial. Num mundo competitivo, todos os cargos, incluindo os do governo, precisam ser de total e irrestrita competência, e não de confiança.
A rigor, num mundo globalizado, onde temos de dominar alguns segmentos da economia mundial deveríamos estar contratando os melhores do mundo. Pelo menos algum dia vamos começar timidamente desde o início, contratando os melhores brasileiros.
PS – Se você, amigo ou parente de político, for convidado para um cargo de confiança nos próximos três meses sem ter pelo menos vinte anos de experiência na área, a nação encarecidamente implora : recuse delicadamente.
Publicado na Revista Veja, Editora Abril, na edição 1560, nº 33, de 19 de agosto de 1998, página 22
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Concordo que o termo mais adequado seria CARGO DE TOTAL E IRRESTRITA COMPETÊNCIA!
ResponderExcluirHá cerca de 1 ou 2 meses atrás, uma amiga me deu telefone e endereço de um político local e até agendou um dia pra eu comparecer a seu escritório, com a finalidade de assumir um cargo de "confiança" numa instituição hospitalar que adoro!
Ainda bem que tenho boa noção das coisas e não fui atrás disso. Não sou doida de querer assumir algo sem ter a menor experiência em diversos aspectos... Ainda mais sendo num local que adoro, e no qual tenho diversos conhecidos... tanto eu iria ser um risco ambulante pro hospital, quanto a notícia da 1ª besteira que eu fizesse iria se espalhar na velocidade da luz...
Não tem coisa pior do que ver sua imagem associada à incompetência! Principalmente diante de pessoas que vc gosta e vice-versa.
É preciso se ter bom senso e paciência para esperar pelo momento certo, no qual vc terá adquirido conhecimento, competências e habilidades necessárias para assumir determinadas funções.
Pelo menos, é isso o que eu acho...
Estão loteando os cargos que deveriam ser ocupados em função da qualidade técnica exigida,e não pelo grau de confiança
ResponderExcluirO País vive um momento muito triste. Estão brincando a função pública !
abs
Gustavo Heck
Acho que para se contratar essas pessoas e colocarem em " cargos de confiança" não deveriam analisar se ela é " QI`de fulano ou de ciclano e sim analisarem seu curriculo, verificarem se ela possue determinada competência e conhecimentos necessários para tal cargo, logico que podemos considerar também que há pessoas que não possuem conhecimentos, mas que possuem competências desenvolvidas ao longo dos estudos ou cursos por ela feitos.
ResponderExcluirVivênciando nesta área pude notar que há pessoas com cargos altos e salarios altos que não sabem ao menos nem ler e nem escrever, como é o caso de uma pessoa que se candidatou a vereador e por não ser eleito exerce um cargo de confiança alto e não sabe ao menos nem ler e nem escrever, esse está ali por causa de sua experiência no ramo politico, mas o que isso influenciaria no trabalho/tarefa por ele a ser desenvolvido, acho que deveriamos cobrar que para colocarmos alguem em um cargo desses pelo menos regulamentar uma analise de competencias ou curricular e não sua mera experiência politica.