sábado, 29 de maio de 2010

A burca de Ipanema


A baía de Guanabara é, mundialmente, um retrato fiel de beleza natural ao mesmo tempo que guarda uma histórica tolerância com a diversidade, cultural, física, de raça e artistica. Nossa cultural capacidade de lidar com diferenças e absorver em nosso seio pessoas de mundos desiguais atraiu milhões de pessoas desde nossa fundação como nação. Ao longo do litoral brasileiro, mais notadamente pelo mar da baía da Guanabara, incontáveis quantidades de navios e barcos de toda categoria despejam  alegres estrangeiros ávidos por se impregnar de nossa alegria e capacidade de viver sempre de bem com a vida.

Mudando-se o foco e aprofundando-se mais na História ela está repleta de exemplo de como os grandes conquistadores dominavam, por vezes sem uma batalha sequer, uma sociedade. De Gengis Kan, passando por Ivan o Terrível, Nabucodonosor, os Césares, Khimmer Rouge etc, procuraram dominar as sociedades alvo, primeiramente, por intermédio de seus títeres, poetas, tutores, professores e os famosos "eminências pardas" e intelectuais de forma geral.

O que ocorre hoje em nossa sociedade, notadamente na mídia não difere disso. A propósito de recente artigo de um editorialista em uma importante revista, antes eminentemente empresarial e hoje eivada de ideologia em suas linhas e, outro imortal sempre pronto a defender qualquer ação fora de contexto coerente em termos de relações internacionais,  sugerem a correção de visão de governo (claro está que não de estadista) de nosso presidente em inaugurar uma nova ordem de negociações internacionais com países de estabilidades econômica, política e, porque não dizer, emocional duvidosas. Vejam, são figuras destacadas no meio intelectual e acadêmico, formadores de opinião e, inexoravelmente alinhados com o governo atual. Eles, assim como seus equivalentes nas sociedades da antiguidade, passam a dar um novo tom a um totalitarismo iminente seduzindo, até, os mais incautos.


Ao longo dos anos, nas histórias das sociedades, o comércio fundamentou as relações internacionais. A pertinente e desejada simbiose cultural e física gerariam outras sociedades com as competências e excelências de cada uma e todos sairiam ganhando. Assim, um dos preceitos de consubstanciam acordos comerciais e diplomáticos entre nações é a possibilidade de intercâmbio cultural e produtivo entre seus cidadãos, sendo comum a residência em cada uma das sociedades a fim de se iniciar um processo de simbiose cultural que facilite as relações econômicas. Em tese, com as novas tratativas, haveria famílias brasileiras em meio à rigidez comportamental da sociedade iraniana ao mesmo tempo que teríamos aqueles cidadãos, lépidos, leves e sensuais como os nossos, em nossas ruas.

Sammuel Huntington, em seu célebre livro o Choque das Civilizações, deixa claro que a diferença de idiossincrasias sociais, impulsionadas pela religião podem até gerar a intolerância, colocando as sociedades ocidentais, desenvolvidas, em sérios riscos em função do fanatismo adstrito ao fundamentalismo religioso. Assim, esperar uma absorção da cultura mussulmana pela nossa latina de beira de praia é querer o impossível. Mesmo com nosso jeitinho fagueiro fica-me difícil imaginar a rigidez comportamental dos homens e mulheres em uma mesa de negociação ou em uma empresa de tecnologia discutindo e gerando conhecimento.

A título de exemplo, incorporamos os produtos e comidas baratas chinesas, as novelas italianas,  roupagens indianas, as roupas e sandálias japonesas, os esportes, algumas iguarias estrangeiras de outros países e os de lá quem sabe, sem perder suas identidades, absorveram apenas a noção do nosso samba e da mundana festa o carnaval permanecendo com a indefectível impressão de que aqui habitam mais índios, sambistas semi-nuas e jogadores de futebol do que pessoas normais.

O primeiro produto de um intercâmbio comercial é a troca de seus agentes vivendo nas sociedades envolvidas, assim, fica, no caso das tentativas dos oportunos acordos comerciais com o Irã imaginar aquela sociedade abraçando ao receber, executivas brasileiras independentes e desembaraçadas em uma mesa de reuniões falando de igual para igual com homens daquele país.


Tal intercâmbio vem encontrando defensores, pois assim é a visão dos intelectuais pagos pelos cofres da ideologia imaginar, em contrapartida de situação anterior, uma "executiva" iraniana em pleno sol, de , em meio a uma miríade, e não miragem, de "fios dentais" das cariocas símbolo da sensualidade e leveza brasileiras.




Apesar da burca ser um denso e pesado véu comum no Afeganistão e Iraque, ele serve para demonstrar o quanto há de liberdade para mulheres naqueles países onde o Irã se integra. Dessa forma imaginar aquele adereço circulando normalmente em meio a fios-dentais, em piscinas de hotéis e shopping centers sem causar absolutamente nenhuma espécie somente na imaginação fértil dos membros de "intelligenza " brasileira.




Continuo achando conforme um ex-diplomata expressou: O Brasil com o Lula liderando este tipo de política externa, notadamente com o Irã, é o mesmo que atravessar uma movimentada rua em direção a uma poça d'água na outra calçada para nela escorregar feio...É esperar para ver.
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3 comentários:

  1. Muito bom.
    O paragrafo abaixo
    "A título de exemplo, incorporamos os produtos e comidas baratas chinesas, as novelas italianas, roupagens indianas, as roupas e sandálias japonesas, os esportes, algumas iguarias estrangeiras de outros países e os de lá quem sabe, sem perder suas identidades, absorveram apenas a noção do nosso samba e da mundana festa o carnaval permanecendo com a indefectível impressão de que aqui habitam mais índios, sambistas semi-nuas e jogadores de futebol do que pessoas normais".

    Infelizmente è a nossa realidade.
    Confronto com isso sempre.
    O estrangeiro ja tem isso engessado dentro dele a nosso respeito e generalizando nao querem abrir a mente para que provemos o contrario. Alias poucos ouvem, basta dizer que sempre nòs devemos aprender a falar a lingua deles, e quase que devemos falar apenas aquilo que eles perguntam.
    Eu acredito realmente que nossa mistura de raças deixou perdido pelo meio do caminho um pouco do nosso brio por brigar pelo que è nosso.
    O brasileiro se vende e se rende muito facil.
    Claro que existem as exceçoes, porem, em minoria.
    Somos quase sem identidade num pais onde as mesmas se misturam cada vez mais.
    A Italia esta caminhando pra isso, porem ainda resiste.
    Abraços irmao

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  2. Na França o uso de véus integrais vem provocando grande polêmica...

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/01/100107_burca_franca_df_np.shtml

    Abraços e parabéns pelos textos!
    Aurora

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  3. " (...) os de lá quem sabe, sem perder suas identidades, absorveram apenas a noção do nosso samba e da mundana festa o carnaval permanecendo com a indefectível impressão de que aqui habitam mais índios, sambistas semi-nuas e jogadores de futebol do que pessoas normais".

    Parece que, muitos estrangeiros, além de acharem que no Brasil só há índios, sambistas semi-nuas e jogadores de futebol, pensam também que no nosso país tudo é permitido. Muitos vêm apenas pela questão do turismo sexual. Nossas crianças acabam sendo exploradas pelos habitantes daqui e pelos de fora. Muitos que chegam aqui acham que todas as mulheres brasileiras são prostitutas, principalmente as morenas/negras. Pra se constatar isso, basta fazer um passeio por uma dessas avenidas litorâneas movimentadas e observar as atitudes que eles tomam. O pior de tudo é a visão romântica que muitas meninas têm da vida (incluindo até prostitutas) de que encontrará no meio desses um 'príncipe encantado' que vem do exterior, que irá casar-se com elas, ter filhos e as levarem pra outro país onde serão felizes para sempre! Tudo isso e muitos outros motivos alimentam mais uma triste realidade do Brasil.

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